3.3.09

Tagmé Na Waié e Nino Vieira

Há muito que a morte de ambos fora decidida, e tudo leva a crer que pelos próprios.

Infelizmente, deixaram os guineenses mergulhados na crise de identidade há muito anunciada por Amílcar Cabral (1924-1973), também ele barbaramente assassinado:

Eu sou tudo e sou nada,

Mas busco-me incessantemente,

- Não me encontro!

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Ó farrapos de nuvens, passarões não alados,

levai-me convosco!

Já não quero esta vida,

quero ir nos espaços

para onde não sei.

Por muito absurdo que a ideia possa parecer, acredito que chegou a hora dos povos da Guiné se unirem e descobrirem aquilo que os une e não mais aquilo que os separa.

Da morte não interessa saber se é justa ou injusta, se no limite puder ser redentora.

28.2.09

No silêncio da oliveira... Vital Moreira

Ao Vital Moreira reconheço competência e honestidade intelectual, e espero que a sua escolha para encabeçar as eleições europeias tenha como objectivo reforçar a qualidade da intervenção portuguesa na união europeia e no mundo. Quanto ao argumento da sua abrangência política de esquerda, considero-o falacioso. Em relação ao congresso do partido socialista, não posso deixar de registar a falta de debate de ideias, a sacralização da liderança de Sócrates, a ausência de Manuel Alegre, e a pobreza intelectual de muitos dos participantes - houve quem confundisse um sinónimo com um silogismo! Por seu lado, as televisões primam pela falta de isenção. Os comentadores há muito que servem interesses económicos e aventureiros que se vão apoderando das nossas consciências.

25.2.09

Ali, ao lado...

O outro lado da cidade de Évora: esgoto a céu aberto, ao lado do parque de campismo; poço com banheira; azinheira com sombra de cimento. Nem a pega rabuda escapa. Fora da fotografia: duas carroças ciganas, repletas de crianças avançam no descampado, à procura de um lugar onde acampar.
Minutos mais tarde, os machos, soltos, enganam a fome junto do arame farpado da herdade vizinha; as crianças atravessam a 380, na direcção do povoado; as carroças jazem junto do poço...
Começo a pensar que, afinal, a sombra de cimento da azinheira vai ser muito útil na noite que se avizinha. Isto se não aparecer por ali nenhum sapo de loiça!

24.2.09

De novo, em Évora...

De registar, em relação à última visita, a conservação de alguns dos principais monumentos. Já não há ossos à vista de quem passa! No entanto, o Museu, junto à Sé continua entaipado e a Universidade fechada. Bem sei que é dia de Carnaval, mas o espaço ocupado pela instituição de ensino superior merece o olhar do turista, mesmo que acidental... Quanto a transportes públicos, nem vê-los!

22.2.09

Uma ideia matinal

O dia vai adiantado, não quero, todavia, terminá-lo sem registar uma ideia matinal: quem ensina a ler autores do século XVI não deveria comentá-los sem previamente ler VIDA NOVA, de DANTE ALIGHIERI. E já agora acrescento: A Metafísica Aristotélica.

Se esssa atitude vingasse, evitaríamos leituras biografistas e psicologizantes abusivas tão do agrado dos nossos literatos de moda.

21.2.09

Aquelas pessoas

«O casamento prevê direitos e deveres entre cônjuges, a união de facto não parte do pressuposto de que há um conjunto de deveres entre aquelas pessoas.»  Maria do Rosário Carneiro, DN 21.02.2009

Para além da eventual lacuna da lei apontada pela deputada, há no enunciado um deíctico espacial que me deixa perplexo: “aquelas pessoas”. A deputada, de uma assentada, delimita dois territórios: o seu (dos seus) e um outro, colocado à distância, o de outras pessoas. O primeiro é o espaço da doutrina cristã, redentora; o outro é o espaço da infidelidade ou da heresia.

No essencial, a deputada, expressão de um sistema de valores eleito, tem dificuldade em interpretar os princípios que deveriam reger o socialismo democrático: liberdade, igualdade e fraternidade.

Nesta matéria, a diferença de paradigma tem origem no preconceito.

19.2.09

A maldade e a ironia

Ao contrário da ironia, e que eu saiba, ainda ninguém definiu a maldade como uma figura de estilo. Da ironia, diz-se que ela exige conhecimento do contexto conversacional (discursivo) e cria cumplicidade, apesar de nem sempre demonstrar apego à acção ou, se quisermos, capacidade de meter as mãos no lodo…

Da maldade, a retórica pouco ou nada nos diz… o que não me impede de acordar a pensar naqueles que malham publicamente no ministro e em privado lhe lambem sorrateiramente as feridas…