20.6.19

Ao contrário da cigarra

Não faz calor, no entanto, por estes dias, seco… tanta é a burrice e o despudor.
E em tempo de seca, ao contrário da cigarra, calo-me.

18.6.19

A anáfora no exame nacional de Português

La anáfora es una figura literaria y, como tal, tiene unas funciones concretas. Si bien este recurso literario necesita de la creatividad del autor o del poeta para significar una u otra cosa, hay algunos empleos en los que se observa con mayor frecuencia.
La anáfora puede emplearse para otorgar una mayor importancia o notoriedad a un aspecto del que se está hablando que puede ser un lugar, un tiempo, un sujeto, un sentimiento… Esta figura literaria es muy recurrente en tanto que ofrece dinamismo y velocidad (en ocasiones) a los versos o al texto en cuestión. Es también un recurso que ofrece ritmo y melodía en un poema o en la prosa. Además de centrar la atención en la palabra o palabras que se repiten ayudan al lector a familiarizarse con el texto creando mayor atracción y facilidad para comprender

Querer reduzir a anáfora ao(s) sentido(s) é abusivo. Revela insensatez, sobretudo quando o poeta se chama Fernando Pessoa.

17.6.19

O senhor Professor

«Irás ao Paço irás pacientemente
Pois não te pedem canto mas paciência
Este país te mata lentamente»
Sophia Andresen

O senhor Professor, patrono dos professores, anda incomodado com os professores. Recebeu-os no seu palácio, mostrou compreensão e pediu-lhes tempo - anos, meses e dias - e, sobretudo rogou que fossem pacientes…
O senhor Professor tem obrigação de saber que entre os professores há muita desigualdade e que para a combater não bastam umas tantas selfies e paciência, muita.
O senhor Professor deveria saber que, para além dos professores, quem perde é o País de que se orgulha de ser Presidente.

16.6.19

Ligações perigosas

«Sem espírito crítico e sem ler as obras, isso de história da literatura é cousa escabrosa de se executar.» António Sérgio, Ensaios III, pág. 192.

A ideia, à época, fazia todo o sentido. 
Sérgio rejeitava o biografismo, a psicocrítica mais ou menos freudiana, a sociocrítica, pois ao crítico literário e ao estudioso o que deveria interessar era a obra - ler na obra o que ela acrescenta…
Entretanto, os tempos mudaram. O facilitismo instalou-se e o que agora está na moda é estabelecer 'ligações' entre textos, que se me afiguram de enorme risco - intertextualidades.
E porquê? Porque, simplesmente, raros são os que leem.

Terça-feira será dia de detetar ligações, de inferir estados de ânimo, de exprimir opinião. A dissertação já terá ficado para trás… e a argumentação, envergonhada, cairá sob exemplos estafados de futuros por achar.
Nem o eclético borboleteio impressionista se fará sentir… Até lá só ingurgitação!

14.6.19

Um assunto anódino

Afinal, mesmo vazio, o cacifo mantém o odor. A quê? Não sei.
Na paragem de autocarro, hoje, havia outros cheiros que não me impediram de apanhar o 783 para o Prior Velho - destino dele, que o meu passou a ter uma componente pedestre, o que até faz bem, dizem, à saúde, mas agrava o estado das varizes… 
Até aqui o assunto é anódino e as hipóteses de o melhorar são escassas. 
De manhã, ainda pensara que a prioridade era Ler. Ler livros. Livros antigos que os atuais são fúteis, mentirosos e estéreis… Ler Homero, Platão, Sófocles, Horácio, Virgílio, Santo Agostinho… até chegar a Goethe… e ficar por aí até ter coragem para retomar a leitura dos antigos. Molière, Vicente, Shakespeare… e Camões, mas bem longe das salas de aula, isto é, bem longe do Paço, talvez nas margens do Tejo ou na serra da Arrábida… 
E depois, esqueci a prioridade e fiquei à espera que o Vara cumprisse o que prometera, que era não falar, mas falou sem saber se a prioridade era o ovo ou a galinha, o que me fez recordar que o Luandino Vieira um dia, no Tarrafal, também se esmifrou a tentar explicar se o ovo era da dona da franga ou da vizinha grávida proprietária do terreiro onde o traseiro largou o dito.

13.6.19

O perfume dos santos populares

É como se os olhos e os ouvidos se tivessem retirado. O que vejo esfuma-se e o que oiço é tão soez que prefiro esquecê-lo… 
De permanente só o odor, por vezes, perturbador. Nas mãos, há sempre o vestígio de presenças persistentes. Até o nariz parece querer impor um cheiro específico, indizível.
Ultimamente, a memória persegue-me com situações que não sei como tratar.
A semana passada, avisado de que iria ser necessário esvaziar um cacifo, entusiasmei-me porque vi na necessidade a oportunidade de o libertar de uma fragrância desagradável que se tinha acumulado em mais de vinte anos - o papel acumulado agredia-me as narinas sem eu saber porquê… Agora que o depósito está quase vazio, a perturbadora sensação desapareceu. Abro o armário, e nada…
Ontem, chegado à paragem do 783 no Saldanha, já aborrecido com o ferrugento placard que nada instrui, sentei-me num banco e, de súbito, lá estava o odor… um odor de quem não toma banho ou de quem não teve oportunidade de se lavar ou, simplesmente, de quem abomina a água… O impacto foi de tal ordem que preferi deixar seguir o autocarro com o meu incómodo vizinho.
Entretanto, vou-me apercebendo que os espaços coletivos estão cada vez mais impregnados dos mais diversos cheiros e que os temo de uma forma, talvez, doentia…
De momento, não consigo libertar-me do perfume dos santos populares. 

11.6.19

Velhacaria

Nem precisavam de conversar! 
Todos sabiam ao que iam! Agora, tratam-se de velhacos desconhecidos…
E confiam na nossa falta de memória...