22.3.18

Alvoroço

Retomando uma antiga e infeliz narrativa, o velho senhor ameaça com a polícia caso não lhe seja, de imediato, prestada uma informação sobre a rua e porta do Campus de Justiça, diga-se, de uma repartição, in loco, a que não precisa de se deslocar e que, se o fizer, só servirá para armar confusão...
Qual prestador de serviços, pro bono, lá irei à dita repartição - Campus da Justiça, Edifício L, Av. D. João II, Lote 1,08,01 J /1990-097 Lisboa - registando, aqui, a morada para memória...
A lenda diz que o velho e altivo senhor, em tempos, terá aprendido a ler. A lenda só não diz o que fazer a um senhor, abolida a escravatura... É um pouco como explicar o que fazer a um escudeiro, extinto o cavaleiro...

21.3.18

Num labirinto de papel

Num labirinto de papel, oiço um ininteligível altifalante que por certo dá voz a algum poeta convidado.
Hoje é dia de festa - da poesia. O mesmo será dizer que o dia é de espanto. Inicial... e não de interesseira persuasão, com maior ou menor domesticação dos tropos...
Ainda não acordara, e já me interrogava se a festa de hoje teria alguma coisa a ver com a fiesta ou, até, com o minotauro.
E não sei se por associação se por contiguidade, lembrei-me que tempos houve em que o Tejo correra em sangue por causa de uma utopia que nenhum poeta conseguiu fixar, mesmo a vida perdendo...

20.3.18

A Primavera dos Poetas

Dizem-me que vem aí a Primavera. Talvez. Da minha janela, apenas uma linha carregada de nuvens hesitante sobre os esquecidos pastos do Tejo...
Dizem-me que vêm aí os Poetas carregados de nuvens prontas a regar os rebanhos sequiosos de inesperado...
Apesar do que os campos me dizem, preferia ser eu a dizê-lo, mas falta o Poeta...

19.3.18

Patético

- Então, meu caro, não se deu ao trabalho de reformular o seu teste?
- Não. Vou anular a disciplina...
- Nem pense. O melhor é anular-se a si próprio!

(Tempos houve, em que por esta altura, os alunos decidiam anular a matrícula a certas disciplinas.)

A resposta do professor será censurável, mas o laxismo é tão grande...

18.3.18

Entendo. Já não precisamos de pensar!

Entendo. O inferno é dos outros. Aqui, no nosso céu, tudo corre bem. Chove, mas a chuva é precisa, embora, por vezes, se alargue um bocado por culpa alheia, humana...
Agora, está na moda aderir... O que é necessário é estar pronto. Para pensar? Não. Incomoda. 
É mais fácil sair do redil e gritar em uníssono. Afinadinhos, de preferência. Plutôt. ( Podia escrever isto em francês, mas para quem?)
Anda no ar, um certo espírito corporativo. O coletivo move, impõe, não uma ideia mas uma palavra-de-ordem. Anda no ar um certo espírito de cruzada - desperta por aí uma alma coletiva, capaz de sacrificar a vida de cada um de nós.
Já não precisamos de pensar!

17.3.18

No Inferno

Lá para trás, fica a ideia bíblica do Inferno, sem esquecer o Hades, e também a de Dante, as diversas masmorras inquisitoriais, os campos de extermínio nazis e da ordem nova... da indochina e da sibéria...Outro tempo!
Mas neste tempo, em que matámos a memória, o Inferno reacendeu-se na velha europa humanitária de hipocrisia, de fingida humanidade...

(Judith Vanistendael deslocou-se de forma ilegal, no final de 2017, ao campo de refugiados de Moria , na ilha grega de Lesbos, tendo desenhado, de memória, uma narrativa de dez páginas...

16.3.18

Não há pior carrasco...

Não há pior carrasco do que aquele que se prepara para ser carrasco de si próprio - come a sopa porque lha dão, não porque compreenda ou sinta que o seu corpo precisa dela... Ou não come a sopa porque decidiu que ela o pode enfraquecer...

'De que me serve debater uma obra com os meus pares, se eu, afinal, não a quero ler. Para quê lê-la se há por aí tantas outras, todas cansativas.'
'De si, meu carrasco, espero que leia por mim e que se limite a fornecer-me a chave necessária a franquear aquela porta, que dizem ser, do futuro de mesa farta...'

Esta é provavelmente uma forma menor de inteligência artificial... O problema é que uma forma superior de inteligência artificial poderá não ter paciência para aturar caturrices...
'Paciência' é a nossa forma dizer 'imaginação', isto é, a capacidade de ler fora da "caixa"...