12.11.17

Um psicopata escreve o quê?

Um psicopata não assumido escreve sobre o quê?
Em primeiro lugar, há psicopatas que simplesmente não escrevem, embora falem pelos cotovelos sobre tudo o que imaginam ser a realidade (deles), porque a dos outros, essa não existe.
Depois há os psicopatas cuja escrita é o depósito de todos os rancores e de todas as invejas - escolhem um alvo, viram-no do avesso e não descansam enquanto a caricatura não assoma ao canto da página. Há até quem vá ao ponto de caricaturar Deus, esse invisível e indizível ser que assombra a mente das criaturas e, em particular, dos psicopatas... nestes sob a máscara do Diabo.
Há também aqueles psicopatas que, de tão livres, eliminam todo o tipo de censura, porque estão convencidos de que a verdade vive oculta para lá da consciência e dos padrões de cultura, caindo assim numa escrita automática que lhes traz de volta a dignidade, para não dizer a divindade... ( Já estou a ver os dadaístas e todos os divinos surrealistas!) 
Em conclusão, ainda não é hoje que abro a torneira até porque se o fizesse corria o risco de desatar abraçar tudo quanto mexesse... mas a razão diz-me "comporta-te, homem, não é porque tiveste um pai e um padrinho austeros que vais agora inundar o país de afetos, mesmo se o teu mandato é de seca - ou uma seca..."

10.11.17

Os psicopatas gostam de escrever

«Os psicopatas denunciam mais facilmente o seu delírio, escrevendo do que falandoLuís Cebola, Psiquiatria Clínica e Forense, pág. 146


Para demonstrar o carácter esquizofrénico da obra de Fernando Pessoa, o monárquico Mário Saraiva (O Caso Clínico...) arranca este argumento às páginas de Luís Cebola, só que basta uma consulta do verbete da Wikipédia para deduzir que dificilmente o antigo diretor clínico da Casa do Telhal (1911-1948) subscreveria a ideia de que Fernando Pessoa fosse um psicopata...

De qualquer modo, fico avisado. Vou escrever cada vez menos. Se não cumprir é porque a psicopatia tomou conta da mim... Ainda se escrevesse alguma coisa que se aproveitasse!

9.11.17

Relíquias

Nem crucifixo, nem presidente do conselho, nem presidente da república...
Apenas uma secretária e um estrado devorados pelo caruncho... até a cadeira foi substituída... relíquias...
Ora relíquias só nas igrejas e nem em todas!
Apenas um argumento em defesa da preservação do mobiliário acarinhado pelo Estado Novo: quando subo ao estrado,  a minha visão torna-se mais abrangente e mais disciplinadora, para não dizer autoritária... a nostalgia da cátedra...

8.11.17

O essencial

«O essencial é saber ver; 
Saber ver sem estar a pensar;
Saber ver quando se vê.
E nem sequer pensar quando se vê,
Nem ver quando se pensa.»
 Alberto Caeiro


Espero que ninguém se tenha precipitado e concluído que eu possa considerar Fernando Pessoa como um bluff.
Se assim fosse, nós também o seríamos, porque, no essencial, o homem pessoano é uma representação perfeita da deriva a que o homem do século XX se viu condenado ao querer romper com a velha ordem, muito por força do progresso científico e tecnológico...
Há, por seu turno, uma outra questão que mereceria ser analisada: o impacto da poesia de Fernando Pessoa na formação pessoal dos adolescentes.

7.11.17

"É imperioso banir da Cultura portuguesa o bluff Fernando Pessoa"

«Para a dignidade da Cultura portuguesa, é imperioso banir da literatura o bluff Fernando Pessoa e remeter o poeta ao seu real valor, que o tem e lhe basta.» Mário Saraiva, O Caso Clínico de Fernando Pessoa, pág, 164, Universitária editora

Não fosse um avô editor ter tido o cuidado de me fazer chegar às mãos tão precioso estudo, e eu teria continuado a ver em Fernando Pessoa a expressão de um mundo ávido por compreender a inquietação que o minava, depois que o Positivismo se revelara incapaz de determinar a Lei que tudo regeria... Num momento em que o Todo era definido como mais do que a soma das partes, Fernando Pessoa, num esforço titânico, desenhava caminhos que ia percorrendo, de preferência em simultâneo, embora soubesse desde início que o resultado o deixaria num estado de frustração que só uma boa dose de autodomínio lhe atenuaria a impotência. A impotência do ser.
E, assim, os caminhos criados são veredas alternativas ao desespero da humanidade. A arte como alternativa à impotência do ser... e não a expressão da impotência do homem que sofreria de hebefrenia mista...
(...)
Doravante, vejo-me obrigado a desconfiar se a leitura da obra de pessoana não será um veneno, irresponsavelmente, dado a ingerir à juventude portuguesa, contribuindo desse modo para o definitivo enterro da alma lusa...

Nota: A esquizofrenia hebefrénica é uma forma de esquizofrenia caracterizada pela presença proeminente de uma perturbação dos afetos. As ideias delirantes e as alucinações são fugazes e fragmentárias; o comportamento é irresponsável e imprevisível. Existem frequentemente maneirismos. O afeto é superficial e inapropriado. O pensamento é desorganizado; e o discurso, incoerente. Há uma tendência ao isolamento social. Geralmente, o prognóstico é desfavorável devido ao rápido desenvolvimento de sintomas "negativos", particularmente um embotamento do afeto perda da volição. (Wikipédia)

6.11.17

Não queremos obedecer...

Não queremos obedecer, mas somos treinados para deixar de pensar. Agora, tornou-se moda definir aprendizagens essenciais... e lá vamos nós identificar conteúdos  transversais, desenhar estratégias jesuíticas encorpadas de iniciativa e de criatividade... recriar o mundo.
Podemos não saber que um jesuíta é um cristão e que, como tal, serve uma doutrina milenar que nos mata a razão e nos transforma em servos obedientes de um deus ausente... Já nem sequer somos capazes de olhar para a palavra e identificar a raiz ...
É como aquelas árvores que são apenas troncos suspensos do fungo que as corrói...

5.11.17

O outono do inverno

Se o dia de hoje fosse diferente dos anteriores é que seria de estranhar. Voltou o Sol, embora mais tímido e cá em casa abriu a época oficial de inverno. 
Ricardo Reis ensina que, na verdade, a estação é o outono do inverno, mas esse não passa de um esquizoide que, apesar de recusar o passado e o futuro, se vestiu de uma cultura vetusta e cansativa - Para quê aprender grego e latim, estudar os clássicos, imitar Anacreonte, Píndaro e Horácio, e sobretudo, apostar num epicurismo triste e decadente?
O melhor mesmo é o silêncio, mas não sei o que é feito da moira Átropos... O óbolo já está preparado...