27.11.18

Na Biblioteca do lyceu camões...

O poeta, tolhido, dói-se em versos e
carpidos (A. S.)

Hoje, o António Souto oferece-nos as suas "Palavras Inadiáveis" - não sei se já com piano - virtuosas, porém, e exactas. 
Os restantes encómios deixo para os cientistas do verso e para os amigos da Hora…

Com o António ando sempre ao contrário… Eu que fui feito para ceder a direita, não por uma questão de respeito mas de jeito - o pescoço tem um qualquer defeito que o impede de volver à esquerda…

26.11.18

Eu não tenho casa em Lisboa

Eu não tenho casa em Lisboa. Fico-me pela Portela…, longe do metropolitano e dependente dos caprichos da carris…ou, em alternativa, refém dos fluxos de trânsito…
Tenho, todavia,  uma porta de saída aérea, mas que de pouco me serve pelo motivo de não ter casa em Lisboa…

25.11.18

Um blogger aculturado

Não é que eu seja um blogger, pelo menos no sentido que lhe é dado atualmente. Talvez me considere um bloguista, apesar de não gostar de muitas das palavras que resultam do acréscimo do sufixo nominal / adjetival - ista... 
A verdade é que espero que o Benfica não esteja a preparar-se para me acusar do que quer que seja, até porque eu não guardo informação de ninguém que seja do Benfica… nem para o bem nem para o mal.
No entanto, o simples pensamento de que o 'inimigo das águias' seja um, ou mais bloggers, levou-me a apurar o significado do termo.  
A origem estará no conceito (?) weblog - web /rede + log / registo de atividade - configurando, assim, um novo empréstimo linguístico para a expressão "diário online", ou melhor, diário em linha, um empréstimo resultante de uma amálgama

(Para os mais avançados: bloggersomeone who writes a blog (= a regular record of someone's ideas, opinions, or experiences that is put on the internet for other people to read).) 

Em conclusão, mais uma ideia sem qualquer interesse, a não ser que haja alguém à procura de evidências de aculturação.

24.11.18

Aquém da ironia

Aquém da ironia, a incontornável realidade distingue a coragem de enfrentar os obstáculos, mesmo que o desfecho possa ser trágico, de quem, apesar de reconhecer a necessidade da luta, prefere o comodismo do sorriso, da sobranceria inteletual…
Vem isto a propósito do quê? 
Da facilidade com que nos refugiamos na ironia, ostentando-a como atestado de superioridade em lugares inundados pela estupidez…
E em rodapé, não posso esquecer que acabámos por preferir Eça de Queirós a Antero de Quental - cultivamos a ironia porque ela nos permite esquecer / esconder a realidade...

23.11.18

Para além da ironia de Álvaro de Campos

«Maravilhosa gente humana que vive como cães,
Que está abaixo de todos os sistemas morais,
Para quem nenhuma religião foi feita,
Nenhuma arte criada,
Nenhuma política destinada para eles!
Como eu vos amo a todos, porque sois assim,
Nem imorais de tão baixos que sois, nem bons nem maus,
Inatingíveis por todos os progressos,
Fauna maravilhosa do fundo do mar da vida!»
Álvaro de Campos, excerto de Ode Triunfal

O Poeta canta o triunfo da vida moderna, fruto da ciência aplicada, do êxodo dos campos, da multiplicação das cidades, da morte da pessoa e, sobretudo, da ilusão tecnológica
O Poeta celebra o mundo novo, todo ele artifício, apoteose da humanidade, mas do qual uma grande parte da espécie humana é escorraçada… uns dias, essa parte é infrahumana, outros, precária, tornando-se larva…
Por isso, é indesculpável que se veja apenas ironia na apologia da vida moderna.

«Ah,e a gente ordinária e suja que parece sempre a mesma,
Que emprega palavrões como palavras usuais,
Cujos filhos roubam às portas das mercearias, 
E cujas filhas aos oito anos - e eu acho isto é belo e amo-o! -
Masturbam homens de aspeto decente nos vãos de casa.»
Álvaro de Campos, excerto de Ode Triunfal

Cem anos depois, o que é que mudou? Talvez, a apropriação momentânea pela religião, pela arte e pela política…

22.11.18

Doravante, só os estilhaços

Doravante, Caruma autonomiza-se do Facebook. Por uma questão de dependência vê-se, no entanto, obrigada a continuar associada ao Google+... 
Se houver quem se interesse por ela, certamente que a encontrará sem qualquer estímulo externo… Caruma nunca quis lançar as bases de qualquer religião, porque, por princípio, não aspira ao divino. Caruma mais não é do que uma tentativa de aproveitamento do que sobra da fragmentação do espelho primordial… surgiu como expressão de quem entende que os estilhaços também podem ganhar vida própria e não como rememoração de qualquer nostalgia matricial…
… quem diz os estilhaços também podia dizer os cacos… 

21.11.18

São réplicas

As velhas existem. Não são ficção nem meninas…
As velhas acreditam, detestam manipansos e nunca lhes explicaram que todos os ícones são manipansos e mesmo que lhes tenham explicado que só a solidão justifica a fé numa qualquer religião - única para elas -, elas preferem colocar-se nas mãos do IGNOTO … e imaginar-lhe um rosto, porque a abstração não se dá bem com os medos que lhes perturbam as horas…
Estas velhas vivem da fé, mas podem desprezar a caridade…  ou praticá-la em benefício próprio se o ato se nutrir da esperança de que o Manipanso as acolhe no seu regaço… 
Se me perguntarem se estas velhas são eternas, eu responderei que sim porque as réplicas, mesmo se meninas, não me deixam mentir…
Se me perguntarem se estas velhas são velhos, eu responderei que isso é ficção.