13.7.21

Zaratustra terá rido ao nascer

No oeste
















O que é que Zaratustra teria feito se ao sair da Ilha Afortunada por aqui se visse encaminhado?
Será que se teria dirigido aos homens ou teria preferido o silêncio, limitando-se a ouvir o vento?

Desencantado, mergulharia no condicional, sabendo que o seu esforço de doutrinação fora vã pregação.

Nas escostas, as manadas invisíveis continuam a sua ascensão até que o trovão as faça regressar ao vale da humilhação...

O que é que Zaratustra poderia ter feito de diferente?

De acordo com a tradição: Ao nascer, Zaratustra não chorou; pelo contrário, riu sonoramente. As parteiras, vendo aquilo, admiraram-se, pois nunca tinham visto um bébé rir ao nascer.

11.7.21

Da crença nos milagres


No meio de tantos sublinhados juvenis, a releitura menos apaixonada destes últimos dias chama-me, no entanto, a atenção para seguinte certeza de Freud:

«Je suis obligé d'avouer que je fais partie de cette catégorie d'hommes indignes devant lesquels les esprits suspendent leur activité et auquel le suprasensible échappe, de sorte que je ne me suis jamais trouvé capable d'éprouver quoi que soit qui pût faire naître em moi la croyance aux miracles.»
Sigmund Freud, Psychopathologie de la Vie Quotidienne, Petite Bibliothèque Payot, page 279

Sofro desta indignidade desde que me conheço, apesar de, por uns tempos, ter sido levado a acreditar que o homem poderia superar essa falha, sem nunca ter pensado que a pobreza de espírito se pudesse transformar em tamanha fonte de riqueza... Infelizmente, as notícias do quotidiano, quase todas escoradas no esquecimento, no equívoco e no compadrio, só me dão conta do milagre da transformação da ocasião em riqueza...

9.7.21

A praia do matadouro

 

















Aqui existiu um matadouro. A toponímia regista o lugar onde eram abatidos os animais da região da Ericeira... Ainda se fosse uma lota!

Por mim, melhor seria que  a praia fosse rebatizada, embora a areia tenha sido sorvida pelas marés...

Por estes tempos, a praia parece ser dos surfistas que ainda não chegaram à Ribeira d'Ilhas.

8.7.21

Na sombra do pinheiro

 

Nem Tejo nem ponte! Só a ramagem do pinheiro desperta a atenção.
Talvez porque a maré cheia não fosse fluvial e a ponte empurrasse para a outra margem...
Na sombra do pinheiro, o que conta é a aragem e o instante que a memória capta, sem nada querer com a fantasia de quem se imagina grande, quando é interrompido pelo apito estridente do comboio...
Claro, há sempre quem sonhe com a apetitosa rola que, incauta, vive na ramagem.
E depois há estas palavras que, de tão enredadas, vão sendo arrastadas ao sabor das marés.... ou caem como agulhas do esquecimento.

5.7.21

Chinesices

 

Diospireiro



















Da China veio o diospireiro, mas não só... Consta que foram os jesuítas os hospedeiros, não fossem eles amantes de todo o tipo de acidez...

Para registo, por causa da China ou talvez não, lá fui tomar a 2ª dose da Astrazeneca, em Loures.

Tal como prometido pelo Sr. Vice-Almirante, o processo estava bem organizado e exigia pacientes no verdadeiro sentido da palavra: cheguei às 16h15 e saí, vacinado, às 19h30.

Quanto a chinesices, parece-me que o Sr. Vice-Almirante é bem capaz de, antes de outros mergulhos, ter frequentado um austero colégio jesuíta.


4.7.21

São ameixas, meu senhor...

Quinta Pedagógica, Olivais


















Estas ameixas não estão à mão de qualquer um!
Lembram-me as palavras do Sr. Costa,carnudas, iluminadas, mas efémeras...
O Sr. Costa, em seis meses, aprendeu a conhecer os europeus e, sobretudo, a compreender as suas motivações.
O problema da Europa é a falta de visão euro-atlântica, o seu ensimesmamento, diz o Sr. Costa.
O Sr. Costa espera agora que, passadas as eleições na França e na Alemanha, o Sr. Macron se revele seu herdeiro..., esquecendo que a Madame Marine Le Pen se prepara para desmanchar o templo europeu, com a ajuda de uns tantos precursores no ativo.


2.7.21

Viver é esquecer


Sintra junho 2021



















«Ce qu'on a oublié de faire une fois, on l'oubliera encore bien d'autres fois.» proverbe populaire

De vez em quando, regresso ao tema do esquecimento. Porquê, não sei ao certo. No entanto, pressinto que a razão é séria...
Tudo o que fui esquecendo - e é muito - estará relacionado com a imperfeição do meu desempenho. Ninguém gosta de relembrar os projetos que foram ficando pelo caminho. Ninguém gosta de relembrar a voragem dos dias que foi minando a consistência dos atos...
E, sobretudo, o esquecimento é uma forma de resistència em todos aqueles contextos em que a Vida não nos pediu licença para impor as suas regras. E foram muitos!
Viver é esquecer. A alternativa seria soçobrar.
Por isso sempre que me convidam a recuar no tempo, sinto um calafrio. Uma ameaça de morte a que diariamente procuro resistir.