11.6.18

Obras de milhões no Camões

Liceu Camões vai receber obras de milhões Que belo título!
A notícia há muito esperada, mas o título surge envenenado:

O concurso internacional para as obras no Liceu Camões, em Lisboa, que espera há anos por uma intervenção, vai avançar até ao final do mês e envolve um investimento de 12,46 milhões de euros, segundo o Ministério da Educação.

Apesar de tudo, esperemos que a obra não encalhe nas manobras da geringonça...

10.6.18

Recanto

Jardim da Gulbenkian
«Je veux savoir si je puis vivre avec ce que je sais et avec cela seulement. (…) Je veux seulement me tenir dans ce chemin moyen où l'intelligence peut rester claire.» Albert Camus, Le suicide philosophique.

A formulação tranquiliza, mas a verdade é bem mais cruel: vou ter que viver com o que nunca chegarei a saber, desejando que a inteligência me ajude a encontrar os recantos mais aprazíveis, onde possa afastar-me da prepotência da tirania das horas e dos ditadores do momento...

9.6.18

Portugal fora da rota angolana

Se alguma coisa ficou demonstrada pela viagem de Estado do Presidente angolano à Europa, que passou também por Espanha, embora aqui a título não oficial, é que na nova era da política externa angolana Portugal não estará no epicentro. Portugal não é importante para Angola

Angola precisa de capital, de investimento.
Portugal precisa de exportar "trabalhadores", uns mais classificados do que outros, é verdade. Mas será que chega? 
Não. Sem capital, não há investimento, não há trabalho.
O que falta a Portugal é capital. Porquê? 
Porque uma boa parte dos recursos financeiros tem sido desviada para alimentar o hedonismo das novas elites portugueses e angolanas…
Porque, apesar do que se propagandeia, a cultura lusófona mais não é do que propriedade de uns tantos literatos bem instalados…
Porque é difícil libertarmo-nos da ideia imperial de uma variante europeia normativa da língua portuguesa.
Porque na era da globalização, não é assim tão difícil mudar a língua oficial - o inglês é a língua do capital. Ou será que há outra?
Porque, no passado, não soubemos tratar os povos angolanos como "iguais" e, no presente, não nos conseguimos libertar de múltiplos preconceitos que não é necessário enunciar.

8.6.18

A confidencialidade de Jesus

Jorge Jesus revelou esta sexta-feira numa palestra promovida pelo International Club of Portugal a existência de uma cláusula de confidencialidade que o impede de falar sobre o Sporting.Pai, afasta de mim…

Jorge Jesus está impedido de falar do Sporting, isto é, do que se passou nos últimos meses, designadamente em Alcochete. Por quem?
Será que se a Justiça o convocar, Jesus se recusará a falar em obediência a tal cláusula? 
Por este andar, o Redentor ainda acaba no Inferno, a não ser que se converta ao Islamismo, onde, como se sabe, esse tipo de cláusula pode ser objeto de 'fatwa' que o liberte do anátema cristão…

7.6.18

Taciturno

Sobre Tácito, sabemos muito pouco. Até o apelido familiar pelo qual hoje é conhecido (Tácito/Tacitus) é um adjetivo que exprime algo como não manifesto, não expresso, reservado. O que podemos afirmar sobre a sua biografia e personalidade são em parte conjeturas que resultam do cruzamento de dados soltos entre a história do seu tempo e a sua própria obra histórica. Provavelmente nasceu em meados dos anos 50 d. C.; foi senador e chegou a cônsul (em 97) e procônsul da Ásia (110-113); fez parte da elite social e económica da Roma do Principado e alcançou o topo político que a sua época lhe oferecia. Abandonou a administração imperial para se consagrar inteiramente à História. Tácito


(De Cornelii Taciti, conservo a obra De origine et situ Germanorum, cuja leitura há muito abandonei, mas que volto a folhear…e verifico que tempos houve em que dei muita atenção aos lugares e aos costumes dos povos germanos…tudo em Latim)

Por estes dias, prefiro a reserva a pronunciar-me sobre as manobras em curso… Prefiro até revisitar Tácito, mesmo que a tarefa me imponha o recurso continuado ao dicionário…

6.6.18

No dia em que fui de férias

Neste dia 6, terminei mais um ano letivo. A opinião pública dirá que entrei de férias, indiferente ao período de avaliações que amanhã se inicia e ao período de exames que se avizinha e cujo termo está marcado para 31 de julho…
De qualquer modo, as boas almas não se cansam de me desejar "boas férias" e perguntar se volto para o ano, quer dizer, se, depois das férias, não me aposento…
O ano letivo que agora termina foi cansativo - um novo programa e novos alunos em fase de conclusão de ciclo. 
A verdade  é que me é difícil persuadir os alunos (nem todos, felizmente!) que ainda há qualquer coisa que, todos, podemos aprender. A dificuldade é fruto do convencimento de que temos ideias sobre tudo e que as nossas ideias são tão válidas como as alheias, mesmo que todas juntas não tenham qualquer préstimo…
Conceber uma ideia, experimentá-la, avaliar a sua pertinência não faz qualquer sentido para quem se habituou a "achar" que as ideias são inatas, e como tal de nada serve procurar-lhes a raiz, seguir-lhes o desenvolvimento, situá-las  e confrontá-las... 
No dia em que vou de férias, lembro-me sempre do Bexiguinha (Aparição, V.F), pronto a testar a sua natureza divina, pois há sempre quem tenha a ideia de que, injustiçado, o melhor a fazer é proclamar a sua superioridade inteletual, o seu insuperável desdém...

5.6.18

A verdade da aranha

«En psychologie comme en logique, il y a des vérités mais point de vérité.» Albert Camus, Le raisonnement absurde.

Indignar-me, só no momento. Não tenho tempo para mais. É por mais evidente que a soma da verdade de cada um não perfaz a Verdade. Nem ela é possível ou, em último caso, não está ao meu alcance…
Mais sossegado, avanço na teia, calibro todos os nós que a constituem, na esperança que ela não desfaça a minha verdade do dia - cada indivíduo merece uma oportunidade, mesmo se cretino…
E para que o meu sossego não se desmanche, por favor, não me falem em nome da Verdade e muito menos em nome da Justiça!