17.12.16

Desabafo em dia de ranking

Espaço vetusto. Equipamento obsoleto. Corpo docente envelhecido. Corpo discente heterogéneo e mal preparado...

Ranking tradicional: 146 (10,85).
Ranking alternativo: 225 (0,58)

Todos os dias são esforçados, mas os resultados não premeiam o empenho da comunidade escolar.
E no próximo ano, tudo continuará...

Claro que há sempre quem olhe para o lado. Ainda por cima... para o lado errado.

16.12.16

O telefonema do Hospital Central de Lisboa

Se não formos direto ao assunto, ninguém nos segue.
Pois, faça-se a vontade de quem ainda a tem ou pensa ter!
A cirurgia estava marcada para as 11 horas. A receção no hospital Curry Cabral marcada para as 10h45.
Às 10h05, o telefonema: - o Senhor ainda está em casa? Não vale a pena deslocar-se, o anestesista acaba de avisar que não pode estar presente...

No metro, o utente do SNS desespera. (Preparara-se para a intervenção, há meses considerada urgente, desmarcando todos os compromissos previstos para a semana anterior ao Natal, não ingerira qualquer alimento, sólido ou líquido, avisara os amigos... e a agora o telefonema! Ainda pensara que estivessem preocupados, não fosse ele atrasar-se. Nada disso! E de chofre, nova pergunta: - Será que é possível realizar a cirurgia no Natal ou no Ano Novo?)

Sob chuva intensa, o paciente desloca-se à Secretaria do Hospital. A explicação não muda uma vírgula: - O anestesista não apareceu. (Já na  consulta de preparação, também marcada para uma sexta-feira, o anestesista não aparecera.) A funcionária, solícita, procura encontrar nova data na agenda - um nome de outro doente é riscado... e a cirurgia fica marcada para o dia 27, uma terça-feira, dois dias depois do Natal...

(O testemunho é do "adulto responsável", cujo dever é acompanhar o doente no pós-operatório, prestando-lhe os cuidados que o SNS passou a delegar nas famílias para evitar maiores custos.)

15.12.16

Um pássaro esverdeado

Acordo cedo. A gata arranha a porta. E não sei se acordo cedo porque a gata arranha a porta ou se a gata arranha a porta porque acordo cedo.
Ela sabe que não lhe quero abrir a porta, mas que pode tirar vantagem, pois reforço-lhe a ração da madrugada. Eu quero distraí-la do objetivo inicial, no entanto desconfio que o objetivo dela seja diferente do imaginado.
Até porque a gata, satisfeito o apetite, desloca-se para a sala, e imobiliza-se junto do computador à espera que eu o ligue... e verifique quem está online ou se, no tempo de Morfeu, algo aconteceu de verdadeiramente insólito.  E esfíngica, observa todos os meus movimentos até que eu conclua as rotinas da madrugada...
Só reage à abertura da porta que dá para o patamar... aí, ela consegue esgueirar-se e não perde a oportunidade de subir o lanço de escadas que dá acesso ao sótão. Abro a porta do elevador à espera que ela queira entrar, porém ela prefere regressar a casa ou, em alternativa, descer o lanço de escadas que dá acesso ao 11º andar.
(a escrita, neste, momento torna-se mais difícil, pois ela insiste em dar-me marradas e em digitar uns sinais ++++, o que é o menos, pois de seguida a vítima é o S. José que corre o risco de ficar sem bordão.)
A Sammy vive cá em casa como viveria em qualquer outra casa, apesar de aqui ela poder exercitar-se no varão, sem nunca esquecer o seu velho peluche - um pássaro esverdeado, reduzido à expressão mínima. Por vezes, oferece-mo... e eu agradeço.
(... )
Há uma hora atrás, perguntaram-me se iria "passar o Natal à terra". Pergunta inofensiva, mas que me surpreendeu de tal modo que eu retorqui "Qual terra?" E pensei "aquela terra nem cemitério tem!" Só agora dou conta que não posso voltar à terra, pois a Sammy não gosta de descer de elevador, embora possa voar atrás do velho peluche esverdeado...
Entretanto, já lhe prometi que, um destes dias, vamos ler  O Gato Preto, de Edgar Allan Poe:

«Não espero nem solicito o crédito do leitor para a tão extraordinária e no entanto tão familiar história que vou contar. Louco seria esperá-lo, num caso cuja evidência até os meus próprios sentidos se recusam a aceitar. No entanto não estou louco, e com toda a certeza que não estou a sonhar. Mas porque posso morrer amanhã, quero aliviar hoje o meu espírito. O meu fim imediato é mostrar ao mundo, simples, sucintamente e sem comentários, uma série de meros acontecimentos domésticos. Nas suas consequências, estes acontecimentos aterrorizaram-me, torturaram-me, destruíram-me. No entanto, não procurarei esclarecê-los

14.12.16

Eu nunca fui a Benguela!

Eu não vou à piscina!
Eu não bebo coca-cola!
Eu nunca fui a Benguela!
No entanto, o tio Vítor foi a Luanda dizer que era dono de uma piscina cheia de coca-cola em Benguela!
(...)
Eu ainda tenho um tio que conheceu Luanda, Sá da Bandeira e Benguela. (Um dia ofereceu-me um avião que esteve imenso tempo imobilizado sobre um guarda-fato!) Este tio nunca me deu conta da existência de qualquer piscina cheia de coca-cola - nem sequer na Jamba! A verdade é que este tio, que deixou Angola minutos antes do camarada Neto presidente da RPA ter tomado de posse, se recusa a contar a sua desventura africana...   
(...)
Em Luanda, parecia só haver gasosa, uns camaradas cubanos, sem esquecer os camarades sovietes a construir um mausoléu com forma de foguetão...
Em Lisboa, já ninguém sabe quem foi o camarada presidente Neto, para quem os camaradas sovietes iam construindo um mausoléu leninista... e muito menos o que é um mausoléu...
Em Lisboa, os putos nasceram todos a beber coca-cola e a ver televisão a cores, e pensam que a natureza é uma chatice... e que o passado nunca existiu.
Em Lisboa, nem na rua há putos. Estão todos online, não se sabe a fazer o quê... talvez, a experimentar o cyberbullying ou a aprender uns truques de magia para matar o tempo nas aulas de Português. 

13.12.16

O seu a seu dono

A administração do Santander afirma ter tomado, por 46 vezes, a iniciativa de propor a renegociação desses contratos, face aos potenciais prejuízos acumulados depois de 2008. Mas, na ausência de um acordo, os 9 contratos de swap, celebrados entre junho de 2005 e novembro de 2007 com a Metro do Porto, Metro de Lisboa, STCP e Carris, estão a ser julgados desde o passado dia 12 num tribunal em Londres, por iniciativa do banco espanhol.

Como prezo o rigor, relembro que os piores contratos de swaps são posteriores a junho de 2005, e que António Guterres, foi primeiro-ministro de Portugal entre 28 de outubro de 1995 e 6 de abril de 2002.
Almeida Garrett defendia, nos anos 40 do século XIX,  a criação da lei da responsabilidade ministerial que punisse todos aqueles que pusessem em causa a "res publica". Não sei se na arca do legislador existe tal lei, verifico, no entanto, que as responsabilidades continuam por apurar... o que permite que "as guerras de alecrim e manjerona" se perpetuem...
De qualquer modo, quem é que lê António José da Silva e Almeida Garrett?

Em 2013, quatro empresas públicas de transportes de passageiros consideraram inválidos os contratos 'swap' celebrados, suspendendo os respetivos pagamentos. Em causa está uma factura superior a 1.300 milhões de euros.
O Tribunal Superior (High Court) de Londres rejeitou esta terça-feira um recurso de quatro empresas públicas de transporte portuguesas, mantendo a decisão da primeira instância que determinou a validade dos contratos 'swap' com o Banco Santander Totta (BST).

12.12.16

António Manuel de Oliveira Guterres

Não é possível ficar indiferente!
António Guterres, nascido a 30 de Abril de 1949, tomou hoje (12.12.2016) posse como secretário-geral da ONU, o cargo mais distinto a que alguém pode aspirar, não pelo força que possa deter, mas porque poderá efetivamente contribuir para a construção de um mundo diferente, para melhor: mais solidário, mais pacífico e mais equitativo.
Na cena internacional, esta é a posição mais elevada que um português jamais atingiu. Um português que sempre procurou ser melhor nos estudos, na vida profissional, na vida política e, sobretudo, na defesa dos mais pobres e das vítimas das guerras e das calamidades que têm assolado os vários continentes.
Com este perfil, acredito que António Guterres tudo fará para que, doravante, o mundo seja um pouco menos triste, mesmo sabendo que a mesquinhez dos interesses lhe criará novos obstáculos, todos os dias.
Mas há que subir a montanha!

11.12.16

No reino das sombras

Um destes dias, alguém me perguntou se o "epílogo" surge no princípio ou no fim da obra... surpreso, respondi sem perceber a razão da questão. Era suposto o leitor observar o manuscrito e verificar a posição da sequência...
Entretanto, não pensei mais no epílogo até que, ao assistir ao bailado "La Bayadère", no Teatro Camões, recordei o episódio no meio do terceiro ato " No Reino das Sombras".
Não sei se por causa da duração, a verdade é que me interroguei sobre o motivo porque demoramos tanto tempo nesse reino sombrio... Afinal, dele nada sabemos!
Para nosso bem, e sobretudo dos que nos acompanham, o epílogo deveria ser breve... e quanto ao reino das sombras já era tempo de o democratizar, pois creio que por lá o poder é poeira...