13.9.08

A recompensa...

"Aquilo que todos temos,

Partilhamos e preservamos

Poucos sabem o que é…

Mas aqueles que o sabem

Comportam-se como se nunca o tivessem sabido.

Apenas se deixam levar,

Como folhas arrastadas pelo vento."

(M.P.F.)

Hoje, os momentos de desânimo e de cepticismo - foram compensados pela notícia tardia de que a Marisa Peralta Ferreira viu premiados o seu afã, a sua vontade de fazer sempre melhor, a sua disponibilidade para as ciências, mas, também, para as humanidades, sem esquecer a sua jovialidade e a sua humildade. Não sei o que terá sentido ao receber o diploma de conclusão do ensino secundário, acrescido do prémio de 500 euros atribuído pelo M.E., mas tenho uma certeza: por um momento, o seu olhar ter-se-á iluminado e, certamente, terá pensado - "afinal, sempre vale a pena..."

(Infelizmente, como a Marisa bem escreveu no Poema "A Travessia", nem todos sabem aproveitar e partilhar aquilo que todos temos. E quanto a esses, nada posso fazer, mas sobra-me ainda algum tempo para acompanhar os que procuram o caminho da superação...)

6.9.08

Abandonados...

Lisboa, Rossio, 23 h...

Sob as arcadas do Teatro D. Maria II, atordoado pelo som de uma coluna, colocada mesmo ao lado da mesa da improvisada esplanada, observo o movimento de carros apressados e de pessoas que fogem das poças de água que rapidamente surgiram, nesta noite outonal...

Ali, ao lado, uma dúzia de táxis, sobre a calçada saída das Portas de Santão, espera, sem alma, os raros fregueses que se atrevem a circular na Baixa, dita pombalina, mas, agora, já ocupada pelos sem-abrigo que se escondem sob caixotes de cartão... Os que se mantêm de pé, fazem-no de copo na mão, uma derradeira imperial, antes de procurarem outras tascas mais noctívagas... A luz, fraca, por entre a chuva, cria um ambiente fantasmagórico de dúvida e de hesitação...

Na Praça ao lado, dita da Figueira, vá lá saber-se o motivo, os protagonistas não são diferentes, apesar da luz ser ainda mais fraca e do número de sem-abrigo ser superior. Apenas, o acesso ao parque de estacionamento anima um pouco mais o sítio. Estacionado o carro, procura-se a saída, encerrada desde as 22 h.... Por isso, entre as 22 e as 8 horas, promovidos a veículos de duas rodas, seguimos o o caminho dos automóveis, embora o construtor do parque não tenha previsto esta situação... Tudo em nome da segurança!

Perante tudo isto, o que sentimos é uma enorme intranquilidade que, de algum modo, nos faz suspirar pelo Pina Manique ou, então, por uma enorme derrocada que aniquile o cancro que mata o coração de Lisboa. Tal como está, só podemos sentir vergonha... e afligem-me aqueles espanhóis que queriam guardar o carro, em segurança(!?), durante a noite, e perguntavam o preço do parqueamento nocturno. Mas quem quiser saber o preço tem que entrar e, perante a tabela indecifrável, abandonar-se ao acaso...

1.9.08

O que nos resta?

A cada hora se muda não só a hora / Mas o que se crê nela, e a vida passa / Entre viver e ser. Ricardo Reis

Apesar do homem ter inventado a roda e do seu fascínio pelas formas ovais e arredondadas, o círculo é-nos proibido. Inventámos o eterno retorno, a ressurreição, a transmigração, a imortalidade para, depois, nos deixarmos cair no desespero da recta infinita ou que, pelo menos, se perde no fio do nosso horizonte, porque mesmo esse se revela intangível...

Perante o absurdo da morte, que mais nos poderia Ricardo Reis aconselhar? E nessa linha invisível se situou António Lobo Antunes, ao escrever o romance "Que Farei Quando Tudo Arder?"  Nele, o autor estica o fio da vida, regista o quotidiano das vozes inúmeras que habitam a cidade e arredores, e transcreve minuciosamente essa sinfonia que só os ouvidos de um desesperado podem captar... a linha contínua das vozes travestidas obriga-nos a ocupar esse espaço que se situa entre o viver e o ser, de tal modo que ou não sobra tempo para mais nada ou desistimos de o ler..., desistindo um pouco mais vida...

E se continuar por esta linha, pouco falta para mergulhar no velho Sá de Miranda. Quem diria?

28.8.08

Um novo ciclo?

Não sei porquê, mas a expectativa de que o ano escolar que se avizinha seja melhor do que o anterior vai diminuindo à medida que os anos decorrem. Os programas deixaram de me entusiasmar, mesmo que defendam alguns valores que me parecem essenciais à vida em sociedade.

E a questão está precisamente no modo como queremos viver: em sociedade ou cada um por si? Os sinais que recebemos são de facilitismo, desrespeito, egoísmo puro e duro, desrespeito pela vida humana.

A escola inicialmente tinha como objectivo ensinar a viver em sociedade ou, no limite, a servir o Estado. Mesmo este último está competamente desacreditado, incapaz de impor a disciplina, submetido aos interesses de indivíduos e grupos sem qualquer escrúpulo.

E são estes indivíduos e estes grupos sem escrúpulos que se tornaram nos novos heróis que a juventude prefere e, sobretudo, imita cada vez mais.

O ciclo parece-se abrir-se, mas já não há novidade, vontade de aprender, como se tudo estivesse ao alcance da mente..., num tempo em que a mão deixou de a completar...

22.8.08

Fundão

Igreja de Santo António
Para além das marcas da religiosidade provinciana, há por aqui múltiplos traços do Estado Novo. Basta observar a arquitectura: Cafés Aliança, Portugal...o Cineteatro Gardunha. Mas há também o novo riquismo da democracia de Abril. Procure o Mercado Municipal e olhe em redor - uma arquitectura "faraónica". Por outro lado, o capital financeiro também se concentra de forma bem VISÍVEL na avenida principal. Se espreitarmos por detrás das fachadas, a realidade é, no entanto, menos apetecível. As páginas do Jornal do Fundão mostram-nos que as eleições se aproximam e que há equipamentos sociais condenados ao abandono... (Para além de acolher um artigo de agradecimento do medalhado Arnaldo Saraiva que frequentou o Seminário local que um dia visitei e do qual sempre guardei uma imagem de pobreza extrema.) Aliás, o abandono parece ser, também, o destino dos mais idosos, como prova o seguinte episódio. Sentados (eu e minha mulher) a uma mesa da esplanada de um dos cafés mais frequentados, vemo-nos subitamente acompanhados por duas enlutadas senhoras idosas que, cansadas, se sentam e desfiam misérias: abandono, solidão, lágrimas pela incompreensão de um filho, pensamentos suicidas. O empregado de mesa olha-nos com um ar de surpresa e repreensão. Não está acostumado a que os clientes possam ser incomodados... foi preciso tranquilizá-lo, embora me pareça que, de facto, ele não sabia como agir naquela situação. Do que pude ouvir, uma das idosas, mais sorumbática, era acompanhada pela serviços da Santa Casa da Misericórdia, enquanto que a segunda, de lentes garrafais e gordurosas, confessava a uma senhora caridosa (?), de meia idade, que, entretanto, se aproximou da mesa, que não tinha dinheiro para pagar a quem lhe levasse o almoço a casa e fizesse a limpeza. O Anjo da harmonia social lá lhe foi dizendo que não aceitava aquele desespero pecaminoso, que ela tinha direito a uma refeição e a limpeza uma ou duas vezes por semana, que o importante era a papelada...Resolvida essa questão, os dias serão de esperança e não de desespero... E lá fiquei a pensar nas benditas medidas dos engenheiros Guterres e Sócrates que, como no tempo dos faraós, para serem levadas à prática exigem que a miséria ganhe forma de letra. Se o pobre for analfabeto, infoexcluído, então, o melhor (Deus nos livre!) caminho é o suicídio.

21.8.08

Em Cangas de Onis, pelo seu simbolismo...


As imagens dispensam as palavras: a ponte, a cruz, a água, a igreja, Pelágio, a mulher Isabel, as flores... 
(As imagens...)

LEÓN

Uma cidade monumental, cuja arquitectura revela o poder e a riqueza da região. O camping que a serve é fraquinho. O acesso é inconcebível. Mas, enfim, serve... pois dista, apenas, 6 kilómetros do centro da cidade.