14.3.19

E um aluno pergunta, ainda...

E um aluno pergunta, ainda…
e o aluno espanta tão óbvia parecia ser a resposta… (A. S., plátanos desafiantes)

Próximo dos plátanos, só na distância, porque raro é aquele que pergunta o nome da árvore que em certos dias  lhe magoa as narinas e os olhos, lhe intumesce a garganta… e ensombra o estio…

… só o trinado dos pássaros em voo catabático antecipa a primavera e já nem as estações são óbvias… por vezes, um besouro esquecido de que deveria anunciar as chegadas, em vez de assombrar aqueles corpos tão assustadiços… 

13.3.19

O caminho da gratuitidade

A citação exemplifica, ilustra uma ideia. A citação fundamenta um argumento.
No entanto, a citação pode, se parodiada, reverter os princípios que sustentam uma cultura ou fazê-la cair na gratuitidade. 
No geral, a blasfémia prefere a alusão, fértil em solos arenosos percorridos por ventos desenfreados  por prestidigitadores verbais quase sempre idolatrados por uma sacerdocracia volúvel e calaceira...

12.3.19

À volta dos estereótipos

«Vestidos de preto que matavam pessoas, degolavam»…

Ainda pensei que fossem os sarracenos. Mas não, a versão é mais recente e mediática. Supostamente, a imagem permanece na memória juvenil ou está ao alcance do olhar vagabundo, delinquente, pronto a diluir-se numa inocência desamparada. Ou será revoltada?
Ainda procurei uma explicação mais fina, mas não, a definição não deixa pontas soltas: «o preto é a ausência de toda a cor ou luz e, em todo o mundo, está associado ao mal. É a cor do mistério, da penitência, da condenação, da angústia e representa o submundo.»
Olhei à volta, não eram muitos os que vestiam de preto, mas lá estavam dois ou três, sem albornoz nem cimitarra, creio…
Eu por mim, vou ler "Os sinais da infâmia e vestuário dos mouros em Portugal nos séculos XIV e XV".Os sinais de infâmia

11.3.19

O besouro

Nada fica. Porquê?
Será apenas desinteresse? Ou será uma nova forma de estar, desmemoriada, para poder esticar a vida?
As conexões antigas diluem-se, talvez para que outras, inocentes, possam libertar-se…
Esta rutura assusta, e há quem a explique com a falta de empenho ou, em alternativa, com as portas arrombadas, perdidas as chaves do presente.
A própria ideia de um texto fechado à chave, que fosse preciso escalonar, apavora, embora de forma distinta do terror que assalta a sala quando o besouro desorientado pela luz se projeta sobre a vidraça…
Não sei se o besouro poderia ficar… De qualquer modo, aproveitei o intervalo para o libertar para a tília sem futuro. Sorte a do besouro!

10.3.19

A moeda

Uma língua de terra com contornos de água - parecem margens, mas não são. As margens poderiam ser as faces da moeda, opondo-se como se cada uma representasse a escolha certa, mas não.
As duas faces não são antinonómicas.  Cada uma, no entanto, é assumida como representação do Bem e expressão da Luta contra o Mal... Invertidas, traçam cruzadas mortíferas, em nome da Razão. Ou será de uma outra Fé? Porém a Fé, embora iluminada, é a expressão da cegueira humana.
Viro e reviro a moeda, e apetece-me deitá-la fora.

9.3.19

Incompreensível desfasamento

Questionado como explica ter usado a Bíblia para fundamentar uma sentença em que desculpabilizavam dois homens que agrediram com uma moca de pregos uma mulher, Neto de Moura afirmou que não foi "despropositado", uma vez que considera que a "sociedade é muito influenciada pela cultura judaico-cristã", assim, a citação da Bíblia "aparece como uma mera referência histórica" e "faz parte da fundamentação".

O argumento parece pertinente, só que o juiz  Neto Moura está a necessitar de visitar uma sala de aula de uma escola pública para perceber que esse caldinho de cultura já viveu melhores dias. A não ser o ímpio Saramago, mais ninguém cita a Bíblia… 
O tempo em que vivemos, na prática, faz tábua rasa dos valores judaico-cristãos e se alguma coisa herdámos foram as sementes de violência…
O argumento, afinal, só espelha  incompreensível desfasamento.

8.3.19

Talvez fosse mais sensato

Não sei se há algum rio que tenha apenas uma margem, talvez, mas longe, desenhado pela imperfeição humana…
Os rios regulados acabam por saltar a margem a que os confinamos, destruindo as sombras a que nos poderíamos acolher… 
Talvez fosse mais sensato fluirmos juntos, visto que o mar que nos acolherá não faz distinções de espécie, de cor, de classe, de orientação sexual, religiosa, política…
Infelizmente, os sinais são de divergência…