19.6.16

O pecado privado e o pecado público

Ontem, pedi aqui perdão, mas não disse do quê.
E também ninguém se preocupou com a falta do complemento direto. Terão, talvez, pensado que me referiria à minha ausência na manifestação em defesa da escola pública. De certo modo, era verdade - o meu espírito gregário é frágil.
No entanto, o que eu quero reafirmar é que nada tenho contra a escola pública nem contra a escola privada. Estudei e ensinei em ambas, e encontrei virtudes e defeitos nas pessoas que as serviam ou que, infelizmente, se serviam delas / nas pessoas que as servem ou que, infelizmente, se servem delas.
Sei que insistir neste tipo de abordagem pode parecer insanidade minha, mas é assim que penso.
O pecado privado em nada se distingue do pecado público. Por exemplo, o padrão comportamental da gestão do CGD é, afinal, o mesmo do BES, do BANIF, do BPN, do BPP.
Ambos arruínam o país. Nenhum tem perdão. No entanto, os responsáveis continuam à solta. Provavelmente, porque, num país católico, só o Juízo Final lhes ditará o destino...
E isso eu não perdoo!

18.6.16

Espero que me perdoem...

Espero que me perdoem, mas eu nunca fui de autos de fé, touradas e procissões!
Raramente, fui a uma manifestação. E quando fui, não posso dizer que me tenha arrependido, mas senti-me sempre a mais. 
A verdade é que detesto fenómenos de massas, talvez porque considere que os pastores são verdadeiros manipuladores de opinião, acabando mais cedo ou mais tarde por tosquiar o rebanho...
(...) Nada tenho contra a escola pública, nem a consigo imaginar como inimiga da escola privada. Para mim, simplesmente, há homens e mulheres, nos dois lados, que não são dignos de se ocupar da instrução do cidadão.

17.6.16

Se eu fosse inglês...

Se eu fosse inglês, votaria a favor da saída da União Europeia. Não é que a ilha se baste a si própria, mas pode sempre aprofundar os laços económicos e financeiros com as suas extensões coloniais, evitando, deste modo, a supremacia germânica...
Portugal, antiga e reiterada extensão colonial inglesa, no essencial pode apresentar os mesmos argumentos que o Reino Unido, pois o centro da Europa insiste em desligar-nos do passado de descoberta e, posteriormente, colonial.
A verdade é que, se a nossa soberania, no passado, sempre foi frágil, hoje, não passa de uma ilusão. Não há matéria em que possamos tomar uma decisão sem a aprovação do suserano.
(...)
À Alemanha, a saída da Inglaterra acaba por ser conveniente. A médio prazo, acabará por aceitar a adesão da Turquia e negociar acordos económicos favoráveis com a Rússia...
E Portugal, em vez de ser o rosto da Europa, como defendeu Fernando Pessoa, acabará por ser a porta dos fundos.

16.6.16

A violência corrói os nossos dias

Jo Cox, representante de "West Yorkshire" no Parlamento britânico foi assassinada.

Não há hora em que a violência não seja notícia e, sobretudo, repasto para multidões famintas de sangue. 
A causa pouco interessa, embora se saiba que, em muitos casos, a violência pontual procura que a mesma se multiplique.
Parece que, por toda a parte, a agressão substitui a palavra, sem esquecer aqueles que usam a palavra para incitar à violência.
Da Rússia aos Estados Unidos, passando pela Turquia, pela França e pela Inglaterra, a vertigem da barbárie tomou conta dos comportamentos mais primários, atirando a educação para o caixote do lixo.

Jo Cox, defensora de causas humanitárias, é a vítima ideal para os fundamentalistas que, a todo o momento, calcam aqueles que procuram preservar a lenta humanização do homem.
O que, ultimamente, se tem visto, é o despertar da irracionalidade que, no passado ainda próximo, fez milhões de vítimas.

15.6.16

Dizem que o exame foi "superacessível, superfácil"...

Pouco tenho a dizer! Afinal, a "geringonça" não mudou nada, a não ser, talvez, a ideia de colocar os alunos do 12º ano a opinar sobre o papel da educação «na construção dos ideais, da liberdade e da justiça social.»
Vamos ter muitas opiniões, todas "superfavoráveis", com muitos exemplos e zero argumentos! 

E andou o Eça a testar sistemas educativos, para concluir que, em Portugal, a educação não levava a lado nenhum: desenhou personagens, testou-lhes o carácter, mergulhou-as no meio, ora provinciano, ora citadino, sem esquecer o cosmopolita... e NADA. Tudo na MESMA!

Se o exame era "superacessível", espero que as respostas não sejam "superfrouxas" e "superpopularuchas".

14.6.16

Amanhã, há exame de Português

Será que a 'geringonça' se entendeu para substituir José Saramago e Sttau Monteiro por Manuel Alegre? Por dar a palavra a um daqueles poetas vivos que sempre soube escutar os outros poetas?
FIQUE CLARO que eu não sei responder...
No entanto, se me pusesse a adivinhar escolheria o poema AS PALAVRAS:

Palavras tantas vezes perseguidas
palavras tantas vezes violadas
que não sabem cantar ajoelhadas
que não se rendem mesmo se feridas.

Palavras tantas vezes proibidas
e no entanto as únicas espadas
que ferem sempre mesmo se quebradas
vencedoras ainda que vencidas.

Palavras por quem eu já fui cativo
na língua de Camões vos querem escravas
palavras com que canto e onde estou vivo.

Mas se tudo nos levam isto nos resta:
estamos de pé dentro de vós palavras.
Nem outra glória há maior do que esta.

Manuel Alegre, O Canto E As Armas, 1967

(Expliquemos lá então a opção de Manuel Alegre, sem esquecer a circunstância...)

E se quisesse escolher outras "palavras", escolheria as de Eugénio Andrade...

13.6.16

Exercícios de ansiedade gramatical




 
Este post pode parecer descabido. No entanto, vou arriscar colocar aqui o questionário que acabo de elaborar para todos aqueles alunos que têm o hábito de procurar em CARUMA respostas para algumas das suas dúvidas.
Desta vez, o melhor é ter uma Gramática à mão...
Os enunciados foram extraídos do Diário de Notícias de 12 de Junho de 2016.



1.       Emigrantes gostam do hiperativo e do hiperotimista.

a.       Classifique, quanto ao processo de formação, as palavras sublinhadas.


2.       Alunos portugueses são dos que têm mais férias no verão.

a.       Substitua dos por um pronome demonstrativo.

b.       Divida a frase em orações e classifique-as.

c.       Na 2ª oração, existe um modificador. Transcreva-o.

d.       Em 1 e 2, o grupo nominal não é antecedido pelo determinante artigo. Explique porquê.



3.       Foram aprovados dois protestos. Os socialistas votaram dos dois lados…

a.       Classifique sintaticamente o constituinte sublinhado.

b.       Substitua por um quantificador a expressão “dos dois lados”.

c.       Classifique esse quantificador. 

d.       Coloque na voz ativa a primeira frase.



4.       Para os Portugueses, o grande problema é o défice público. Neste capítulo, Portugal é incorrigível.

a.       Classifique, quanto à formação, a palavra sublinhada.

b.       Classifique-a, também, quanto à função sintática.

c.       Explicite o antecedente de “Neste capítulo”.

d.       Identifique dois grupos preposicionais e descreva-os.

e.       “Neste capítulo” é um estruturador de informação ou um reformulador explicativo?



5.       Nos EUA, a bossa-nova institucionalizou-se de tal forma que os americanos acham que é deles…

a.       Classifique, quanto à sua formação, a palavra sublinhada.

b.       Divida as orações, e classifique a segunda e a terceira.

c.       Transcreva o antecedente “deles”.

d.       Na primeira oração, o verbo é pronominal ou pronominal reflexo?

e.       Na frase transcrita, destaque os elementos linguísticos que asseguram a cadeia de referência.



6.       Promoção do mês: um corte de cabelo à Ronaldo por 16 euros.

a.       16 corresponde a que tipo de quantificador? (Interrogativo, universal, existencial, relativo, numeral fracionário, numeral cardinal…)

b.       Observe a frase nominal e transforme-a numa frase verbal.

c.       Indique a função dos dois pontos no enunciado.

d.       Especifique a constituição do grupo preposicional “à Ronaldo”.

e.       “Corte” é uma forma de base ou um caso de derivação não afixal?

f.        “de cabelo” é um complemento do nome ou um do modificador restritivo do nome?

g.       Dê um exemplo de modificador apositivo do nome.



7.       É o segundo em meia dúzia de dias. Na semana passada, vi na televisão um amigo, jornalista de carreira longa e escritor de basta obra, falando sem complexos da sua experiência como motorista de tuk-tuk em Lisboa.

(…)

- Joel Neto! – ouço, num berro inesperado, entre a exultação e o calduço, algures na rua dos Fanqueiros. – O que é que faz aqui sua excelência, pá?! Veio à capital?!

É outro escritor e jornalista ainda, e com uma obra mais expressiva do que o primeiro – dos jornais à TV, dos livros de viagem à ficção. Pára a motinha, com os turistas assarapantados no banco de trás. Apita, fez três aceleradelas, ri-se. Cumprimentamo-nos calorosamente, perguntamos pelas patroas e depois ele perde-se pela rua do Comércio.


a.       Joel Neto aplica o acordo ortográfico de 1990 ou não? Justifique.

b.       Na frase “É o segundo em meia dúzia de dias”, a palavra sublinhada funciona  é uma catáfora porque o referente se apresenta antes ou depois?

                                                               i.      Transcreva o referente.

c.       “segundo” é quantificador numeral ordinal ou cardinal?

d.       Em “jornalista de carreira longa e escritor de basta obra”, os adjetivos têm, ambos, valor restritivo ou não? Explicite.

e.       “Tuk-tuk” é exemplo de empréstimo interno ou externo?

f.        Nas orações “Apita, fez três aceleradelas, ri-se”, a coordenação é sindética ou assindética?

g.       Em “O que é que faz aqui sua excelência, pá?!”, o ato ilocutório é assertivo ou diretivo?

                                                               i.      Classifique o deítico sublinhado.

                                                             ii.      Em termos sintáticos, qual é o valor do termo sublinhado.

                                                           iii.      Comente a expressividade da sequência “sua excelência, pá”.

h.       No texto transcrito, a pergunta “Veio à capital?!” é, ou não, exemplo de um processo de Implicatura conversacional? Justifique.

i.         O texto de Joel Neto corresponde a um protótipo injuntivo-instrucional ou a um protótipo interrogativo.

j.         No último período do texto, identifique dois exemplos de conotação.

k.       Em relação aos meios de transporte “a motinha” é um hipónimo ou um merónimo?