12.10.17

Em dois pés

Nada avança, nem sei se não será melhor assim.
À volta é só especulação e depressão!
Uns presos ao passado, outros a um futuro impossível.
Por mim, cansado de formular perguntas e de fazer reparos, creio que o melhor é desligar, e, de preferência, em dois pés, desatar a andar... seguro, no entanto,  de que não irei longe.
Até que um dia lá terão que se habituar!

11.10.17

Um romance com 4000 páginas é obra!

Bem sei que uns tantos juristas desistiram do Direito para se dedicarem à Literatura. Outros, como a Literatura não mata a fome, lá foram vivendo com um pé num lado e outro no outro, mas sem grande arruído...
Hoje, ouvi, no entanto, um advogado afirmar que a acusação no "caso Marquês" não passa de fantasia, de um romance com 4000 páginas...
Um romance com 4000 páginas é obra! O que é que terá passado pela cabeça do romancista? Não vai ser fácil encontrar leitores com tempo e fôlego para fruir tal obra... 
Face a tal desconchavo, vou esperar que o engenheiro Sócrates não seja condenado por ter escolhido mal o crítico literário. 
E já, agora, recomendo que uma obra de tal dimensão seja lida longe dos meios de comunicação, dita, social, para não envenenar a populaça...

10.10.17

Carles Puidgemont, uma figura messiânica?

Fui ler o artigo da Wikipédia sobre Carles Puigdemont i Casamajó, e o que me desperta a atenção é a sua formação, o seu percurso profissional e político centrados na identidade cultural catalã, como se estivesse a ser preparado para a cumprir o destino nacionalista... Uma figura messiânica?
Quanto à aspiração catalã de independência, ela não me surpreende, pois se não é tão antiga como a portuguesa, anda lá perto. Como se sabe, no século XVII, a restauração da independência portuguesa só foi possível graças à subjugação da Catalunha. Se os ventos independentistas tivessem soprado de outro modo, o rumo português teria sido certamente bem diferente!
Apesar de ser defensor de uma Ibéria reunida num estado federal, creio que, do ponto de vista português, no contexto atual, a Catalunha satisfaz as condições para declarar a sua independência e de que nada serve esperar que Castela lha reconheça...
O que me preocupa, no entanto, é o messianismo de que Carles Puidgemont parece investido...
(...)
Está declarado o estado de nevoeiro - temos agora um novo conceito: A República da Catalunha suspensa...

8.10.17

Na minha vida de campónio

O sargaço e o pilado

«Minha alma é lúcida e rica
E eu sou um mar de sargaço
              Fernando Pessoa

Compreender a ideia ( a metáfora) pressupõe uma experiência do leitor que, muitas vezes, este não detém.
No meu caso, por exemplo, levei algum tempo a interpretar o verso, pois nunca me passara pela cabeça que o sargaço pudesse ser uma alga utilizada como fertilizante, tal como o pilado (caranguejo voador)...
Na minha vida de campónio, o mar era uma miragem, os adubos químicos eram caros, e o único fertilizante natural era o estrume. 
Imagine-se, agora, que eu era aprendiz de poeta e ousava escrever "Minha alma é lúcida e rica» / E eu sou uma courela de estrume
Já estou a imaginar a jovem professora, algarvia e marítima, Lídia Jorge, a dizer-me "o menino está a assassinar a poesia..."

Em tempo de agricultura biológica, será que o jovem leitor ecologista terá tempo para recuar à época em que não havia adubos químicos e, sobretudo, para se googlar  e observar atentamente: 
Sargaço
Hoje, dispomos de tantas ferramentas que é pena que as escolas não estejam devidamente equipadas para suprir as insuficiências que nos distanciam de outrora... Por exemplo, amanhã, se quiser utilizar este post, o mais provável é que o computador tenha adormecido ou que o sinal de Internet seja tão fraco que a estratégia morra no momento... e a Escola a que me refiro, em particular, está localizada em Lisboa a 100 metros da sede da Altice - ou será da PT?

7.10.17

E depois há o leitor

Observemos o seguinte fragmento do Livro do Desassossego:

«Para alguns que me falam e me ouvem, sou um insensível. Sou, porém, mais sensível - creio - que a vasta maioria dos homens. O que sou, contudo, é um sensível que se conhece, e que, portanto conhece a sensibilidade.»

Nele, as emoções são objeto de fina análise, através da imaginação verbal, o que lhes dá uma poeticidade única. 

(E depois há o leitor que insiste na identificação, umas vezes, narcísica, outras vezes, malévola, sem esquecer o leitor besta, mas doutorado... )

6.10.17

Competência essencial

Saber interpretar é uma competência essencial. Fernando Pessoa é um dos maiores intérpretes da condição humana. Fê-lo com um rigor inexcedível. Todas as suas "máscaras" são a expressão de um espírito geométrico que permanentemente procurou desmascarar o conhecimento tido como definitivo...
Nos tempos que correm não basta escrever sobre esta convicção, é necessário saber ilustrá-la... e mesmo assim!
Vem este arrazoado a propósito da resolução, inscrita no manual Sentidos 12 (versão professor), da seguinte pergunta: - caracterize o sujeito poético, justificando a sua resposta com elementos textuais pertinentes: O sujeito demonstra alguma confusão interior como se percebe pela primeira estrofe quando afirma "Tenho tanto sentimento / que é frequente persuadir-me de que sou sentimental..."
O problema é, no entanto, outro. Bastaria saber que a referência de sentimento é, à luz do conhecimento da época, distinta da de sentimental. É sentimental todo aquele que se deixa conduzir pelas sensações, pelas emoções... Por outro lado, o sentimento, embora possa ter origem na sensação, é uma realidade mental, drenada pela razão; é fruto da autoanálise e da imaginação: Mas reconheço, ao medir-me / Que tudo isso é pensamento / Que não senti afinal
Onde é que paira a confusão interior?
(...)
O que este poema demonstra é que o homem, por mais que racionalize, não tem qualquer ferramenta que lhe permita saber distinguir a vida verdadeira da vida errada, mesmo se as Ciências Humanas (Teologia, Filosofia, Psicologia...) insistem em defender que os sentidos são fonte de erro e a razão fonte de certeza, de verdade...

5.10.17

Preocupante

Quando tanta gente ignora o que é o sebastianismo, anda por aí um político que ainda não regressou à toca, mas que já promete voltar... E enquanto não regressa, procura-se um cordeiro que por ele se imole...

A Academia sueca diz que o Prémio Nobel de Literatura de 2017, Kazuo Ishiguro, é uma mistura de Jane Austen, Franz Kafka e de Marcel Proust... Uma mistura! Estou em crer que o António Lobo Antunes, para a Academia sueca, deve ser uma máscara do Rui Rio.

No dia República, também se celebra o dia do Professor. Nunca percebi porquê. Será porque a República os trata tão mal?

Em Espanha, continua o conflito entre o estado central e uma das regiões autonómicas. Será que ambos sofrem de amnésia?

Entretanto, já há previsão do número de mortos para o caso da Coreia do Norte insistir no confronto militar. Mais de dois milhões!

« A nossa inteligência abstrata não serve senão para fazer sistemas, ou ideias meio-sistemas, do que nos animais é estar ao sol.» Fernando Pessoa / Bernardo Soares