23.7.09

Em cena…

Questionado pela TSF sobre se admite voltar, o socialista Manuel Alegre respondeu: «Vai haver outras eleições, quem sabe se amanhã não posso voltar».

De saída da Assembleia da República, 34 anos depois de lá ter entrado, M.A. ameaça voltar. Porquê? E para quê? Se a luta política ainda o seduz, então não deve abandonar barco em tempo de tormenta.

Manuel Alegre encontrou o inimigo no seu próprio terreno e em vez de o enfrentar de dentro, prefere assistir à derrocada da sua própria casa – dar mesmo um empurrãozinho! - para, depois, regressar em glória…

Este tipo de encenação agrada a muita gente, mas defrauda a democracia, ao deixar no ar a suspeita de que quando se quiser se pode alterar o rumo e salvar a nação.

Antero de Quental, se pudesse regressar, voltaria a preferir o suicídio à espada de Dâmocles… e a Manuel Alegre o que se pede é que regresse à POESIA…

21.7.09

Os amigos da tirania…

Ultimamente, alguns comentadores políticos têm vindo a insistir que a Constituição não deve consignar qualquer reserva ideológica. E como primeiro argumento apontam que numa democracia consolidada não há espaço para qualquer tipo de proibição ou de sanção, porque o cidadão sabe, em cada momento, destrinçar o bem do mal. Muito gostaria de aprovar este raciocínio, mas a história mostra à saciedade que os grupos (as classes, as castas, as corporações, a arraia-miúda…) são facilmente manipuláveis e, raramente, agem de forma racional e respeitadora dos direitos humanos. Qualquer caudilho consegue cegar multidões e destruir, em pouco tempo, tudo o que sustenta a democracia…

Num tempo de profunda crise económica e ideológica, estes comentadores deveriam saber que este é um momento muito perigoso. É um momento favorável à tirania. E deveriam saber que um "bom" tirano é, por definição, um justiceiro que, ao sacrificar dois ou três prevaricadores, rapidamente agrega uma horda sedenta de vingança.

O TERROR começa por amar o livre-pensador para depois imolar os seus filhos…

E o terror habita em muitos de nós que, almas sensíveis, pouco nos importamos se, pela nossa acção, nos prestamos a sacrificar o primeiro que se atravessar no nosso caminho. A Constituição, em nome da Humanidade, deve definir os limites e não apagá-los definitivamente, porque se o fizermos o tirano esmagar-nos-á…

19.7.09

O anti-capitalista…

«O regime de atenção capitalista fundamenta-se numa alternância de concentração e distracção recíprocas, que desemboca, por um lado, em processos de intensificação da percepção e, por outro, em zonas de anestesia e passividade hipnótica.» Eduardo Prado Coelho, in O Fio da Modernidade, pág. 57, notícias editorial, nov. 2004

Registo, aqui, estas palavras de EPC, quando tudo nos anestesia e convida à passividade hipnótica. No meu caso, é o cérebro que recusa a anestesia e que se entretém a acordar-me com pesadelos que mais ninguém sofre. Como, por exemplo, o daquele aluno que, depois de ser esburgado de todos os seus haveres à entrada da sala de exame, bruscamente interrompe o meu sono, deixando-me em pânico, pois sobre a mesa em que resolve a prova avisto um manual e uma quantidade infindável de cadernos de apontamentos... Imperturbável, o aluno continua a tarefa, avesso a qualquer norma, a qualquer olhar… e eu debato-me, sem conseguir explicar como é que ele furou a vigilância… E tudo isto aconteceu, depois de ter descido à praia do Matadouro, onde adormeci, baixei a guarda, como me acontece sempre que desço ao areal, o que raramente faço, compreendo agora, para evitar o outro lado do capitalismo…isto é, a morte cerebral.   

17.7.09

Inaceitável…

Independentemente das vicissitudes da aplicação do modelo de avaliação  do desempenho, não é aceitável que na Administração Pública haja um grupo um grupo significatvo de funcionários que, a 31 de Dezembro de 2009, não tenham sido avaliados.

Não é aceitável que, no Ministério da Educação, a diferenciação entre docentes possa ser estabelecida pelas fórmulas de cálculo utilizadas. A última aplicação informática (ver Ficha VII) altera  a classificação final atribuída ao docente, se utilizada… e, por outro lado, dificulta a tarefa da Comissão de Coordenação de Avaliação ao aplicar as quotas.

Não é aceitável que a OCDE ao elaborar o estudo sobre a “Avaliação de Professores em Portugal” tenha ignorado, por inteiro, o papel atribuído aos Centros de Formação…

Não é aceitável que, no referido relatório, o perfil do avaliador interno seja mais exigente do que o do avaliador externo. E também não é aceitável que se queira  apostar em lideranças pedagógicas fortes, quando no processo de selecção e de nomeação esse requisito é desprezado…

E também não é aceitável que ao «atribuir um papel proeminente à Inspecção Geral de Educação», nada seja dito sobre o perfil dos inspectores que descerão ao “terreno”…

E não é aceitável que haja ajustamentos diários, ao sabor dos caprichos políticos, sindicais e de lideranças mais ou menos bem formadas…

Os docentes necessitam de alguma paz de espírito para levar a cabo a razão da sua existência: ensinar a aprender – educar, no sentido nobre do termo…

E tudo o que tem acontecido nestes últimos anos evidencia uma enorme falta de educação!

14.7.09

A resposta…

Finalmente, deixei de ser presidente de um Conselho Pedagógico. E já é a 2ª vez que isto me acontece. Nas palavras simpáticas de colegas de jornada e da nova Direcção: cumpri. Mas cumpri o quê? Será que a Escola se tornou mais participativa?

A resposta será dada em Setembro / Outubro. Se a Escola conseguir executar o programa de celebração dos 100 anos do edifício tendo como dinamizadores (e participantes) os seus professores e os seus alunos, então, poderei dizer: cumpri.

O programa comemorativo e plano anual de actividades devem  fundir-se num documento único (projecto) que convoque o passado e o presente com o olhar no futuro, que provoque o encontro dos antigos alunos e dos antigos professores com os actuais… Dessa mobilização poderá resultar o reforço da consciência identitária…

Num tempo em que cada vez mais se aposta no “homem tecnológico”, dimensão, sem dúvida, imprescindível, a ESCamões ainda está em condições de apostar no “homem humanista”. Se quisermos…

12.7.09

Não há sombra de…

Hoje, li uma dúzia de actas… na demanda de um balanço que acaba por ser ele próprio um constrangimento.  Detrás da enunciação o dispêndio do tempo, da vida, ergue-se sorrateiramente: - Tanto tempo para nada!?  Uma lista interminável de actos preenche o vazio da folha, dá-lhe vida. E a mim, traz-me cansaço, perturbação: – Devo ser simpático? Arrasador? Sentir-me gratificado? Traído?…

As respostas deixam de me interessar, e entro por outras páginas. Páginas de cumplicidade de Mário Sá Carneiro e de Ponce de Leão, autores de “A Alma”, onde esbarro na personagem Jorge que responde a Martim: «Nada que é tudo. / E é tudo porque a vida é constituída afinal por uma série de nadas. E logo o Ulisses de Fernando Pessoa me acena : O mito é o nada que é tudo.

E fito nas galerias do Liceu Camões, três vultos que fogem da sala 41, descem precipitamente a escada, e correm para o Clube Estefânia porque não podem perder a primeira temporada da Sociedade de Amadores Dramáticos: Sá-Carneiro, Ponce de Leão e Tomás Cabreira Júnior.

No balanço de 2008/2009, não há sombra nem de AMIZADE (1912) nem de A ALMA (1913). E é pena!

11.7.09

Amanhã, é tarde!

O pedagogo Raul Guerreiro, do Conselho Federal Parental Waldorf, na Alemanha, publicou um artigo na Revista Ibero-Americana de Educación em que dá o Magalhães como exemplo dos "perigos da robotização da educação". No ensaio, o investigador diz que a iniciativa, "anunciada como 'Revolução para a Educação em Portugal" reduz-se a "uma jogada promocional para acompanhar um big business internacional", e cita estudos que apontam riscos do uso de computadores na primeira infância.

Não sei (ou talvez não queira) determinar os riscos do uso de computadores na primeira infância, na adolescência ou na vida adulta. Sei, no entanto, que o Ministério da Educação faz tudo às avessas: primeiro, distribui os computadores aos alunos e, depois, exige que os professores façam prova das suas competências digitais (portaria nº 731/2009, de 7 de Julho). Há muito que o M. E. deveria ter definido e lançado um programa de formação de professores, tornando obrigatória a dimensão digital. Qual é a entidade formadora de professores deste país que aborda, de forma integrada, a dimensão conteudística com a dimensão digital?

Por outro lado, de nada serve o computador ou a competência digital docente, se as nossas escolas continuam sem as infraestruturas adequadas, correndo-se mesmo o risco de um aluno, no ensino básico, aprender a utilizar as ferramentas informáticas e, posteriormente, ao chegar ao ensino secundário, descobrir que a escola não disponibiliza de forma generalizada acesso à internet nem os professores recorrem aos computadores nos processos de ensino e aprendizagem. No fundo, este aluno terá que regressar à escola dos avós!

Não é que o M.E. não saiba que estes problemas existem. Sabe. Só que as soluções não obedecem a um programa de acção bem hierarquizado, que deverá dar prioridade à formação de professores (e não formadores!) e à resolução dos problemas concretos de cada escola (o M.E. não conhece as suas escolas!), em vez de apostar na propaganda, na culpabilização de pais e docentes, e, sobretudo, em despesas faraónicas (parque escolar) que, face ao fracasso  das duas prioridades apontadas, só servirá para endividar o país e engordar uns tantos…

A educação só vale a pena se for para Hoje. Amanhã, é tarde.