12.3.20

E por agora, alguém é toda a gente

A luz frontal provoca-me dor de cabeça. Sempre que o inverno se aproxima do termo, começa a enxaqueca.
Verifico a tensão arterial e ela tende a subir, o que me leva a pensar que essa subida é a causa da dor de cabeça. Tomo o medicamento estabilizador, e a descida é ténue, sem eliminar o mal-estar. Desconfiado do efeito, leio a bula e descubro que o medicamento também pode provocar dor de cabeça.
E depois viro-me para a velha sinusite que aprendi a associar às alergias. Combato-a com um anti-histamínico... (Durante o sono não tenho dor de cabeça, creio.) O efeito é temporário!
Agora dizem-me que um dos sintomas do COVIDIS 19 é a dor de cabeça., a qual, perante a informação, começa a andar à roda...
Procurando afastar a ideia de que possa estar a ficar hipocondríaco, meço a temperatura: raramente ela chega aos 36 graus. E depois, há a tosse e os espirros e apercebo-me que deixei de tossir e de espirrar... só que tal não me tranquiliza - afinal, este ano a médica de família sujeitou-me à vacina contra a gripe - temo que ela mitigue os sintomas... e neste caso, gostava que a situação fosse menos ambígua.
Por mais que me indague, não sou capaz de determinar a causa da dor de cabeça que, ultimamente, se agrava sempre que alguém se pronuncia sobre matéria que desconhece. E por agora, alguém é toda a gente...
De momento, estou nesta sala, sozinho, sob o efeito de seis lâmpadas fluorescentes, os óculos colocados de parte, à espera que a dor de cabeça desapareça. Entretanto... as escolas vão fechar a partir de segunda feira até ao final de março... e eu fico sem regresso e, certamente, com a velha dor de cabeça que, espero, incomode o menos possível...

11.3.20

Tanta vida por um fio...

Tanta vida por um fio - até a minha! - e eu por um fio espero a decisão. Está prometida para o dia doze e, de repente, quem sabe, outra decisão pode prolongar o anseio de sair desta vida para… e esse é o lado fascinante da questão: ainda não tracei o rumo, sim, porque sem caminho é só desorientação…
E com tanto fio, talvez o melhor seja seguir a lição da sardinheira…

8.3.20

Há sempre uma árvore

Quando a tensão sobe e a enxaqueca se instala, saio antes que a irritação assente arraiais…
Enquanto caminho, sossego. Há sempre uma árvore que desvia a minha atenção do desaforo comunicacional em que qualquer cidadão dá palpites sobre o que não sabe e, sobretudo, aproveita para ajustar as contas de uma casa em que todos ralham e ninguém tem razão.
A árvore que encontrei no meu desvio obriga-me a pensar na cor que não sei definir e na leveza do seu existir - apetece-me ser árvore.

7.3.20

Não matem a esperança!

Figos de Março
Gosto desta figueira. Não espera pela chegada da primavera e, para nos surpreender, esconde a flor… Indiferente às abelhas e às borboletas, parece apostada em dizer-nos que há outros caminhos, mesmo que, no final do ciclo, os frutos não satisfaçam a nossa expectativa.
No jardim Almeida Garrett, esta figueira contraria a lição do Poeta - das Flores sem Fruto.
Para mim, esta figueira frutifica para nos lembrar que não devemos matar a esperança, mesmo que os frutos não cheguem a cair de maduros…
(…)
A esperança, no entanto, não deve ser cega. Melhor seria que não esperássemos pelo calor para combater o COVID 19... 

5.3.20

Quem vê caras...

Lisboa, Rua Filipe Folque
Parece que há uma directiva que exige que certas fachadas sejam preservadas...
Um pouco por todo o lado, as obras vão decorrendo escondidas pelas fachadas...
Por mim, se a obra é nova e nobre, esta deveria assumir o rosto de quem a arquitectou...
Creio que esta decisão de manter a frontaria de certos edifícios, apesar de assegurar a ligação com o passado, esconde outros benefícios para quem investe, desenha e constrói... 
É possível que eu não tenha razão. No entanto, lá diz o povo "Quem vê caras não vê corações.»
Por estes dias de incerteza, dou comigo a observar os rostos e não consigo descortinar-lhes os segredos. Fechados, os rostos e os segredos.

4.3.20

A incerteza

À sorte e ao azar, há agora que acrescentar a incerteza…
Já não é tanto o Fado que preside à vida individual e coletiva…são mais as escolhas,  que fazemos e que nos habituámos a considerar seguras, que, num ápice, podem escancarar-nos a porta da dúvida e do medo.
Assim, passamos a suspeitar de tudo e de todos, avançamos sem saber se em cada esquina vamos encontrar um amigo ou o inimigo…
De qualquer modo, a incerteza sempre foi o caminho. 

1.3.20

Março, marçagão...

Entrámos em março, mês que, hoje, não confirma a tradição. Cumpre quanto ao inverno, mas esqueceu-se do verão...
O COVID-19 expande-se alheio às fronteiras, tal como os migrantes rompem o arame farpado, mesmo que novos muros os esperem, numa luta de morte...
O COVID-19 e as hordas de migrantes são a expressão de territórios de exploração intensiva de recursos... 
E nós? Nem o Medo nos faz repensar o caminho...
Março promete sol e vida, mas hoje não!