7.3.19

Porque...

“... porque para os professores este Governo morreu”. Fenprof

No que me diz respeito, o Governo de António Costa continua em funções, e avaliá-lo-ei pelo (in) cumprimento das promessas…
Por outro lado, não aceito que a Fenprof se arrogue o direito de falar por mim, muito menos o senhor Mário Nogueira…
É bom não esquecer que algumas causas da atual situação resultam de opções erradas impostas pelos sindicatos dos professores.

A violência é uma consequência

A violência doméstica não terá fim, pois é apenas uma das faces da violência gerada pela desigualdade e pela injustiça que minam a sociedade portuguesa.
Nas últimas décadas, a governação só contribuiu para o acentuar da pobreza e para a degradação dos valores.
Quando a pobreza cresce e a corrupção aumenta, não há propaganda que nos salve, não há comissões multidisciplinares que possam por cobro à violência nas famílias, nas escolas, nas ruas, nas prisões, nos hospitais…
A violência é uma consequência.

6.3.19

A experiência consumada

Não é que queira mudar o mar de lugar ou sugar-lhe todo o lixo que o mata, tento, todavia, esvaziar dezenas de pastas que fui acumulando, rasgando faturas e comprovativos de despesas que, vistas à distância, dão conta do consumismo gratuito para que fui empurrado ou confundi com a necessidade do momento… 
A experiência consumada diz-me que me tornei num mar de plástico quando me imaginava de sargaço. Enredado, vi na novidade a solução para um problema que eu próprio ia criando, colocando a carroça na frente dos bois…
A verdade é que a vida parece mais não ser do que a acumulação do lixo em que nos vamos transformando.
Talvez por isso Giovanni di Pietro di Bernardone tenha deixado Assis, longe de imaginar que um dia seria patrono de um mar que as cidades há de afogar… se não reduzirmos significativamente o consumo… 

5.3.19

Por este andar

Chegar ao topo é ótimo, o problema são as escorregadelas!
Não faltam exemplos de júbilo provocado pelo sucesso, em regra, efémero, mas que insistimos em imaginar como consistente… 
Sem a comunicação social e as redes sociais, a glória inconsistente seria momentânea. Talvez seja por isso que acabo de ler que o primeiro-ministro 'vai ao programa da cristina no dia de carnaval'...
Por este andar, a quaresma será tempo de tormento e durará muito para além da páscoa...

Perdigão perdeu a pena
Não há mal que lhe não venha.

Perdigão que o pensamento
Subiu a um alto lugar,
Perde a pena do voar,
Ganha a pena do tormento.
Não tem no ar nem no vento
Asas com que se sustenha:
Não há mal que lhe não venha.

Quis voar a uma alta torre,
Mas achou-se desasado;
E, vendo-se depenado,
De puro penado morre.
Se a queixumes se socorre,
Lança no fogo mais lenha:
Não há mal que lhe não venha.
 Luís de Camões

4.3.19

Não vá o caldo entornar-se

Esta noite, um vizinho resolveu colocar umas prateleiras no espaço comum das garagens, e sem dizer água vai, entrou na minha boxe e mudou-me o arquivo para o espaço público - ignoro a intenção. Desconfio, todavia, que nada aconteceu e que ando a delirar como toda a gente. Até me passou pela cabeça, ao raiar da manhã, que o melhor seria transformar o arquivo num livro temático…. Bem sei que na quadra ninguém leva a mal, vou, no entanto, antecipar a quaresma… não vá o caldo entornar-se e cair na alçada de algum neto.

2.3.19

Borrões, aquelas cartas

Borrões, aquelas cartas… Melhor seria que não tivessem sido escritas.
Que se saiba, desapareceram todas. De qualquer modo, resta ainda uma memória zangada, apesar do interlocutor também ter tido razões de sobra para se sentir ultrajado. Lá no fundo, a indecência nascia de um acerto de contas irracional, como se o outro, anterior ou coevo, pudesse determinar o caminho… 
A página azulada, mais do que expressão da solidão, corria vergastada de vingança não do passado mas da separação… nesse tempo em que tudo se esvaziava no sono quase diurno do que poderia ter sido a primavera…
Borrões de dor desnecessária, aquelas cartas melhor seria que nunca tivessem sido escritas… Essa primavera que nunca chegou a acontecer… ou que se chegou, foi tarde e com outras cores...

1.3.19

A tinta de Cesário Verde

Fui ver se o João Cabral de Melo Neto ainda continuava com dor de cabeça, e encontrei-o a discorrer sobre a  tinta de Cesário Verde:

Cesário Verde usava a tinta
de forma singular:
não para colorir,
apesar da cor que nele há,

Talvez que nem usasse tinta,
somente água clara,
aquela água de vidro
que se vê percorrer a Arcádia.

Certo, não escrevia com ela,
ou escrevia lavando:
relavava, enxaguava
seu mundo em sábado de banho.

Assim chegou aos tons opostos
das maçãs que contou:
rubras dentro da cesta 
de quem no rosto as tem sem cor.
(…)

Nem dor de cabeça nem aguarela, apenas pomos de ouro num mundo sem cor... Amanhã é sábado! E hoje, que dia foi? Entre a primavera e o outono a escorrer para o inverno, um muro ou será uma muralha? Antiga, muda, sem queixume… só a água a pode colorir.