21.12.17

Está-nos na substância

No antigo Egipto, o mesmo termo significava, por exemplo: curto e longo; claro e escuro; belo e feio; alto e baixo; honesto e desonesto; verdadeiro e falso; forte e fraco...* Quem chegou a tal conclusão foi K. Abel (1884) que, provavelmente, ao assinar Abel ficaria sempre na dúvida se não deveria registar-se como Caim...
No essencial, o 2º termo não era o antónimo ( a negação) do primeiro, mas simplesmente o fundamento do primeiro. Como conceptualizar claridade se o tom não pudesse estender-se até à escuridão?
Talvez seja por causa desta particularidade da linguagem humana que desconfio cada vez mais dos sábios, dos justos e dos impolutos... 
Já Freud defendia que há linguagens, como a dos sonhos, em que a negação está ausente... tudo é asserção por muito agradável ou inconveniente... 
... e como bem sabemos, à força de ser agradáveis, acabamos por ser inconvenientes... está-nos na substância!

* o ponto e vírgula visa desfazer o equívoco - cada par seu termo (significante)... Pelo menos, os egípcios sabiam poupar...

20.12.17

Esqueçamos...

Já lá vai o tempo em que a notícia era a exposição clara e concisa de um acontecimento - do acontecimento.
Já lá vai o tempo em que os autores das notícias falsas eram sancionados.
Agora, o ministro da cultura propõe maior produção de notícias verdadeiras para que esqueçamos as centrais de intoxicação e de manipulação, enquanto elas nos alienam...
Do ministro da cultura talvez se aceite o preciosismo, nós, no entanto, não deveríamos tolerar a charlatanice...
Não sejamos o acontecimento!

19.12.17

Deve ser brincadeira...

Os dados do Governo a que a Lusa teve acesso revelam ainda que, no próximo ano, cerca de cinco mil docentes vão chegar ao topo da carreira (10.º escalão), onde até agora não se encontrava nenhum professor. Progressão na carreira


“Em relação às chamadas ‘fake news’ [notícias falsas], além dos aspetos de prevenção que podem passar pelas grandes plataformas da Internet, acreditamos que a melhor maneira de combater as notícias falsas, mais que pela sua supressão, passa sim pela produção de mais notícias verdadeiras, o que implica necessariamente o fortalecimento dos jornais, do jornalismo e dos jornalistas, além de um maior nível de literacia mediática”, disse Luís Filipe Castro Mendes. Mais notícias verdadeiras

18.12.17

A confidencialidade cheira-me a marosca

O Dicionário já não me satisfaz. Consulto-o para saber o que significa 'confidencialidade', só que a ideia de que um indivíduo possa acordar ou impor a outro o que deve ser objeto de confidência cheira-me a marosca...
Ultimamente, em nome da transparência - outro conceito opaco - o país, talvez para celebrar os 100 anos da aparição da Senhora aos pastorinhos - vive num frenesim impensável há umas décadas... Salazar prezava, em simultâneo, a confidencialidade e as transparências, como bem se sabe. 
Hoje, a confidencialidade não passa de velharia e nada escapa aos arautos da nudez. Por mim tudo bem, desde que cada um pague os devidos impostos, a começar pelos novos moralistas, contratados a peso de ouro e de favores...

17.12.17

Longe do libreto inicial

(Partiram sem darmos conta e se um dia puderem regressar...)

Hoje, fui ver O Lago dos Cisnes, no Teatro Camões, mas já não resisto a espetáculos tão longos, em espaços lotados e sobreaquecidos... A primeira parte foi penosa e não o foi só para mim, pois na Orquestra havia instrumentistas que combatiam o sono...
De regresso a casa, fui ler duas ou três sinopses, tendo confirmado que cada vez tenho mais  dificuldade em interpretar os novos códigos, apesar dos bailarinos e da orquestra revelarem um desempenho artístico notável...
A verdade é que sempre apreciei representações / interpretações fiéis à ao libreto inicial...

(Talvez voltem, e a árvore seja mais acolhedora e possam refazer o ninho...)

16.12.17

Retiro-me

Afinal, a ANA não o levou...
Hoje, não me apetece abordar nenhum dos temas que vão agitando as televisões, pois creio que seria pura perda de tempo... de propaganda tóxica e de mentira. 
Retiro-me, porque necessito de algum tempo de reflexão para elaborar o pedido de desculpas à Senhora Paula Brito (e/de) Costa...
Entretanto, deixo-vos com o presépio dos Bombeiros Voluntários de Moscavide e Portela, desejando-vos as Festas que melhor vos convenham...

15.12.17

Não basta babar-se...

Nunca fui de convocar os espíritos, embora aceite com naturalidade que eles possam habitar as copas das árvores ou pousar nas casas abandonadas ou até que possam permanecer nos embondeiros do lugar para que os sobrevivos, em dias de aflição, possam libar ao desafio...
A ideia do embondeiro é, por estas paragens, pouco oportuna, mas serve perfeitamente para ilustrar a noite que se abate sobre mim, quando alguns mancebos/as - vulgo, crianças - insistem em afirmar e reafirmar que sabem do que estão a falar ao balbuciarem certos enunciados disponibilizados pela wikipédia...
Ora, no designado realismo mágico, o rapsodo convoca os tempos com as suas presenças - materiais e imateriais -  e expõe-no-las sob o olhar para que possamos compreender que a realidade da casca esconde um processo milenar de opressão e de alienação, cultivado, em grande parte pelo Ocidente...
... um pouco como se a escrita procurasse dar voz ao embondeiro, a única testemunha fiel da inesgotável clepsidra que preside à história dos homens... e com tanto tempo já escorrido, ainda há quem faça de conta que basta babar-se... Falta-me o jeito para Babá!