10.5.20

Em casa

«Ce ne sont pas les informations qui font le journal, mais le journal qui fait l'information."Umberto Eco

Ficar em casa é deixar de ver a realidade, é ficar refém da mediatização.
No rio não se especula, não se intriga… as aves procuram o sustento, respeitando as distâncias...
Em casa, o mundo encolhe, deforma-se... torna-nos amorfos…
Saia de casa, aprenda com as aves.

9.5.20

Viajo com os suspeitos do costume

Em casa. Viajo. Nas últimas semanas, por Lisboa, com José Saramago. Ontem, iniciei nova viagem, por Milão, com Umberto Eco…E assim, sem sair de casa, retomo viagens já realizadas, mas que, vistas desta minha janela, estavam por concluir…Estas viagens, por vezes exigentes, têm o condão de me fazer avançar por lugares que julgara perdidos ou sem sentido...Quando viajo, não perco nada, ao contrário do Poeta que andava perdendo países para os poder, simplesmente, fingir.

7.5.20

Movimentos

As aves passam, levam consigo o arroz integral. Fazem-no em movimentos sôfregos e fortuitos… como se temessem a voracidade felina ou até humana…
Não sabem o que é o medo, mas pressentem o perigo, antiquíssimo, muito anterior à própria vida…
E nós, parece que não temos medo, deslocamo-nos em movimentos sinuosos, silenciosos, sabendo, de antemão, que as bombas de outras guerras foram suspensas - que não há razão para nos recolhermos nas caves…
No entanto, o que mais tememos é não ver nem ouvir o tracejado das gotículas assassinas, seletivas - antiquíssimas, muito anteriores à própria humanidade.
Arroz integral? E se fosse trigo roxo? Provavelmente, as aves afastavam-se, perdiam o apetite, deixavam de chamar a família para o repasto...
E nós? Ansiamos pela família e servimos-lhe trigo roxo!

5.5.20

O recolhimento

Voluntariamente, tenho vivido no ano de 1936, seguindo o caminho de Saramago. Não é fácil! Mas liberta-me do discurso sentencioso de quem não sabe recolher-se e, desta vez, não me estou a referir à prosa do nobel…
O confinamento como dever cívico soa-me a astúcia política de quem não quer perder ou  quer ganhar votos…
Creio que o recolhimento é a atitude mais sensata e mais desafiante. E, afinal, o José viveu uma parte da sua vida numa ilha vulcânica!

3.5.20

A cor de hoje

Amanhã, sem sair do lugar, o Tejo fica mais perto.
Embora haja quem pense ser possível voltar atrás - viver no passado - eu fico-me com a cor de hoje.
Agora, que passei a ler com a ajuda de uma lupa, sinto que a repetição está a tornar-se fastidiosa, porque mata a novidade…
O fulgor não se repete, apenas acontece.
Talvez seja por isso que me apetece partir, fazer o caminho sem olhar para trás.

O Tejo só ao longe!

Hoje é um daqueles dias em que descer até ao Tejo é proibido. 
Porquê? Por causa da delimitação de freguesias. Quem mora na Portela está obrigado a não atravessar a linha férrea até à meia noite.
Por ignorância ou por vontade de corrigir o destino, muitos desafiam a ordem instaurada… Censurável, talvez! 

1.5.20

Frutos de maio

Abril foi um mês absurdo! Não fosse a fome das aves, a clausura teria virado pesadelo…
Os gráficos de abril, apesar de animadores, foram desesperantes, porque, no essencial, servem para anunciar uma segunda onda… e, apesar de muitos sonharem com o regresso à praia, não estamos prontos para enfrentar este novo bojador.
Talvez maio nos possa evitar o mergulho na outra metade da laranja!
De qualquer modo, maio regressará! Resta saber se queremos voltar com as fores e os frutos ou se preferimos soçobrar no areal.