1.4.10

Serpa… outra cal, outra luz…

  De Lisboa a Serpa são 199 km. Metade da distância é olival a perder de vista… aposta de espanhóis e de portugueses que recebem da União Europeia milhões e milhões de euros! Agora que se publicam os prémios recebidos pelos gestores das principais empresas e, também, intermináveis listas dos devedores ao fisco, bom seria se soubéssemos quem são os novos senhores do Alentejo e, sobretudo, qual é o seu contributo para o tesouro nacional.

À margem, ou talvez não, o parque de campismo encontra-se cheio de holandeses, alemães e ingleses que nos procuram não só pelo sol e pela tranquilidade da planície, mas, também, porque o preço da estadia é convidativo.  

31.3.10

O Santuário de Nossa Senhora de Lurdes

O Santuário de Nª Senhora de Lourdes implantado num cabeço na localidade de Outeiro Grande, paróquia de Assentis, Torres Novas, atraiu nas primeiras décadas do século XX elevado número de crentes e peregrinações. Foi um lugar de fé, até ao momento em que as discórdias sobre a sua verdadeira pertença começaram a surgir. Tudo começou em 1908, antes da implantação da República, em 1910, e das aparições de Nossa Senhora em Fátima…
Sempre olhei para aquele local com algum incómodo. Encerrado, sem gente, ventoso, de costas para a Serra de Aire. Certamente construído pelo fervor de uns tantos crentes de Deus e do Rei, o santuário seria um baluarte contra os ateus e os maçónicos… Hoje, voltei a subir o cabeço. Tudo fechado, o mesmo vento de outrora, algum musgo e aves furtivas… Do outro lado da estrada, uma lixeira a céu aberto no país dos sucateiros…
Entretanto, a rádio transmitia da Assembleia da República a missa republicana, onde Sócrates pontificava e exortava os hereges a apresentarem medidas para resolver os problemas do País…, como se ele os quisesse ouvir… Já nem a fé nos salva!
Quanto ao proprietário do santuário, o problema está QUASE resolvido… 100 anos depois! E quanto à lixeira, não se percebe se a ASAI (?) costuma atravessar o concelho de Torres Novas. E quanto à missa republicana, o melhor é desligar o rádio. Pensando melhor, o que me está a faltar é CARIDADE, porque a mensagem de LOURDES é clara: DEUS É AMOR E ELE AMA-NOS TAL QUAL SOMOS. Pelo menos foi o que a Virgem Maria repetiu por dezoito vezes a Bernadette Soubirous, na Gruta de Massabielle. No essencial, o mesmo faz Sócrates quando se dirige aos deputados: EU SOU AMOR E AMAI-ME TAL QUAL SOU.

28.3.10

Escola Secundária Liceu Camões

E se mudássemos o nome à Escola? Passado e presente rever-se-iam melhor na mesma instituição…
(As fotos foram eliminadas, não sei por quem...)

26.3.10

Num país de tenentes…

O delator é uma criatura querida. No Parlamento, sucedem-se as comissões de ética e de inquérito que, inquisitoriamente, procuram a verdade. E já percebemos que elas não funcionam sem delatores e relatores. Mesmo que não queiramos, podemos ser chamados a delatar.
Na comunicação social, já não há, como antigamente, fontes. Agora, há escutas largadas na redacção pelos delatores. E o redactor passa a relator ao transcrever as escutas.
Para que ninguém pense que uma conspiração eclesiástica fez ressurgir o Tribunal do Santo Oficio e os seus vorazes sequazes (os abnegados familiares!!!), o Ministério da Educação decidiu introduzir na escola pública um novo actor: o excelentíssimo relator - mistura de redactor e de controlador /tutor... Trata-se evidentemente de uma atenciosa cedência aos escribas, comissários políticos, directores espirituais, gurus e outros que tais. Anuncia-se, deste modo, uma nova casta que não deixará de ser pasto dos corvos.     

24.3.10

Tenentes…

(Quando os tenentes se insinuam junto dos chefes, os pelourinhos crescem…)

O delator aponta o responsável por uma infracção, com o intuito de comprometer o denunciado, tirando proveito junto do chefe.O relator dá, por escrito, um parecer sobre a acção e a ética de um profissional  para ulterior deliberação do chefe.O capataz é um indivíduo lambe-botas capaz de se fazer ouvir pelo chefe.

Leio o i, oiço a Antena 1, ligo o canal Parlamento, atravesso a rua, desço a escadaria, dormito no autocarro, desperto na areia… e os tenentes, frenéticos, elevam a voz até as minhas sinapses explodirem.

Só não compreendo porquê… eu nunca quis ser chefe de ninguém! Mas se o fosse, teria como regra de vida: a eliminação dos tenentes.


21.3.10

Risonho, o futuro da Esc.sec.Camões



E a propósito, para quem se interroga sobre o futuro da ciência e da poesia, transcrevo ARS POETICA de David Mourão-Ferreira:

Roubado à natureza o dossier secreto
Patente a analogia entre o fundo do poço
o rosto de Narciso    o sangue do incesto
há-de tudo prender-se  aereamente solto
Que o verbo seja um espelho   Ao mesmo tempo um véu
Que não baste   no lago   a pureza do rosto
A lira é com certeza a mão esquerda de Orfeu
Mas é a mão direita a que revolve o lodo.

20.3.10

Lugar de massacre…

 Sembène Ousmane (1923-2007).
Hoje vi, finalmente, o filme “Camp de Thiaroye(1988), na Biblioteca do Instituto Cultural Romeno.
Em 1944, um batalhão de atiradores de  diferentes religiões e culturas africanas , acantonado no campo de Thiaroye, no Senegal, espera a desmobilização e o pagamento dos serviços prestados à potência colonial – a França. Muitos deles lutaram em França contra a Alemanha nazi, tendo mesmo experimentado os campos de concentração.
No entanto, esse contributo para a libertação da Europa de nada lhes serve, pois acabam numa cova comum, chacinados pelo racismo da hierarquia militar, simpatizante do regime de Vichy.
Um filme que chega a ser divertido porque, apesar do que separa aqueles atiradores africanos, eles acabam por se entender em nome da justiça… É, todavia, um filme amargo e trágico, porque a Europa continua sem considerar África como sua parceira…
Nota: O título “Lugar de Massacre” , lembro-me, agora, é o título de um romance do esquecido Martins Garcia. Talvez valha a pena lembrar, a propósito deste filme, a dedicatória do autor açoriano: «a todas as vítimas da paranoïa e da incompetência dos déspotas, caídas para nada no campo do dever e do absurdo.»