9.12.21

A mentira e a corrupção

 

As estatísticas vão engrossando, não faz mal, é a vontade do Senhor dos Tempos...

Ai a Idade! Para onde vão todas as Idades?

A  Mentira, cheia de compaixão, diz que seremos bem acolhidos e, sobretudo, libertados da solidão, da doença, da decadência do corpo - as almas elevar-se-ão à espera da ressurreição!

A verdade é que gostamos da Mentira, já não sabemos viver sem ela. E por estes dias, celebramo-la princepescamente...

E ainda há quem queira combater a corrupção, como se esta não fosse uma das faces da Mentira.

6.12.21

Esperamos, todos os anos

 


Esperamos que as luzes se acendam, mas para quê se nada muda?

Se ainda reconhecêssemos que vivemos na escuridão, talvez a espera  fizesse sentido, talvez a estrela nos pudesse sinalizar o caminho…

Quais magos, procuramos o reinício, mas sem ter consciência do caminho que seguimos…

Deixamo-nos embalar, deixamo-nos cativar… sem perceber que é tempo de romper com a inação…

de romper com a decadência.

3.12.21

O passageiro

 

«A ideia do além, do mundo-verdade foi inventada apenas para depreciar o único mundo que existe - para destituir a nossa realidade terrestre de todo o fim, razão e propósito!» Frederico Nietzche, Eu sou uma fatalidade, Ecce Homo.

Confesso que este alemão, que detestetava alemães, nacionalistas, e parecia apostar no homem europeu, me tem dado que pensar, sobretudo no que se refere ao peso da moral cristã no alastrar da cegueira humana...

Ao tomarmos como a válida a ideia de que todos estamos de passagem, estamos, afinal, a matar a a nossa razão de ser: criar. Deixamos a criação aos deuses e vamos arrastando os pés para o nada, ou, em alternativa, para o além, com maior ou menor compromisso.

Não fosse o servo cabrita ter desabafado que naquele carro mais não era que um passageiro, eu não teria tido a coragem de, no fervor natalício, me pronunciar sobre o mal-estar civilizacional em que mergulhámos - vamos lá celebrar o Natal, pouco importa se a morte chega em janeiro!

De passagem,  o condestável cabrita só terá de prestar contas ao criador que, certamente, terá em conta os serviços prestados...

28.11.21

Talvez pudesse...

Talvez pudesse debruçar-me sobre a situação política… para quê? Afinal, todas as formas de populismo me enojam. O que é que sobra?

Talvez pudesse debruçar-me sobre a situação futebolística… para quê? Afinal, todas as explicações me parecem absurdas. Já me estou a imaginar a entrar em campo com sete vizinhos amadores só pela glória de defrontar os craques aquilinos! 

Talvez pudesse debruçar-me sobre as vítimas da pandemia… para quê? Afinal, se me puser a jeito, dificilmente escaparei à inevitabilidade.

O melhor é ficar-me por aqui, e regressar à leitura do Ecce Homo, de Frederico Nietzsche, mas só ao entardecer, pois é recomendável «Estar o menos possível sentado; não confiar em ideia alguma na qual os músculos não tenham festiva parte. Os preconceitos nascem dos intestinos. A sedentariedade (…) é autêntico pecado contra o Espírito Santo.»

24.11.21

Uma nova obra de António Souto


Os mais preocupados perguntam hoje: Como se há de fazer para conservar o homem? Mas Zaratustra é o primeiro e único a perguntar: Como se há de fazer para superar o homem?» NIETZSCHE, ASSIM FALAVA ZARATUSTRA

Perante o título NÃO HÁ VOLTA A DAR - crónicas de ANTÓNIO SOUTO - sinto-me perplexo. Será verdade?

 A lição do passado refresca-nos a memória, alivia-nos da frustração do presente: «Anda um vírus à solta pelo mundo, pelo nosso mundo, agora de repente tornado nosso...» Passámos a expiar os nossos crimes, acreditando na redenção... «até ao dia em que nos sintamos a salvo

Perante a insistente necessidade de conservar o homem (e o planeta...), o Autor mostra-se cético e mordaz porque o conhecimento da realidade é cada vez mais diminuto,  substituido que é por uma inenarrável alienação.

Compreende-se, assim, que não haja volta a dar! No entanto, a história do homem diz-nos que, apesar da miséria que este consigo transporta, ele sempre conseguiu superar os obstáculos, fossem eles a natureza, os deuses ou outros homens...

Só falta ao homem superar-se a si próprio, caminho sempre presente na escrita do ANTÓNIO SOUTO, mesmo que o pessimismo lhe seja peculiar.

(Esta obra foi apresentada pelo António Manuel Venda na Biblioteca da Escola Secundária de Camões no dia 23 de novembro de 2021.)

20.11.21

Não sei...


Não sei se a roda é grande se é pequena, mas que rola, incansável, rola...

Dizem-me que ler é salutar, mas nem sempre a leitura faz bem à mente - há quem leia tudo ao contrário porque lhe convém...

Não sei o que pensar da situação global, eu que mal consigo interpretar o que se passa no meu quintal - se o tivesse!

Não sei se, de facto, o problema atual não é, afinal, uma guerra geracional.... 

Só sei que a roda rola, incansável, rola...

18.11.21

Há atos



Há atos que o melhor é ficarem com quem os pratica, apesar de, muitas vezes, procurem castigar silêncios incompreendidos.

De nada serve amplificá-los, porque a tarde caiu sobre eles, apenas servindo para reiterar a incomunicabilidade num tempo de amizades sonoras e falazes.

Por isso, os atos são brutos e rolam, rolam sem que nada os possa interromper...

(de nada servem, as palavras)