11.9.20

Matar a memória


Há quem necessite de confessar, mas longe do confessionário, sabendo todavia que esse é o único lugar onde a partilha está favoravelmente proibida - uma confissão sem auditório! 
No entanto, esse lugar apaziguador não serve de nada, porque deixou de se acreditar no perdão divino e se  teme, em simultâneo, a condenação dos homens incapazes de analisar as situações… Homens sem ou com demasiada memória!

Por isso mais importante do que enterrar o passado é preservar a palavra, é não a partilhar…

8.9.20

A alga

 






Arrancada ao mar, a alga jaz na praia. Desafiada pela sombra, não resiste, porque espera uma onda que a devolva à origem e a liberte da intrusão…
A onda levou o Vicente Jorge Silva e eu vejo-me mais pobre, porque sempre apreciei a sua forma de pensar, a sua coragem… o seu combate contra os tiranetes.
Enquanto a onda não regressar, vou continuar a ler, mas vai ser difícil encontrar quem ainda saiba pensar, quem ainda saiba combater os tiranetes nas ilhas e no continente...

5.9.20

Com ponte


Para que serve a ponte, se mais não fazemos do que repetir as mesmas frases, sem ter consciência de que vivemos num rio de equívocos?
Atravessamos o rio, mas ignoramos o tabuleiro. Podemos até valorizar o veículo, indiferentes à água que banha os pilares; preferimos as caravelas que se erguem dos telhados de Lisboa…
Metálicas, as caravelas já não reparam nos corvos, absortas que andam com lugares que de tão comuns só servem para destruir as pontes…

2.9.20

A Lua


Hoje, pensava escrevinhar sobre a melancolia em idade avançada, e na tendência para exaltar experiências vividas ainda não há muito tempo…
Escrevinhar sobre o afastamento do 'aqui-e-agora'- e da tristeza inerente com a inevitável condenação do presente…
Todavia, esse estado decadente pode ser mitigado, desde que estabeleçamos um objetivo prático - a lição é do velho Freud!
Eu, por exemplo, resolvi estudar alemão. A sério! Quero ler o original e não sentir que estou a ser traído…
Só que a Lua decidiu interromper-me as toscas ideias.
Ela lá saberá porquê!

31.8.20

"Pura gelatina política"


Os filósofos podem ser cansativos, no entanto há que não desesperar, pois alguns acabam, efemeramente, por se dedicar à política, mesmo se da Cultura… Refiro-me a Manuel Maria Carrilho, cuja obra vou percorrendo com algum vagar - PENSAR O MUNDO, vol. I

Na página 818, encontrei a seguinte pérola:

«... ao contrário do PSD que é permanentemente ziguezagueante, com Marcelo Rebelo de Sousa a apresentar uma política de manhã e outra à tarde. À noite, em geral não tem nenhuma, porque está a pensar na do dia seguinte: Marcelo é, do meu ponto de vista, pura gelatina política.»

Ambos, Manuel Maria Carrilho e Marcelo Rebelo de Sousa, atribuem supremo valor à política cultural, mas… Ambos são cultos, mas… vivem em estado líquido.

28.8.20

O futuro

 

L'avenir n'est plus ce qu'il était. Paul Valéry

Era esperança, solução. Era vida!

Hoje, fechou-se a janela…  É um ponto de fuga, numa estação de serviço ocupada por mutantes…

Todos querem ser bruxos e curandeiros, dispondo da vida a seu bel-prazer…Enredados, pensamos que caminhamos, mas não - alcatruzes de uma nora de outrora, falhámos o pomar e, embora oiçamos a ave, deixámos de a ver...

Quanto à Festa do Avante, continuo a não ter nada a dizer, embora não perceba a preocupação da rapaziada do CDS - lembra-me aqueles jovens da linha de Cascais que, logo a seguir ao 25 de Abril, vinham atacar os alunos do Passos Manuel.