6.11.16

O pai foi em viagem de negócios

Emir Kusturica nasceu a 24 de novembro de 1954, já no final do período informbiro (1948-1955), tempo em que Tito rompeu com Staline... A palavra informbiro designa o modo pelo qual os Jugoslavos se referiam ao Cominform, uma abreviação para "Secretariado  de Informações".
É dessa época que Kusturica extrai o argumento do filme "Otac na Sluzbenom Putu"  (O pai foi em viagem de negócios), realizado em 1985.
Quem nos conta a história é o pequeno Malik que, de início, acredita que a ausência do pai se deve a negócios, mas que, com o tempo, perceberá que a razão é outra. O pai, apesar de deportado pela polícia política ... foi vítima de cupidez.
Malik conta-nos, assim, a odisseia da família num cenário político de traição e convenção, em que o dinheiro acabará por ser o único valor.

5.11.16

Afinal, eu não sou geek!

Chamada de “Davos para Geeks”, a Web Summit realiza-se entre 7 e 10 de novembro no Meo Arena e Feira Internacional de Lisboa (FIL), e traz consigo vários eventos paralelos que juntarão os mais institucionais e os mais informais, em momentos de discussão, mas também de descontração, como a Night Summit e os Pub Crawls ou a Surf Summit, que arranca hoje na Ericeira.
Os bilhetes para a Web Summit custavam 900 euros cada um. Para jovens entre 16 e 23 anos, a organização vendeu ainda milhares de bilhetes promocionais a nove euros.

Afinal, eu não sou 'geek'! Estou fora do padrão de peculiaridade ou de excentricidade  que carateriza estas 'pessoas'. Tenho bem mais de 23 anos e o que ganho não me permite adquirir um bilhete por 900 euros para este evento... Provavelmente, esta minha ausência acabará por significar que eu sou qualquer coisa como 'uma não pessoa', fazendo, desde já, parte da 'peste grisalha', que não merece qualquer respeito... até porque na Web Summit pouco restará da língua portuguesa.
Há, no entanto, algo que eu posso assegurar é que, de 7 a 10 de novembro, ninguém me apanha no Parque das Nações...  

Geek (pronúncia no IPA: [ˈgiːk]) é um anglicismo e uma gíria inglesa que se refere a pessoas peculiares ou excêntricas, fãs de tecnologia, eletrônica, jogos ...

4.11.16

Ser diretivo

Depois de tanto tempo a desconstruir, decidi que, doravante, serei muito mais diretivo...
O que é que isto significa?
É simples! A construção do 'novo' círculo esgotou-se - a liberdade extravasou de tal modo que a comunicação definhou...
O anseio voltou a ser de clausura - eliminação da razão e aposta em tarefas que matem qualquer tempo de partilha construtiva...
É como se a consciência se tivesse esfumado ou a ciência tivesse perdido o sentido da sua edificação.

Ser diretivo é levar a cabo um processo de robotização.

3.11.16

Operação Zeus

Vivir a la ocasión. El governar, el discurrir, todo ha de ser al caso. Querer quando se puede, que la sazón y el tiempo a nadie aguardan. Baltasar Gracian, Oráculo manual y arte de prudencia.

Tudo leva a crer que chegámos a um ponto em que a ocasião faz o ladrão. Não há dia em que não decorra uma investigação a crimes de corrupção ativa e passiva. Desta vez, está em curso 'a operação Zeus'. Pobre Zeus!
Lá vai o tempo em que a honestidade (a honra) determinava os limites à ação humana, exigindo uma resposta rápida e adequada a cada situação, e na medida do saber e do poder de cada indivíduo.
Desprezados o saber e a honestidade, cada um deita a mão ao que pode, uns de forma discreta, outros à tripa forra.

2.11.16

A circunstância

Hay a veces entre un hombre y otro casi otra tanta distancia como entre el hombre y la bestia, si no en la substancia, en la circunstancia; si no en la vitalidad, en el ejercicio de ella.
                           Gracián, Baltasar: El discreto

A diferença não se encontra na substância, mas, sim, na circunstância. Um ditador na Venezuela, na Guiné Equatorial, na Turquia, na Síria, na Coreia do Norte, na Rússia ou a caminho da Casa Branca, não se distingue, em substância, dos condenados à morte, ao desemprego, à pobreza - à miséria, tout court.
De facto, é a circunstância que permite que uns tantos se apropriem do poder - não interessa, aqui, a sua natureza - para esmagar as restantes criaturas... E a circunstância, como se sabe, é feita de espaço e de tempo de que o ditador se vai apropriando para melhor gerir a sua bestialidade, apesar de, neste caso, a propriedade nada dever a quem carrega o peso da falta de alma...

31.10.16

Os Frutos da Terra, de Knut Hamsun

Embora haja quem o considere o autor europeu mais influente em 1920, ano em que lhe foi atribuído o prémio Nobel de Literatura, a verdade é que, até esta data, eu nunca lera nada do norueguês Knut Hamsun (1859-1952).
Acabo de ler Os Frutos da Terra (1917), romance que me foi oferecido com uma menção que me deixou perplexo - esta narrativa corresponderia ao meu rosto... Li-o, assim, na perspetiva do margrave Isak, o colono que ousou desbravar terras norueguesas inóspitas próximas da Suécia...
Esclareça-se desde já que desconhecia por inteiro o termo "margrave" e, sobretudo, que significa "título dado outrora aos príncipes soberanos de certos estados fronteiriços da Alemanha." Quanto ao título, não vejo razão para que alguém me considere "margrave", apesar de, por vezes, me sentir posto à margem, e não senhor da "margem", relembrando, agora, que um dia distante, Maria de Lurdes Pintasilgo me terá dito que toda a margem tem um centro...
De qualquer modo, li as 382 páginas em muito pouco tempo, pois a narração é suficientemente diversificada para, a partir de um núcleo - Sellanraa - se dispersar por vários caminhos que põem diante do leitor: a apologia da sociedade agrícola, a fraqueza do dinheiro, a precariedade da vida urbana e principalmente dos valores em que esta assenta, sem esquecer a fogosidade da mulher, capaz de incensar o companheiro, mas também de o desprezar e de matar os próprios filhos...
O romance termina com a vitória do modelo rural sobre a modernidade, abrindo caminho a um certo de tipo de sociedade patriarcal que tantos estragos viria a provocar na primeira metade do século XX... o que, talvez, explique a simpatia de Knut Hamsun pelo regime nazi...
Enfim, apesar de publicado em 1917, não encontrei qualquer referência à Primeira Grande Guerra. Explosões só as resultantes da extração de azurite - pedra ideal para eliminar os obstáculos que se nos atravessam na vida.

30.10.16

Uma alfarrobeira!


Uma alfarrobeira! Esta situa-se na Portela.
Há anos que a observo, um pouco surpreendido pois não vislumbro outra por perto...
O nome árabe começou por designar "vagem", depois o povo encarregou-se de misturar as línguas, por um processo bem simples... Se a árvore se distinguia pela suas vagens, nada impedia que com um prefixo árabe e um sufixo comum "eira", o compósito designasse o todo.  Nada que eu não descubra em mim próprio: nascido com algum "cabelo", logo houve quem lhe acrescentasse o sufixo "eira". Esqueceram-se, no entanto, do prefixo "al", provavelmente porque a Inquisição andava mais ocupada em acabar com os judeus...
Nada disto fará sentido. Todavia, um destes dias, a alfarrobeira interpelou-me: o cheiro que ela libertava era tão intenso que, de súbito, me ocorreu que na minha aldeia (terra de figueiras) também terá existido uma alfarrobeira... e ao cheiro associei um sabor adocicado. Só não sei onde é que crescia tal alfarrobeira! Talvez no adro da capela de Nossa Senhora da Luz!