20.3.10

Lugar de massacre…

 Sembène Ousmane (1923-2007).
Hoje vi, finalmente, o filme “Camp de Thiaroye(1988), na Biblioteca do Instituto Cultural Romeno.
Em 1944, um batalhão de atiradores de  diferentes religiões e culturas africanas , acantonado no campo de Thiaroye, no Senegal, espera a desmobilização e o pagamento dos serviços prestados à potência colonial – a França. Muitos deles lutaram em França contra a Alemanha nazi, tendo mesmo experimentado os campos de concentração.
No entanto, esse contributo para a libertação da Europa de nada lhes serve, pois acabam numa cova comum, chacinados pelo racismo da hierarquia militar, simpatizante do regime de Vichy.
Um filme que chega a ser divertido porque, apesar do que separa aqueles atiradores africanos, eles acabam por se entender em nome da justiça… É, todavia, um filme amargo e trágico, porque a Europa continua sem considerar África como sua parceira…
Nota: O título “Lugar de Massacre” , lembro-me, agora, é o título de um romance do esquecido Martins Garcia. Talvez valha a pena lembrar, a propósito deste filme, a dedicatória do autor açoriano: «a todas as vítimas da paranoïa e da incompetência dos déspotas, caídas para nada no campo do dever e do absurdo.»

19.3.10

A mentira…

Tenho um livro para ler e não o leio. Em alternativa, vejo um filme baseado numa adaptação da obra… e faço crer que é a mesma coisa, como se fosse possível reproduzir todas as vozes que atormentam o escritor…

Tenho um livro para apresentar na sala de aula e não o leio. Procuro uma sinopse na internet, copio-a e espero que o professor seja tão néscio que ainda bata palmas…

14.3.10

A Processionária…

  Acabo de tropeçar na Lagarta do Pinheiro, vulgarmente conhecida como Bicho da Peçonha.Mata o pinheiro e provoca irritações graves na pele, olhos e sistema respiratório.

Bem me parecia que os congressos e as peregrinações não eram invenção humana… sem qualquer desconsideração pelas formigas. A partir de agora, posso criar novas e herméticas metáforas. E quanto à peçonha que vem atacando os pinheiros, vou passar a associá-la à peçonha que, no século XVI, invadiu as ruas de Lisboa vinda da Ásia e nos tornou definitivamente vítimas da abulia. Ou seria da acrasia?

(Ó meu velho Sá de Miranda tira-me daqui!)

13.3.10

Depois do crepúsculo…

As nocturnas aves apoderam-se do vazio e à desgarrada impõem um cântico estridente em tudo diferente da harmonia do cântico diurno. Nesta passagem, apercebo-me que as palavras e as imagens ficam incompletas sem as vozes da terra e do ar… No sono que se aproxima, talvez o coro se torne uníssono e sonho da noite anterior se desfaça…

/MCG

Sonho de cacifo…

Que eu saiba, os testes ainda se encontram no cacifo, à espera de terça-feira. Só eu tenho a chave, creio… Todavia, por volta das cinco da manhã de hoje, a quatro dias de distância, ao preparar-me para subir a escadaria, por volta das 7h50, dei de caras com o autor de um dos testes, acompanhado do respectivo encarregado de educação. Esperavam-me para me pedir satisfações: eu riscara uma série lexical, pois não considerara correcta a resposta em que B. me obsequiava com uma lista de hipónimos… De facto, como não enxergara nenhum hiperónimo, não entendia a classificação proposta e, sobretudo, não entendia que fosse possível alguém responder a uma pergunta que eu não formulara…

Até hoje, já me acontecera antecipar durante o sono as perguntas de que precisava para um teste. Mas nunca chegara a este ponto. Se terça-feira, B. e o respectivo encarregado de educação, por volta das 7h50, estiverem à minha espera no hall de entrada ver-me-ei obrigado a mudar de vida…

Neste caso, ao contrário do que Urbano T. Rodrigues pensa, nem no sonho é possível encontrar a redenção… Eis o motivo por que eu respeito todos os suicidas e abomino os directores regionais que vêem atenuantes nas «fragilidades psicológicas», como se estas fossem inatas ou capricho dos deuses. 

11.3.10

Pontes…

 Pontes sem alma lançam-se para as margens, jazem sobre o rio barrento, à espera que lhes façam justiça… Tempos houve que pensei que era ponte ou esteio. Quando o desencanto crescia, via-me na margem ou, apenas, orla… Hoje, nem ponte nem orla! Desespero de ouvir os políticos e os mosquitos, e sonho com a enxurrada definitiva que nos liberte da vacuidade e da imbecilidade…

(Na parede do fundo, olhos pueris e de riso escarnecem de mim…)

9.3.10

A culpa não é do Senhor Gulbenkian…

Esqueci-me de dizer que os patos da foto (post anterior) são do Sr. Gulbenkiam. De facto, os patinhos que vivem nos jardins das fundações não são afectados pelo P.E.C. Estas existem para não pagar impostos ou, pelo menos, para reduzir a carga fiscal dos gansos que nelas crescem.

Bom seria que conhecêssemos todos os gansos deste país! O P.E.C. só deveria ser aprovado, depois da lista dos gansos portugueses ter sido colocada online. Sempre poderíamos aproveitar o tempo livre para depenar uns tantos, em vez de sermos todos depenados – os patinhos é bom de ver.