5.11.17

O outono do inverno

Se o dia de hoje fosse diferente dos anteriores é que seria de estranhar. Voltou o Sol, embora mais tímido e cá em casa abriu a época oficial de inverno. 
Ricardo Reis ensina que, na verdade, a estação é o outono do inverno, mas esse não passa de um esquizoide que, apesar de recusar o passado e o futuro, se vestiu de uma cultura vetusta e cansativa - Para quê aprender grego e latim, estudar os clássicos, imitar Anacreonte, Píndaro e Horácio, e sobretudo, apostar num epicurismo triste e decadente?
O melhor mesmo é o silêncio, mas não sei o que é feito da moira Átropos... O óbolo já está preparado...

4.11.17

Na arca de Fernando Pessoa mora um homem menor

«Se pretendêssemos terminar com uma frase a propósito, diríamos que a heteronímia de Fernando Pessoa se condensa numa palavra: esquizofrenia.»
(...) 
«Todavia que as extremas do campo das letras, e do campo da medicina sejam respeitadas nas suas legitimidades. Esta condição é absolutamente imprescindível para a leitura correta e inteligente dos escritos pessoanos
                        Mário Saraiva, O caso clínico de Fernando Pessoa, Universitária editora, 1990

De acordo com Mário Saraiva, a arca deveria ter ficado por abrir... porque lá dentro se encontra um homem menor, paranoico e esquizofrénico
De acordo com Mário Saraiva, só Mensagem dignifica o autor.
De acordo com Mário Saraiva, os  estudiosos que proponham qualquer interpretação da obra que não leve em conta a demência, a despersonalização esquizofrénica de Fernando Pessoa, não são pessoas sérias...
Eu, por mim, já proibi os meus alunos de irem além da interpretação dos textos, esburgando-a de qualquer avaliação clínica do Poeta... Caso contrário, proponho que se retire a Odisseia do cânone ocidental, pois nada sei de Homero...

3.11.17

Sempre que me refiro ao Cardeal...

Sempre que me refiro ao Cardeal faz-se silêncio. Não entendo.
Afinal, sua Eminência não tem o dever de pedir (ordenar) aos presbíteros que movam o olhar dos crentes para as nuvens cinzentas que atravessam os céus! E que orem para que as águas divinas se abatam sobre nós, ímpios incendiários que nunca aprendemos o verdadeiro significado da sarça ardente...
Creio que o Cardeal da sua Torre altaneira tem uma visão distinta da dos meteorologistas, pois, como é sabido, estes enganam-se facilmente...
Talvez o silêncio tenha origem no facto de ser um daqueles ímpios que nunca compreendeu nem o pastor nem o rebanho. E não é por falta de aplicação!
Aborrecem-me os cardeais que insistem em recorrer a receitas antigas, como tem vindo a ocorrer com o novíssimo (?) António Damásio que, sem qualquer tipo de reverência, vem citando Fernando Pessoa, sem lhe mencionar a graça...

2.11.17

O Poder e a chuva

Estou a pensar na infalibilidade de certos sacerdotes, mal rogaram aos crentes que começassem a rezar, desatou a chover. Abençoados sejam e que a chuva se mantenha!


Em certos romances de Pepetela, a sorte do Rei joga-se na sua capacidade de fazer chover. Os conselheiros do Rei esclarecem-no ou confundem-no quanto à probabilidade de os céus se abrirem nem que seja em pequenos charcos... E claro quando a chuva cai, é a festa no povoado e a consagração do monarca...

Em Portugal, morto o Rei, nem o Presidente nem o Primeiro-Ministro se revelam capazes de fazer chover. Deve ser por isso que o Presidente aproveita todas as lágrimas do povo, enquanto que o  Primeiro-Ministro recolhe ao Gabinete, temeroso que o poder lhe escape definitivamente...
No entanto, na sombra, move-se o Cardeal, que não pode perder a oportunidade de mostrar que a chuva é de origem divina,... e eis que a chuva abandona o Céu e se derrama sobre a terra portuguesa...
Que a bênção cardinalícia não nos abandone!

1.11.17

Em dia de Todos os Santos

Há verbos que utilizamos sem lhes pesar o sentido. São tão banais que nem os vemos nem os ouvimos, mas eles encontram-se em cada eixo verbal...
E o simples facto de os enunciarmos define o modo como cada um de nós se relaciona com o predicado, isto é, com o ato enunciativo ( a modalidade)
Vejamos, os verbos dever e querer, por mais vinculativos que possam ser, apontam para a virtualidade - nunca sabemos se o que desejamos, de forma mais ou menos coerciva, será realizado... Os verbos poder e saber, cada vez mais postos em causa, continuam a marcar a atualidade. Os verbos ser e fazer dão corpo à realidade... o problema é que dificilmente resolvemos o problema da identidade e do sentido da ação...

Como é que em dia de Todos os Santos, começo a perorar sobre modalidades, que não as desportivas? Pelo simples motivo que um santo menor, mas com vontade de ser maior - Rui Santos - acaba de dizer em voz alta aquilo que é sonho de muitas vozes caladas: Pode estar em causa a descida de divisão do Benfica...
Pode marca a atualidade, marca a vontade justiceira de Rui Santos, mas está longe de corresponder à realidade.

30.10.17

Não vou arregaçar as mangas!

Não vou arregaçar as mangas! Já ando com elas arregaçadas há demasiado tempo...
Agora que até a Igreja pede que chova é que o Presidente quer que arregacemos as mangas, o homem parece andar de candeias às avessas...
Não sei se a Igreja ainda organiza retiros, mas seria bom que o fizesse e convidasse o senhor Presidente, não para perorar, mas para meditar em silêncio...
No caso, talvez chovesse e eu me visse obrigado a arregaçar as calças.

Entretanto, parece que os revolucionários catalães já andam a tratar do estatuto de refugiados políticos em Bruxelas. Esses nem necessitaram de arregaçar as mangas... Em Bruxelas, quem diria! Ainda se fosse na Coreia do Norte!

29.10.17

E se o edifício do Liceu Camões vier abaixo...

O Diretor teme que as obras só tenham início em 2019. 
Eu temo que o OGE 2018 esqueça mais uma vez o edifício do Liceu Camões. Provavelmente, lá constará uma verba  de 350.000 euros para estudos e projetos!
Há quantos anos andamos em estudos e projetos? Quanto é que já foi gasto em estudos e projetos? Há sempre alguém a ganhar com este tipo de impasse!

E se, entretanto, o edifício vier abaixo com inevitáveis perdas?
Lá teremos a ladainha costumeira. De pouco servirá, então, apurar responsabilidades, indemnizar quem de direito...
A responsabilidade é de ontem, é de hoje. Espero que não venham a responsabilizar o arquiteto Ventura Terra, pois, ao contrário do que pensa o atual Presidente, a culpa não é do país, é do estado que não cuida do nosso património...

E se os governantes não estão à altura, o melhor é dispensá-los...