24.3.19

Aprender com as térmitas

Aprender com as térmitas
Vus à hauteur d’homme, les termites ne sont rien d’autre que des petits êtres nocifs : de médiocres fourmis blanches, tout juste bonnes à dévorer nos charpentes et à nourrir d’autres insectes. Mais qui s’est rendu un peu plus au Sud, sur le continent africain, et a admiré les cathédrales de 6 à 8 mètres érigées par certaines colonies pour y cultiver les champignons dont elles se nourrissent, abandonne immédiatement tout mépris.(…)
Pois é, parece que o nosso desprezo quase instintivo não passa de soberba precipitada… Os nossos sentidos, embora essenciais, revelam-se fonte de enganos. A nossa pressa de vencer derrota-nos a cada momento…
(…) De manhã, dois mestres concordavam na ideia de que conquistar países é uma caraterística humana. Nem sequer punham a questão em termos de necessidade de alargar o território…
A cegueira humana é desesperante. Veja-se o caso do Reino Unido que insiste em arrastar o processo "brexit" até à véspera das eleições parlamentares europeias… Quem é que pode confiar na lucidez humana?
Talvez as térmitas nos possam ensinar a resolver as nossas idiotices…


23.3.19

Neste terreiro de papel

Aqui estou eu a descer e a subir páginas, sem me cruzar com qualquer marquês nem respirar o carbono da avenida, dita, da liberdade… 
No centro da página, não há vestígio de imperador - apenas súbditos - e nas margens, vão-se acumulando hieróglifos vermelhos em perda de intencionalidade…
No paço, apenas o cavalo, apeado, por força de uma austeridade cuja origem continua encoberta, porque, à época, o que interessava eram os fundos de coesão.
De qualquer modo, neste terreiro de papel, o futuro parece esconder-se numa linha invisível pronta  a sumir-se com ou sem palha…

22.3.19

Esta notícia só pode ser falsa

Uma notícia fere-me a vista.

Cerca de 23 mil euros (18,943,20 euros + IVA) foi quanto custaram a mesa de reuniões e as 22 cadeiras que o gabinete do ministro de Educação adquiriu.
Espero que o senhor Tiago Rodrigues não tenha sido ouvido nem achado na decisão. Seria paradoxal caso ele tivesse encomendado tal mobiliário para o seu gabinete, já que, até ao momento, o ministério da educação tem sido governado pelo ministério das finanças. 
Em matéria de gestão do orçamento, o senhor ministro tem sido tão cumpridor e submisso que provavelmente a notícia será falsa.

21.3.19

Os escritores

Parecem um nadinha pálidos, redundantes, confusos, densos, lentos - os escritores.
Não percebem nada de pontuação! Nunca respiram! Uns totós sedentos de atenção! Têm a mania que são profundos, que percebem de filosofia e de religião, de história e de geografia, e, em particular, de política…
Vivem em jarras de flores murchas e nutrem-se de paraísos perdidos…
E depois todos os anos deitam cá para fora dois ou três livrecos para nos martelar os miolos… sem perceberem que o resultado final é uma massa consistente, fétida…
Peço desculpa, no dia da Poesia, deveria ser proibido deitar o lixo pela janela. Só que os Poetas não são escritores…

«Um génio antipatriota é um fenómeno, não direi vulgar, mas aceitável. Um operário antipatriota é simplesmente uma besta.» Fernando Pessoa, Em arte tudo é licito desde que seja superior.

20.3.19

Insatisfação... quântica

Peso as palavras.
Cansaço. Esgotamento. Impaciência…
Um grama a mais, um grama a menos. Um problema de género, jansenista.
Insatisfação semântica… quântica, outro modo perdido de distribuir e combinar as partículas.
Talvez saturação, quem sabe, desorientação, realidade tão pesada que nem a fuga conseguirá fazer recuar…Nem o sorriso escarninho que ilumina o gaveto me serena - nem o silêncio.
Peso as palavras ruidosas.

19.3.19

No dia de S. José

O meu pai não se chamava José e era agricultor.
S. José não era pai de verdade, e consta que era carpinteiro.
Eu também não sou carpinteiro nem sou José.
Sou pai, mas não quero que seja o meu dia, esse já foi, e já pouco interessa, ficou noutro lugar bem longe de Belém sem ter tido necessidade de me esconder de Herodes… 
A verdade é que não quero ser o Orfeu que perdeu a Eurídice, irremediavelmente.
Estou em crer que S. José detesta pombas e que lho recordem.

18.3.19

fora de qualquer pontuação

(…)
Já não podias desenhar
sequer uma linha;
um nome, sequer uma flor
desabrochava no verão da mesa
(…)
João Cabral de Melo Neto

eis uma sensação antiquíssima 
cada vez mais pesada 
explosiva que de tão contida
se deixa cair pelos dedos abaixo
fora de qualquer estação
fora de qualquer pontuação
apenas o ainda branco respira 
apara a queda das pétalas