13.8.14

Ocultação sem precedentes


Quanto mais leio sobre a autoridade que supervisiona o funcionamento dos bancos com alvará para atuar em Portugal, mais convencido fico que os portugueses estão a ser submetidos a um processo de ocultação sem precedentes.
Isto do supervisor dos bancos se sobrepor à autoridade judicial intriga-me, enjoa-me. Afinal, quem é que confere ao Governador do Banco de Portugal legitimidade para, em seu critério, decidir disponibilizar  à justiça eventuais indícios (provas) de fraude praticada pelos banqueiros?

Ao fingir que o Bem  pode ser separado do Mal, o Governador lembra aqueles "ricos" que decidem murar-se em condomínios fechados para fugir dos "pobres" que, inevitavelmente, veem como um risco. Como não podem esconder a pobreza, os "ricos" passam a viver em fortalezas onde tudo é permitido... Os "ricos" não sabem viver sem porta! Claro que estes "ricos" não têm imaginação suficiente para se defenderem e por isso, tradicionalmente, viviam cercados de escritórios de advogados, de seguranças, de sistemas de defesa eletrónicos... Mas isso, hoje, não chega: os "ricos" ( e os ministros, seus servidores, passe a redundância) nomeiam os reguladores, os supervisores, os assessores, os auditores... E com essa estratégia vão afastando definitivamente o poder judicial ...

12.8.14

Filhos, nunca digam que são meus filhos!


Aos 31 anos, Luís Durão Barroso vai integrar os quadros do Banco de Portugal, após uma contratação sem concurso, adianta o Jornal de Negócios. O filho de Durão Barroso terá “comprovada competência” e foi contratado para o Departamento de Supervisão Prudencial.
Os meus filhos não têm culpa do pai não ser presidente, ministro, deputado, banqueiro, administrador, autarca, diretor, empresário... 
Os meus filhos gastam os dias a entregar currículos que ninguém lê, embora, por vezes, cheguem a ser entrevistados. O resultado é inevitavelmente o mesmo: os meus filhos são demasiado habilitados...
Os meus filhos, por serem filhos de quem são, nunca serão contratados por lhes ser reconhecida "comprovada competência"...
O único conselho que posso deixar aos meus filhos: Filhos, nunca digam que não são filhos de presidente, ministro, deputado, banqueiro, administrador, autarca, diretor, empresário...
Espero que os meus filhos me perdoem...

11.8.14

Procedimento Derivacional

Lista homologada dos candidatos excluídos
Divulga-se a Lista dos candidatos excluídos do Procedimento Concursal Comum

Acabo de consultar o sítio da Direção-Geral de Educação (DGE), à procura de confirmação de uma notícia veiculada pelos jornais: os professores que esperam aposentação podem solicitar ao respetivo diretor dispensa da atividade letiva...

Não encontrei confirmação, mas pude confirmar que entre 1 e 8 de agosto não há notícias relevantes, à exceção da pérola em epígrafe...

Curiosamente, em nenhum dos enunciados há um sujeito expresso, um pouco como se, no MEC, tudo fosse fruto de uma engrenagem automatizada.
Não posso deixar de apreciar a subtileza da utilização da maiúscula e da subalternização dos "candidatos excluídos" e, sobretudo, admiro o engenho de quem teve a ideia de substituir o  nome "concurso" pela expressão "Procedimento Concursal Comum". É obra!
Em particular, sinto-me arrebatado pelo adjetivo "concursal". Um exemplo precioso do que é um adjetivo relacional.
Estão a ver: a) é o adjetivo derivado de base nominal, que permite a expressão "relacionado com N", sendo o Nome (N) a forma derivante.
Exemplos: relacional / relação (N); nominal / nome (N); teatral / teatro (N); concursal / concurso (N); educacional / educação (N)...

E quanto ao Procedimento Concursal, se não fosse Comum o que seria?  Eu optaria pela minúscula, o que exigiria, no entanto, homologação prévia. De quem? E lá voltaríamos ao sujeito. Ao Sujeito?

10.8.14

Em Agosto

Dá vontade de perguntar se, em agosto, vale a pena escrever, apesar de nenhum escrevente viver suspenso do leitor estival. No entanto, a pergunta faz sentido. Basta pensar na degradação do gosto, ostentada horas a fio nas televisões e nas redes sociais. Basta pensar na degradação de toda a classe política enfeudada a seitas, a banqueiros, a construtores civis, a dirigentes desportivos…
No país do bocejo e da boçalidade, já não espanta que um artista como Rui Veloso tenha decidido suspender a carreira. Há tempos, Fernando Tordo decidira emigrar…
Infelizmente, dizer que se suspende o que quer que seja  acaba por ser um modo eufemístico de anunciar o fim de uma certa realidade em vias de dar lugar a uma outra ainda mais pobre.
Dá vontade

9.8.14

Em nome dos bancos

«… a Constituição de 1933 era o instrumento da vontade de Salazar; ele explorou cada artigo a seu favor, interpretou as suas ambiguidades como muito bem entendeu e reescreveu artigos quando já não lhe convinham. Nada nela era afinal definitivo; nenhuma instituição ou prática por ela criada tinha a garantia de uma vida longa ou de sobrevivência.» Salazar, vol.II, de Filipe Ribeiro de Menezes.

Ao ler a biografia política de Salazar,  não posso deixar de pensar nos homens que nos governam.  Com a cumplicidade de Carmona, Salazar gizou um projeto pessoal de poder, manipulando a Constituição e afastando todos os que publicamente se atreviam a contestá-lo, de modo a eternizar-se como homem providencial.

Atualmente, tudo é gizado do mesmo modo, só que somos governados não por um mas por vários salazares. E sempre sob a cumplicidade do presidente de serviço…

Carmona agia em nome do Exército ( a ditadura militar). Hoje quem mais ordena é a Banca (a ditadura financeira).

8.8.14

O fim de um ciclo

Os degraus ajudam a subir ou a descer conforme o apego que temos à casa. Hoje foi dia de desapego pesaroso, apesar da casa materna ser outra  e de há anos  ter sido trocada por esta agora entregue aos novos proprietários…

Os girassóis nunca habitaram a casa, mas pode ser que finalmente germinem para assinalar o dia que em ela mudou de mãos. Um primeiro sinal: aquela menina que estoicamente suportou o ritual de passagem…

7.8.14

Das pedras

Perante a confusão reinante, prefiro contemplar a disposição das pedras. Não sei se estão bem dispostas, admiro-lhes, contudo, a leveza que lhes permite serem solidárias sem fastio.

Estas pedras parecem procurar a harmonia na instabilidade e elevam-se no azul sem procurar qualquer aprovação. Junto delas respiro sem peias, ainda que por pouco tempo…