22.11.18

Doravante, só os estilhaços

Doravante, Caruma autonomiza-se do Facebook. Por uma questão de dependência vê-se, no entanto, obrigada a continuar associada ao Google+... 
Se houver quem se interesse por ela, certamente que a encontrará sem qualquer estímulo externo… Caruma nunca quis lançar as bases de qualquer religião, porque, por princípio, não aspira ao divino. Caruma mais não é do que uma tentativa de aproveitamento do que sobra da fragmentação do espelho primordial… surgiu como expressão de quem entende que os estilhaços também podem ganhar vida própria e não como rememoração de qualquer nostalgia matricial…
… quem diz os estilhaços também podia dizer os cacos… 

21.11.18

São réplicas

As velhas existem. Não são ficção nem meninas…
As velhas acreditam, detestam manipansos e nunca lhes explicaram que todos os ícones são manipansos e mesmo que lhes tenham explicado que só a solidão justifica a fé numa qualquer religião - única para elas -, elas preferem colocar-se nas mãos do IGNOTO … e imaginar-lhe um rosto, porque a abstração não se dá bem com os medos que lhes perturbam as horas…
Estas velhas vivem da fé, mas podem desprezar a caridade…  ou praticá-la em benefício próprio se o ato se nutrir da esperança de que o Manipanso as acolhe no seu regaço… 
Se me perguntarem se estas velhas são eternas, eu responderei que sim porque as réplicas, mesmo se meninas, não me deixam mentir…
Se me perguntarem se estas velhas são velhos, eu responderei que isso é ficção.

20.11.18

Sacudir a água do capote

Quando chove, a culpa é da chuva, quando não chove, a culpa é da seca... Quando a terra abate, ninguém assume a culpa - ainda no dia anterior tudo estava  seguro até porque ninguém avisara…
Ninguém avisara nem o autarca perguntara ou decidira ler os relatórios produzidos nas últimas décadas e que já tinham servido ao Governo Central para se descartar de responsabilidades em nome de políticas de descentralização, de modernização e de pretensa democratização…
É assim em todos os pilares do território - da rede viária e ferroviária à educação; da saúde à energia e à agua… 
A chamada delegação de competências é uma farsa demagógica, pois não assegura os necessários recursos financeiros e, em particular, não gera competências locais… somente faz crescer o compadrio e o caciquismo...

19.11.18

Para fugir da obnubilação...

Para fugir da obnubilação, acena apenas! 
Qualquer outra saída pode tornar-se incontrolável nas palavras e nos gestos. Ainda se fosse seguidor de Marinetti, poderia recorrer à bofetada e ao soco e ter futuro, mesmo quando só o Momento importa(va)…
De facto, há momentos em que a obnubilação parece querer tomar conta da situação - a consciência e o pensamento começam a perder nitidez… No entanto, ainda há uma 'voz' que impõe rédea curta, mas até quando?
Um destes dias, restará apenas um patético aceno para não borrar definitivamente a pintura…

18.11.18

Acena apenas!

Se lemos e o dizemos pouco importa. O que pensamos nada acrescenta, mesmo o que sentimos é falso e justo, pois como saber se (não) fingimos…
Talvez por isso o ideal seria ir viver para a encosta e de lá contemplar o vale e acenar a quem passa…
E nada dizer, mesmo que sintamos vontade de explicar, de começar do princípio, da matriz (do latim matrix, - cis) - anula esse ímpeto e acena apenas!
- Foge do Grego e do Latim! Abomina os clássicos! Passeia-te com os românticos e voa, voa com os nefelibatas e não sonhes com os surrealistas! Despreza os modernistas de todos os ismos! Acena apenas, mas bem longe dos pós-modernistas…
- Acena apenas lá da encosta para o vale, acena sem lágrimas nem sorrisos e, sobretudo, sem rimas...

17.11.18

Alexandre Vargas, nota imperfeita

Vargas, Alexandre (1952-2018). Filho mais novo do poeta José Gomes Ferreira, foi encontrado morto em casa no dia 15 de novembro. Poeta e tradutor.
De poesia publicou «Morta a sua Fala», «Cyborg», «Vento de Pedra», «Lua Cisterna», «Organum», além de ter participado em antologias, cadernos, etc. Traduziu os músicos-poetas Peter Hammil e Patti Smith
Sintra ocupa um lugar especial no seu imaginário.

Marcado pelo universo pós-simbolista e modernista, e sobretudo pelos fantasmas de Antero, Pascoaes, Sá-Carneiro, Álvaro de Campos e José Gomes Ferreira, é essencialmente um poeta visionário que exprime a conflitualidade interna de uma mitologia pessoal dividida entre um passado naturalista e um futuro cibernético. [...] Poeta que traduz o visionarismo da sua epopeia lírica numa discursividade a um tempo meditativa e narrativa, tecnicamente neobarroca, sustentando a retórica da imagem e os seus efeitos oniristas em mecanismos surrealizantes, mas por vezes cedendo perante a construção alegórica, exibe nas suas criações mais recentes uma forte atracão pela temática luciferina e por um experimentalismo formal vazado em enumerações caóticas, neologismos telescópicos, sinestesias e misturas polifónicas que provocam em certos ângulos uma impressão estética muito próxima de um Ângelo de Lima na sua faceta pré-joyciana. (Palavras de Luis Adriano Carlos, o antologiador de "Poesia Digital - 7 Poetas dos Anos Oitenta".)

16.11.18

Os fumos da Índia

As folhas outoniças dos plátanos encobrem os azulejos da fachada em frente. O som de uma  vassoura move as beatas interditas e os veículos circulantes escapam-se a meio da tarde desta ensoleirada sexta-feira. Em fundo, uma sirene dá conta de uma enfermidade de última hora… 
Por baixo, adivinhado, o patrono prepara-se para acolher mais uma ilicitude em nome de uma campanha contra os fumos, que não da Índia…
É melhor ficar por aqui, não vá eu, um destes dias, referir-me aos "Fumos da Índia" e solicitar uma nota breve sobre o modo como o Poeta os denunciava n'Os Lusíadas… ( A verdade é que não me atrevo a questionar os "jovens sábios" do momento… até porque a Índia está agora tão cerca. )