25.7.10

Reapreciar…

Desde sexta-feira que reaprecio provas de exame. A tarefa é melindrosa. Sobretudo, porque, a certa altura, deixam de estar em causa as respostas, passando para primeiro plano a qualidade das perguntas e dos critérios de classificação.

E nem vale a pena falar das alegações, sempre cheias de razão…, ignorando, por inteiro, a diferença entre o texto argumentado e o texto digressivo, desconhecendo o que é um argumento e apostando em exemplos descabidos.

Mas esta ignorância não é apenas dos examinandos, ela está inscrita nas instruções das provas de exame, desrespeitando a tipologia textual consagrada nas orientações programáticas do actual Programa de Português.  

24.7.10

Os reizinhos…

Os reizinhos não necessitam de ser eleitos nem herdam o trono. Cercam o poder, sabotam os pilares das instituições e progressivamente impõem os seus interesses. Ao contrário do monarca, educado para servir a colectividade, para exercer o poder em nome dos súbditos, o reizinho está-se nas tintas para o outro; ele é o soberano que abdicou dos vassalos…

Os reizinhos têm, todavia, um enorme defeito. São incapazes de criar o que quer que seja e/ou admirar a obra alheia. E encaixam numa enorme moldura, à espera de serem adulados…


22.7.10

Homo homini rex

Diz Michel Foucault, n’A vida dos homens infames, que cada um, se souber jogar o jogo, pode tornar-se face ao outro um monarca terrível e sem lei.

Todos os dias, nas mais diversas circunstâncias, dou conta desse jogo que, em nome do igualitarismo e da justiça,  dá cabo do empenho e, muitas vezes, do desempenho do outro…

O que fazer?  Desistir ou enfrentar os reizinhos? 

19.7.10

A pedir pasto e cajado…

Ao contrário do que muitos defendem, ninguém faz o que eu faço. Se a ideia de que nada nos diferencia fosse válida, não passaríamos de um rebanho a pedir pasto e cajado.

Eu faço mal, bem, assim-assim. O outro também faz mal, bem, assim-assim. Mas faz diferente. Se tudo fosse igual, não haveria nem EU nem OUTRO, e muito menos TU. Apenas, o solilóquio dos pastores…

Aquilo que nos diferencia vem de longe ou de perto, conforme a idade, a experiência (a aprendizagem formal /informal), o estado de saúde física e mental. Omitir a maturação individual, subordiná-la à vontade do grupo é crime, porque mata o diálogo sobre o modo como resolver os problemas…

Quantas horas perdidas a fazer perguntas já gastas! Quantas frases repetidas sem nada dizer!

Hoje, compreendo bem melhor aquele avô que só soltava a voz após longo silêncio. O silêncio era a sua forma de comunicar. E incomodava porque me fazia pensar. E eu respeitava-o.

18.7.10

O que vemos…

Nem sempre o que vemos dá conta do que percepcionamos. As cores distendem-se até tudo ficar azul. No entanto, a visão sente-se perturbada por um vento agreste que tudo desgrenha como se o Inverno estivesse de regresso.

De qualquer modo, não é esta confusão dos sentidos que mais inquieta. É, principalmente, o despropósito dos comportamentos, a irracionalidade das atitudes…

Claro está que poderia ter descido ao areal…

16.7.10

O Espírito Santo…

O Espírito Santo bem podia baixar sobre algumas cabeças que ainda não perceberam que o combate à flatulência não obriga a uma dieta extrema… (Cuidado que há muita flatulência que não é apenas ventosidade!)

Ser menos infeliz à custa do sofrimento alheio pode trazer um prazer imediato, mas torna-nos mal-humorados e, sobretudo, depressivos.

Nenhum “paraíso artificial” devolve a serenidade que nos devia governar… Bem sei que não há nada pior que o orgulho e, embora não entenda completamente a semântica do termo, creio que uma das suas faces é a necessidade predadora de assegurar um lugarzinho na pequena história dos homens.

E infelizmente quanto maior é o orgulho, menor é a vontade de contribuir para o bem comum. Pouco importa que o vizinho se mate a trabalhar para compensar a nossa preguiça! Pouco importa que o futuro da comunidade, por nós amordaçado, seja hipotecado…

Nota: orgulho, conceito exagerado que alguém faz de si próprio (do germ. urgoli.)

13.7.10

Estamos em Julho…

Estamos em Julho e aborreço-me porque deixei de ouvir os melros. Sobretudo um que, de madrugada, cantava desalmadamente como se alguém lhe ameaçasse o território. Creio que nunca o vi, ao contrário de muitos outros que sempre se mostraram indiferentes à minha passagem… Espero que ele regresse em Março pois, creio, que já passou a fase juvenil.

Ouvir é cada vez mais a minha profissão, já nada me apetece dizer… que interessa quem fala? A todo o momento, oiço falsas perguntas de quem não quer saber a resposta.

Talvez se dizer fosse uma actividade sazonal, eu me sentisse menos aborrecido. Se fossemos melros, poderíamos  viver em silêncio, de Julho a Janeiro… Bem sei que teríamos saudades da voz.  Mas evitávamos os charlatães que nos cercam…