20.2.20

Uma morte digna em troca do quê?

Hospital Curry Cabral
Não creio que as árvores sejam estúpidas, apesar de não alterarem a rota... estas já se adaptaram ao lugar e são necessariamente hospitaleiras... Basta observar o enquadramento para perceber que elas oferecem sombra e abrigo na maioria das estações, senão em todas...
Ainda o inverno não se cumpriu, e elas ali estão verdejantes, à espera que os pássaros se adaptem ao voo dos aviões, só temem que lhes falte a água onde eles possam lavar a plumagem no estio... 
Dentro dos pavilhões vizinhos, uma enchente de cambaleantes, à espera que lhes concertem os ossos... Talvez pudessem vir até cá fora, faziam companhia às árvores, seguiam-lhes os sonhos e respiravam, respiravam muito melhor... 
Regressariam, certamente, mais sossegados a casa, mesmo que a consulta não cumprisse a esperança e lhes oferecessem a eutanásia... uma morte digna em troca... Do quê?

18.2.20

Estúpidos somos nós!

"Mas os pássaros não são estúpidos e é provável que se adaptem. E este postulado arriscado é tão cientificamente sólido como o seu contrário: o de que eles não vão encontrar outras rotas migratórias, outras paragens estalajadeiras, como no Mouchão. Ciência sem dados comprovados não é ciência." Alberto Souto de Miranda Um secretário de estado inteligente

No reino da estupidez, há sempre alguém mais inteligente, há sempre alguém para quem as probabilidades pouco importam.
'Logo se verá' é um argumento político inabalável. Caramba! Se até os caranguejos mudam a rota, para quê tanto 'arruído"?

16.2.20

Apesar de todas as dores

morcegos, criaturas noturnas demoníacas; pangolins, acusados de hospedarem vírus mortíferos; predadores humanos em todos os continentes. bandoleiros de todas as espécies - presidentes, ministros, banqueiros, generais, gestores, especuladores de todos os feitios… todos mortificam… e claro tudo serve para ganhar e acumular dinheiro à custa da pobreza ou da excentricidade… 
só a natureza desperta em flores, em cores, apesar de todas as dores.  entretanto, vou deixar que os meus olhos se concentrem na polinização em curso…

15.2.20

Contra a distanásia

Eu sou contra a distanásia, o que não significa que seja a favor da eutanásia. No primeiro caso alguém age contra mim e no segundo, ninguém deveria intervir na minha decisão - seja familiar, institucional…
O último passo deverá ser sempre do sujeito, pelo menos, enquanto não cair nas mãos dos credores…
De tempos a tempos, eleva-se o clamor.. e passamos, indiferentes à disforia ou mergulhamos na euforia carnavalesca, como sucederá nos próximos dias…
E lá longe, a MORTE anda à solta…

12.2.20

O tojo-arnal de Miguel Torga

Tojo-arnal
Conheço este tojo desde sempre, só não sabia é que esta variedade é arnal.
Não fosse a viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães e, sobretudo, a vontade de Miguel Torga de evitar os "equívocos ibéricos", eu esfumar-me-ia na ignorância de que este tojo é arnal... porque cresce na areia...
Por isso, e não só, registo aqui o acerto poético da história concluída há 500 anos, mais dia menos dia, que, ontem, Magalhães foi homenageado com uma "Praça da Circum-Navegação" no Rio de Janeiro, não na areia, mas em frente da praia de Guanabara, na presença de figuras de Estado (?) que frisaram a importância do momento na história entre Portugal e Brasil... E quanto a Espanha?


Fernão de Magalhães

         Fernão de Magalhães da Ibéria toda,
         Alma de tojo arnal sobre uma fraga
         A namorar a terra em corpo inteiro,
         Consciência do fim no fim da boda,
         Fernão de Magalhães que andaste à roda
         De quanto Portugal sonhou primeiro:

         Ter um destino é não caber no berço
         Onde o corpo nasceu.
         É transpor as fronteiras uma a uma
         E morrer sem nenhuma,
         Às lançadas à bruma,
         A cuidar que a ilusão é que venceu.
               Miguel Torga, Poemas Ibéricos


11.2.20

Equívocos ibéricos

500 anos depois



Os equívocos continuam. A celebração da primeira viagem de circum-navegação é ou não conjunta? Em tempos de infodemia (epidemia de informação), escasseiam as notícias da viagem dos navios-escola Sagres e Juan Sebastian Elcano…
Se o objetivo da comemoração for celebrar o início da globalização, torna-se difícil compreender a duplicação da viagem…
Para Fernando Pessoa, Magalhães encerra o projeto sebastianista subscrito pelo Infante: Deus quer, o homem sonha, a obra nasce / Quis que a terra fosse toda uma / Que o mar unisse, já não separasse./
Continuamos separados, mesmo que diplomaticamente finjamos o contrário. De costas!

9.2.20

Em fevereiro

Em fevereiro, morreu Malaca Casteleiro. Deixou as estações e os meses com letra minúscula… Reduziu os nomes próprios, eliminou consoantes mais ou menos mudas, alterou as regras de hifenização sem, no entanto, lhe eliminar o 'h'. Em nome da simplificação, deixou cair a etimologia, desvitalizando as famílias… 
Não fosse a diversidade do uso da língua, tudo poderia ter sido aceite. Só que a variação linguística não se conforma com a norma e muito menos se ela ignora as suas raízes…
Hoje, a língua de Malaca Casteleiro lembra-me um estaleiro. Pode ser que o empreiteiro possa concluir a obra, mas convém que não descure as fundações em nome de uma internacionalização de matriz colonial.