6.2.10

Destroços em Escaroupim

  

Em ESCAROUPIM, o barco era o berço, a câmara nupcial, a oficina e a tumba para os AVIEIROS, oriundos de VIEIRA DE LEIRIA. Em Junho/Julho de 2005, passei por aqui. A estrada melhorou, o restante estagnou. Em tempo de profunda crise, o Tejo corre lamacento; as mulheres, ao sol, conversam ; o homens escondem-se na cantina / centro cultural dos avieiros.

E eu, vou pensando que, um dia, talvez, um Governo decida criar um programa nacional de cultivo de 20% dos campos deste país… Se isso acontecesse, quantos desempregados encontrariam um rumo?

E se limpássemos as margens e  os pegos dos rios? E se reflorestássemos, montes e vales? E se recuperássemos o património?

Será assim tão dispendioso e difícil criar um projecto nacional que aproveite a mão-de-obra disponível?

2.2.10

Rendilhado…

  A poucos metros de distância, a solidez da cor esmaga cúpulas de outrora; a delicada renda aberta liberta o verde da copa… E eu descanso o olhar num mergulho ascensional que me deveria afastar do labirinto em que me deixei enclausurar. Aqui, as regras ficam para trás; o rumor esfuma-se; apenas, sobram resquícios amorosos de livre arbítrio …

(O resto é desencanto, alheamento… enorme maçada.)

30.1.10

Para além do futuro…

 Há o perto e há o longe. Do presente, apenas a proximidade onde se esconde o cemitério anunciado pela forma esguia e gótica – sensações de ausências por explicar. Do passado, seis moinhos perfilados testemunham os destinos breves e desprendidos; ao mesmo tempo, trazem de regresso o atalho e o tojo, o burro e a saca, o moleiro e a mó – farinha e farelo da existência.

Fica a bifurcação, onde, por enquanto, nada passa e que eu percorro só de a olhar.

27.1.10

A chave do Homem…

Por mais hipóteses que coloquemos sobre  o Homem, dificilmente chegaremos a algum lugar se ignorarmos a chave que Camões nos deixou. Podemos vasculhar lugares, linhagens, amores furtivos, brigas noctívagas, simples alistamentos ou desterros, heróicos naufrágios românticos, protectores e detractores, esquecimentos deliberados…, a chave do homem está à nossa mão:
«Nem me falta na vida honesto estudo
Com longa experiencia misturado,
Nem engenho, que aqui vereis presente,
Cousas que juntas se achão raramente».
Camões, Os Lusíadas, X, 154.
E essa chave resume-se à típica tríade camoniana: HONESTO ESTUDO, LONGA EXPERIÊNCIA, ENGENHO.
Como diria Cícero: «doctrina» ou «ratio» ou ainda «ars»; «exercitatio» ou «industria»; ingenium» ou «natura»…
(Se nos inclinarmos um pouco, ainda poderemos acompanhar o Poeta e entreabrir a porta do futuro…)
PS: Não vale a pena invectivar quem não procura a chave ou, então, já a perdeu. A NATURA, não a podemos escolher… e a HONESTIDADE já teve melhores dias.

25.1.10

Dar, ou não, a dica…


  1. Ontem, percorri um troço de cerca de 30 km da N2 e fiquei estupefacto com a degradação daquela estrada nacional. Será que o objectivo é obrigar os automobilistas a procurar a auto-estrada e a pagar portagens? As consequências estão à vista: a desertificação do Alentejo e o isolamento das populações que restam.
  2. Ontem, também, recebi um “comentário” da Xica a solicitar-me uma dica. Diz ela que leu (mas não compreendeu nada!) a peça O RENDER DOS HERÓIS, de José Cardoso Pires. Xica não estudou certamente a História do séc. XIX, designadamente, a governação do Costa Cabral, a revolta da Maria da Fonte e o movimento da Patuleia. Sem esse estudo, dificilmente, poderá compreender a ascensão e queda do populismo. E nada entenderá da pretensão de José Cardoso Pires de retratar o salazarismo dos anos 50-60 do século passado.
  3. «Dar a dica» dar a alguém a indicação que lhe serve para realizar o que pretende.
  4. Um dia destes, ninguém cruzará a Nacional 2! Um dia destes, ninguém lerá O RENDER DOS HERÓIS!
  5. Um dia destes, navegaremos tão céleres que os espelhos embaciarão de vez.

23.1.10

Cores líquidas na barragem de Odivelas

  Na barragem de Odivelas. Longe da cidade caótica, raras são as pessoas; apenas alguns coelhos, surpreendidos, precipitam-se para os juncais. 

22.1.10

As Batalhas no Deserto

O escritor José Emílio Pacheco nasceu na cidade do México em 1939 e cresceu durante a presidência de Miguel Alemán Váldes (1946-1952).

O mandato de Miguel Alemán (Valdés) ficou marcado por um forte desenvolvimento industrial, resultante da aposta na construção de estradas, caminhos de ferro, portos, escolas, bairros de renda económica, e no turismo. As mulheres puderam votar pela primeira vez nas eleições municipais. No entanto, este espírito empreendedor acabou por degenerar no enriquecimento escandaloso dos políticos que negociavam os contratos …  A moeda acabou por desvalorizar provocando a ruína da classe média e dos mais pobres…

A história de amor impossível, entre o jovem imberbe e a misteriosa mãe do amigo Jim, decorre  num cenário de crise moral, social  e económica, resultante da ganância de uns tantos que, sob a capa do desenvolvimento do México, criam fronteiras que muram e asfixiam as classes mais numerosas… Progressivamente, uma elite apropria-se da riqueza… tal como acontece nos dias de hoje, aqui, em Portugal… A descrição da acção de Miguel Alemán não deixa de nos fazer pensar em Sócrates…