14.10.22

No tempo em que se lia A Sibila de Agustina...

Abertura: diálogo entre Germana e Bernardo - continuação do diálogo iniciado no cap. XIX. (234) Sob o olhar de Germa: o velório (o seu significado sociológico) de Quina, reacções de Augusto, ingénuo, puro e bronco; o contraste entre a atitude dos familiares e a atitude de Augusto - o papel do discurso directo; a impressão de vazio - de fim de um tempo - entrecortada pela alegre gaita de beiços de Custódio, a transformação física de Custódio - o retrato de Custódio / o “fascínio do olhar morto”, o desgosto de Custódio - a analepse referente ao “amortalhar” de Quina - as reacção de Inácio Lucas. O testamento (238), Germa, a herdeira absoluta, excepto do que Quina adquirira após a morte de Maria... Reflexão sobre a herança, como empréstimo e não como dávida (239)
Custódio, porém, não ficava deserdado... esbanjador... recusa abandonar a Vessada - a vida de Custódio após a morte de Quina (240). A morte de Estina no verão seguinte (?) o caminho de Inácio Lucas .... Tinham passado dois anos (245)
Este diálogo introduz a situação / caracterização destas personagens e a questão essencial colocada pela obra: Quem sou eu / Germana?
A resposta é nos dada pela história da família Teixeira.
(...)
Cap. XVIII: A morte de Quina - p. 233-234
Comentário detalhado, sobretudo, em termos ideológicos: a concepção animista da vida e da morte face às concepções trágica e dramática; a singularidade da personagem-herói. O “diálogo” de Quina (consciência e, sobretudo, sentidos auditivo e visual) com os “passos” - a presença fantasmática da morte que atravessa a casa na direcção de Quina; a chama da vela e o vento. O papel da questão de retórica ( as estratégias do narrador: o ponto de vista). A noite alta e a madrugada. A morte: passagem / regresso ao cosmos. O advérbio de modo; a escolha do léxico; as comparações e as metáforas; o simbolismo; o contraste / paradoxo... a descrição dinâmica...
(...)
Num dia de chuva intensa - Outono, o carteiro anuncia o nascimento de Germa. (95) Quina detestava que lhe escrevessem postais - a indelicadeza: comunicação sujeita à curiosidade. Quina embriaga o carteiro. Maria manda-o embora.
Este nascimento não as entusiasmou (98).
(...)

“ De resto, a morte dum velho não inspira dor a outro velho - inspira pânico.” (89)
A vaidade de Quina:” Invadia-a uma exultação. “Ele precisa de mim - pensava -, ele está calmo e não sabe que vai morrer só porque eu quis assim...” (91) / a jubilosa agonia de Quina / o tom postiço da voz de Quina / penetrada de exultante felicidade(93)
“Na morte não há irmãos, ele já não é mais nosso...” (93)
O velho morreu de madrugada
Domingas, viúva, amortalhadeira, atreita a amores... Quina detestava-a, “pois a sabia enredadeira e mentirosa.” Dominga era a única mulher que “bendizia os homens” (92)
O abade e a casa da Vessada (94-95): “O padre era-lhes venerável, ainda que a criatura humana fosse para elas cheia de misérias.”

Só quem por lá passou compreende como a vida pode ser postiça... o resto é presunção e muita água benta para afogar as indelicadezas ...

12.10.22

Divulgação: @

        Sabe qual é a origem da arroba?

Na Idade Média os livros eram escritos pelos copistas, à mão. Precursores da taquigrafia, os copistas simplificavam o trabalho substituindo letras, palavras e nomes próprios, por símbolos, sinais e abreviaturas.

Não era por economia de esforço nem para o trabalho ser mais rápido (tempo era o que não faltava naquela época ). O motivo era de ordem económica: tinta e papel eram valiosíssimos.

Foi assim que surgiu o til (~), para substituir uma letra (um “m” ou um “n”) que nasalizava a vogal anterior. Um til é quase um enezinho sobre a letra.

Já para substituir a palavra latina et (e), os copistas criaram um símbolo que é o resultado do entrelaçamento dessas duas letras: &. Esse sinal é popularmente conhecido como “e comercial” e em inglês tem o nome de ampersand, que vem do and (e em inglês) + per se (do latim por si) + and.

Com o mesmo recurso do entrelaçamento de suas letras, os copistas criaram o símbolo @ para substituir a preposição latina ad, que tinha, entre outros, o sentido de “casa de”.

Veio a imprensa, foram-se os copistas, mas os símbolos @ e & continuaram a ser usados nos livros de contabilidade. O @ aparecia entre o número de unidades da mercadoria e o preço – por exemplo: o registo contábil “10@£3” significava “10 unidades ao preço de 3 libras cada uma”. Nessa época o símbolo @ já ficou conhecido em inglês com at (a ou em).

No século XIX, nos portos da Catalunha, o comércio e a indústria procuravam imitar práticas comerciais e contáveis dos ingleses. Como os espanhóis desconheciam o sentido que os ingleses atribuíam ao símbolo @ (a ou em ), acharam que ele seria uma medida de peso. Para o entendimento contribuíram duas coincidências:

1-  a unidade de peso comum para os espanhóis na época era a arroba, cujo “a” inicial lembrava a forma do símbolo;

2- os carregamentos desembarcados vinham frequentemente em fardos de uma arroba. Dessa forma, os espanhóis interpretavam aquele mesmo registo de “10@£3” assim: “dez arrobas custando 3 libras cada uma”. Então o símbolo @ passou a ser usado pelos espanhóis para significar a medida de peso arroba.

A palavra Arroba tem origem na palavra árabe ar-ruba, que significa “a quarta parte”; efectivamente a medida de peso arroba (cerca de 15Kg) correspondia a ¼ de outra medida de peso árabe o quintar (quintal) correspondente a 58,75 Kg.

As máquinas de escrever, na sua forma definitiva, começaram a ser comercializadas em 1874, nos EUA e o seu teclado tinha o símbolo @ que posteriormente sobreviveu no teclado dos computadores.

Em 1972, ao desenvolver o primeiro programa de correio electrónico (e-mail), Roy Tomlinson aproveitou o sentido do símbolo @at”, disponível no teclado, utilizando-o entre o nome do usuário e o nome do provedor. Assim fulano@provedorx ficou a significar “fulano no provedor X”.

Nos diversos idiomas o símbolo @ ficou com o nome de alguma coisa parecida com a sua forma:

Ø  italiano - chiocciola (caracol)

Ø  sueco – snabel (tromba de elefante)

Ø  holandês – apestaart (rabo de macaco)

Ø  austríaco – strudel

(extrato do livro: “A Casa da Mãe Joana” – Reinaldo Pimenta)

10.10.22

O teste deu positivo...

 O teste rápido de antigénio (nasal) deu positivo... No entanto, a Direção Geral de Saúde não recomenda isolamento nem qualquer outra medida específica - talvez a máscara, talvez a lavagem das mãos... e um ben-u-ron de tantas em tantas horas...

Considerando que o teste de antigénio num hospital custa 28,50 e que deixou de haver qualquer tipo de comparticipação, creio que os portugueses já devem ter concluído que há outras formas de esbanjar o dinheiro... Por isso o número de testes diminui. E a morte voltou a ser um acontecimento privado...

 Eu lá paguei o teste. Sonso!

9.10.22

O espirro

Será que devo tomar um IVILCO? Porquê este e não outro medicamento?
Ou será que devo esperar para tomar a decisão? 
O quê? Outro espirro?
Hipocondríaco? Talvez.

Esta preocupação só encontra justificação na falta de sentido ... Não há nada pior do que a aposentação dos dias...

Há ainda, no entanto, coisas que não compreendo. Por exemplo, a pesquisa no blog não abrange todos os conteúdos... 

(A temperatura baixou, o sol encolheu-se... e o corpo reage sem razão, se tivermos em conta o que fica dito.)

6.10.22

O tempo

Como dissemos, as linhas de demarcação entre passado, presente e futuro modificam-se constantemente, porque os próprios sujeitos para quem um dado acontecimento é passado, presente ou futuro se transformam ou são substituídos por outros. Eles se transformam individualmente, no caminho que os conduz do nascimento à morte, e colectivamente, através das sucessivas gerações (e também de muitas outras maneiras). É sempre em referência aos seres vivos do momento que os acontecimentos se revestem do carácter de passado, presente ou futuro. A sequência social dos “anos que correm” (do ano 1 ao 2000 e além dele) desenrola-se, exactamente como as sequências principais de uma evolução estelar ou biológica, sem qualquer referência a seres humanos determinados. Por esse ponto de vista, entretanto, existe uma diferença entre as sequências de carácter social e as que, alheias ao homem, são de carácter puramente físico. Nas sociedades humanas, a experiência vivida de sua estrutura evolutiva pode contribuir para modelar o desenrolar dos próprios processos sociais. Por isso é que a experiência vivida das sequências de acontecimentos é parte integrante, na ordem social, do próprio desenrolar dessas sequências. Mas isso não acontece com  relação ao que chamamos de “natureza”, isto é, à dimensão física do universo.
Assim, o esclarecimento das relações, por vezes confusas, que se estabelecem entre conceitos temporais do tipo “ano”, “mês” ou “hora” (ou também “antes” e “depois” ) e conceitos do tipo “presente”, “passado” e “futuro” leva-nos a uma conclusão meio inesperada. Os conceitos do segundo tipo não se aplicam ao nível físico, àquilo que chamamos “natureza”, onde a causalidade mecânica passa, com ou sem razão, pelo modo representativo de ligação. Ou então, só se aplicam a ela na medida em que haja seres humanos que remetem a si mesmos os acontecimentos que se desenrolam nesse plano. Os conceitos de “presente”, “passado” e “futuro”, de qualquer modo, só podem relacionar-se com o perpetuum mobile das cadeias causais que compõem a natureza com base numa identificação de carácter antropomórfico, como quando se fala do futuro do Sol.
(…) O presente é aquilo que pode ser imediatamente experimentado, o passado é o que pode ser rememorado, e o futuro é a incógnita que talvez ocorra, algum dia.
                           Norbert Elias, Sobre O Tempo, 65-66, Zahar, 1998

3.10.22

Elucidação

Há um tempo para tudo, dizem os ponderados. De facto, não é assim quando se começa a pensar se devemos eliminar tudo o que esboçámos ou se há algum modo de 'arquivar' os esboços que fomos construindo ao longo da vida - isto quando não há obra feita... Felizes os que souberam fechar a obra! E há muitos, felizmente...
No meu caso, é tudo imperfeito e incompleto, talvez porque a pressa ou a necessidade de cumprir certos objetivos nunca deixou tempo de pausa... ou avançava ou ficava para trás - e o pior é que a paragem arrastava outros que não tinham culpa nenhuma. Há quem chame a este comportamento 'sentido de responsabilidade'...
A esta distância, a responsabilidade dilui-se e fica a dúvida se as apostas diárias foram acertadas ou apenas resultaram de um encadeamento mais ou menos gratuito. Por isso, este blogue passa a ser o depósito de registos desgarrados, mas que, à época, eram a expressão do empenhamento necessário à execução da vida.

2.10.22

Pedaço de mau caminho

Em toda a parte há um pedaço de mau caminho.”

As notícias diárias parecem querer impor a ideia de que só há maus caminhos.
O Governo cede aos interesses; os bispos fazem vista grossa ou os clérigos assediam os indefesos; a União Europeia deixa-se enredar na teia tecida por Moscovo e por Kiev; o Brasil é obrigado a escolher entre quem já deu provas de abuso de poder...
E depois há os fanáticos de todas as cores, de todas as bandeiras, que, em nome da justiça, agem como se o amanhã não interessasse mais...
E depois...