23.3.16

Apesar da flor...

A flor esmorece...

Nem a chegada da Primavera suspende a chuva. E com ela, a flor esmorece...
Por este caminhar, os frutos irão faltar... e tudo iremos importar.
No entanto, há flores que resistem anunciando colheitas escassas, mas de qualidade.
Se procurarmos bem, também há homens que não esmorecem, porém esses são mais difíceis de encontrar...
O esmorecimento é uma tentação que, por vezes, seduz pela possibilidade de desistir. 
Se o que vai acontecendo ocorresse no Outono, então...

 20.03.2016

A corrupção é inevitável...

A riqueza dos Estados Unidos depende fortemente da desestabilização global e regional. Há 100 anos que é assim!
O que se passa no Brasil é a expressão de que a distribuição da riqueza por muitos ofende claramente os interesses dos conservadores locais e, sobretudo, dos vizinhos do Norte.
A divulgação das conversas entre os dirigentes políticos é feita de forma seletiva para criar o caos. Há muito que os Estados Unidos controlam toda a informação, utilizando-a cirurgicamente. Acontece agora, mas já está em curso há vários anos...
E a corrupção? Esta é inevitável nos políticos filhos da pobreza. Rapidamente, percebem que no aproveitar é que está o ganho e, sobretudo, que, se se mantiverem pobres, não têm qualquer hipótese de ombrear com todos aqueles que controlam o mundo da finança. 
Se não podes com eles, junta-te a eles!
Também, em Portugal, nas últimas décadas, foi esse o caminho. Num país pobre, a gente pobre, quando chega ao poder, acaba por se juntar a eles. E o caminho é a corrupção... 
Quanto aos ricos corruptos, a ambição não tem limites.

21.03.2016

Como se o orçamento os pudesse alimentar a todos

A reivindicação é notícia. Dos empresários aos trabalhadores, todos reivindicam como se o orçamento os pudesse alimentar a todos...
O Governo, por seu lado, desdobra-se em compromissos com cedências a torto e a direito, pois sabe que o seu tempo é curto. Em vez de informar devidamente o país da verdadeira situação financeira, prefere fingir que pode satisfazer todos os interesses, sem perceber que há muitos sectores que procuram derrubá-lo, tanto à direita como à esquerda...
(...)
Infelizmente, os governantes portugueses não têm espinha dorsal, até porque ignoram a História do séc. XX. Bastava-lhes ter estudado as crises com que os países ocidentais se debateram entre as duas guerras mundiais, para compreender que a solução para os problemas da economia dos povos vai muito para além da simples alternância entre governos de direita e de esquerda...
Nem a austeridade nem a distribuição de recursos voláteis resolve os problemas colocados pela progressiva e inevitável eliminação de postos de trabalho e pelo envelhecimento das populações.
Há que desenhar uma estratégia e aplicá-la sem calculismos eleitoralistas.

22.3.16

O ato terrorista

«O ato terrorista é uma negação da individualidade, é uma negação do ser humano, naquilo que ele tem de único, em nome de uma causa geral.» Aloysio Nunes Ferreira, deputado brasileiro.

Independentemente das causas, o autor do ato terrorista é um ser formatado que age quase sempre em nome de uma causa geral.
Em termos de combate há que identificar e conhecer plenamente as causas gerais e, principalmente, desmantelar todos os modelos de formação que contribuem para a alienação (formatação) de jovens que, em muitos casos, crescem em espaços multiculturais fechados sobre si próprios.
A prevenção do ato terrorista depende assim da definição de modelos de sociedade e de educação que impeçam a catequização de indivíduos desintegrados e marginalizados em territórios com autonomia própria...

18.3.16

Com sabor a baunilha

Conheci um puto que poupava durante três meses para poder comprar um pacote de bolacha baunilha. E quando, finalmente, saboreava a primeira bolacha, sentia a consciência pesada. 
Aquela extravagância perseguia-o para onde quer que fosse, porque, lá no íntimo, percebia que quebrara o princípio de que não se deve desperdiçar dinheiro com coisas inúteis, nomeadamente, que não deveria ter cedido ao pecado da gula...
De facto, aquele pecado não resultava de um impulso momentâneo: a todos os três meses, lá comprava um pacote de baunilha, com uma única exceção anual - em abril, substituía a bolacha por um gelado, de preferência, de baunilha.
Agora avançado na idade, só raramente compra um pacote de bolacha baunilha, e não porque lhe pese na consciência, mas porque quem o poderia censurar partiu para um lugar onde não é preciso poupar durante três meses para poder comprar um pacote de bolacha baunilha ou trocá-lo por um gelado de baunilha...
Descobri, agora, que aquele puto tinha um único sonho. Que, quando os seus amigos se forem despedir dele, alguém tenha comprado alguns pacotes de bolacha baunilha, e que todos possam saborear uma bolachinha... com sabor a baunilha. Ou, se for abril, que a possam trocar por um gelado... de baunilha.

17.3.16

Parecia que o sol brilhava

Avolumam-se as nuvens - parecia que o sol brilhava. Mas é uva por amadurecer.
De forma sibilina, Freud separou as pulsões da vida das da morte. Há, contudo, quem procure a vida através da morte.
O caminho é sedutor. Porém, no canavial sopra uma friagem que se desfaz em pranto...
Em tudo, há uma oposição irritante. Chamam-lhe coordenada adversativa; melhor seria chamar-lhe bifurcação. E, em vez de um caminho, são agora dois sem regresso.

16.3.16

Avolumam-se as pausas

Avolumam-se as pausas - discutem-se os últimos escândalos, a bola, a família, a falta de educação, os excessos... dos outros, as insuficiências dos outros, os erros dos outros...

Por vezes, as pausas são interrompidas para regressar ao trabalho de mostrar ao chefe que o posto de trabalho não foi desertado...
De qualquer modo o esforço é inglório, porque o chefe não descola do lugar que ele próprio determinou ser o seu. 
Hoje a pausa é em frente de um televisor, de onde é possível avistar um funeral de alguém que por aqui passou, sem que, aparentemente, tenha deixado qualquer indício... 

(Começo a pensar que sou invisível! Eu que não sou chefe, observo e registo sem que isso desperte a mínima atenção. Do outro lado, o televisor vai mostrando imagens que não descortino; a própria voz da repórter é abafada por um discurso múltiplo sobre as insuficiências e os erros dos outros, no caso, das outras, por ora, ausentes...)

15.3.16

"Eu fui teu amigo"

Embora sempre ocupado, em algum momento deves ter pensado naqueles amigos que te ignoravam, mas que na tua morte não iriam desperdiçar a oportunidade de saudar a tua jovialidade, a tua fraternidade, o teu  talento.
Nesse momento, o teu sorriso seria amargo, mas por pouco tempo, pois faltava-te o tempo para suportar a mediocridade, embora soubesses que a melhor forma de te desforrares seria representar essas vidinhas postiças.
Desta vez partiste, sem qualquer encenação, sem qualquer sorriso, mas nem por isso a mediocridade irá desaproveitar o momento de dizer "eu fui teu amigo"...
No que me diz respeito, a tua morte trouxe-me à memória que falta algures o teu testemunho, e não sei se foi porque, à data, estivesses ocupado ou, simplesmente, porque as tuas palavras poderiam destoar...

(Na morte de Nicolau Breyner.)

14.3.16

Sou eu que gosto e mais ninguém!

O gosto será determinado pela vontade? Do tipo 'eu não quero gostar de sopa e portanto não gosto de sopa'.
A decisão parece resultar de embirração!
Se os adultos não comem sopa, por que motivo dão sopa à criança... E mesmo que os adultos comam sopa, a vontade de afirmar a diferença, não vá o exemplo coartar-lhe a liberdade, obriga à rejeição sob a forma de choro, grito ou simplesmente de boca cerrada...
(...)
Os dias passam e o gosto vai ficando cada vez mais apurado: eu quero, eu não quero; quero, não quero; não... já disse que não!
Por outro lado, o gosto não exige aprendizagem, não requer conhecimento do outro, nem do contexto em que ele nasceu, cresceu e morreu...
Sou eu que gosto e mais ninguém!
(...)
O gosto foge de qualquer forma de desgosto... e se não for suficientemente convincente, parte para a demolição de todo e qualquer património, porque nada pior para o gosto do que admitir que outro possa ter realizado qualquer coisa digna de admiração...
Sou que gosto e mais ninguém!