22.5.20

De ontem e de hoje

De ontem, ficou-me a sensação de que os códigos sociais de nada servem. O egoísmo arrasa qualquer convenção humana - dá cabo da cultura já em si cada vez mais relativizada…
De hoje, o recato da gestação - o isolamento como ato construtivo.
De qualquer modo, está em curso a estupidificação da sociedade - a sua infantilização, a que nem a ciência consegue esquivar-se.

21.5.20

Semáforo vermelho

Ministro do Ambiente explica normas: Semáforo vermelho não proíbe entrada nas praias. É UM CÓDIGO DE CORES!

O ambiente do senhor ministro, João Matos Fernandes, não se rege por códigos… 
Se a floresta está a arder, para quê interromper o caminho?
Se o vulcão entra em atividade, para quê abandonar o local?
Se no cruzamento abre o semáforo vermelho, para quê parar?
Nunca percebi por que motivo este senhor foi elevado à categoria de ministro do ambiente! Ainda pensei que fosse porque já não havia mais ninguém disponível, mas não, foi porque o exercício político é tão mais profícuo quanto mais ... for o titular. 
(Falta-me o atributo ou, em alternativa, a analogia - borboleta, talvez…)

20.5.20

O êxodo

Se o teletrabalho, se a teleaprendizagem estão para ficar, então as grandes concentrações humanas parecem ter os dias contados…
Viver em torres de babel será o futuro dos pobres, porque os ricos e os remediados perceberão que a vida nas zonas, por ora, mais esquecidas é mais sossegada, isto é, mais feliz…
As metrópoles serão ocupadas pela periferia, num combate suicida - a violência, a doença e a fome tomarão de assalto as sobras do capitalismo até ao seu colapso definitivo.
Dentro de 50 anos, a humanidade terá sofrido uma redução drástica, permitindo, assim, que a Terra renasça.

19.5.20

Na fase cínica

Estamos a entrar na fase cínica. Somos convidados a viajar, a ir à praia e aos restaurantes, para satisfação do fisco. Saídos da fase de solidariedade mediática, ficamos por nossa conta e risco… se só os velhos morrem, qual é o prejuízo?
Como escreveu Saramago: «os velhos calados e sombrios, mal seguros nos pés, babam-se, dia de bodo é o único em que se não lhes deseja a morte, por causa do prejuízo que seria. E há febres por aí, tosses, umas garrafinhas de aguardente que ajudam a passar o tempo e espairecem do frio. Se volta a chover, apanham-na toda, daqui ninguém arreda.» O ano da morte de Ricardo Reis, pág. 77, Porto editora.
Até já deixou de chover e o calor está aí, convidativo… quanto ao vírus, terá hibernado… 

18.5.20

Que ave é esta?

Garça noturna
Observei-a hoje no Jardim da Gulbenkian. Confinada como estava, não passava cavaco a ninguém. Ainda não era hora de almoço, e creio que ela se escondeu pois temia ser obrigada a almoçar com os nossos ilustres governantes.
Era lhe insuportável ouvi-los a vangloriarem-se do presente e a anunciar o futuro - todos juntos numa traineira no alto mar, a cumprir o esquema descoberto pelo líder supremo…
Que tristeza! Só pensam em ir a banhos e encher a pança… e ainda nos querem convencer que é esse  o caminho para nos salvar da bancarrota.
Pareceu-me triste, a ave! E eu gostava de lhe conhecer o nome...

17.5.20

A pinha está ali escondida...

A pinha está ali escondida, tal como Caruma. Talvez seja a sua dita!
Da pinha poderá cair uma semente, iniciando novo pinhal com muita caruma...
De Caruma pouco há a esperar, perdido na floresta virtual. Nem uma borboleta se vislumbra!
Hoje é domingo, mas poderia ser outro dia qualquer. O que todos querem é que os não aborreçam e os deixem fugir para o areal, com ou sem pinhal.
Sob as agulhas já vejo fagulhas, mas não faz mal!

16.5.20

Num jardim de Lisboa

A chuva que foi caindo deixou um belo quadro de verde líquido. 
Neste jardim, há mesas e cadeiras, mas ninguém se senta... Não há café, pastel de nata... nem sequer um jornal ou uma revista...
Há dois gansos com a respetiva ninhada - parecem ter chegado do Nilo! Uma idosa olha-os, sem arredar pé...
E depois há famílias, pares de namorados, todos sentados na relva... e também há solidão escondida em recantos sobrevoados por aves exóticas que insistem em ficar por Lisboa...
E lá por detrás, há bairros de que ninguém quer ouvir falar!