26.7.20

Uma pessoa foi morta

Uma pessoa foi morta a tiro na principal avenida de Moscavide. Era sábado de compras e de coscuvilhice, o sol começava a escaldar… Disse-se de imediato que a vítima era negra e, mais tarde, que era ator… Não estou a ver a importância da cor, nem se de profissão, a pessoa era profissional ou amador…
Estou sem saber se o homem que matou não gostava de negros ou de atores, mas dizem-me que tinha 80 anos e que foi imobilizado pelos populares. Estranho que estes não tenham tentado fazer justiça pelas próprias mãos.
Será que os moscavidenses não gostam de negros ou de atores? Ou será que a idade do homem lhes impôs um certo distanciamento?
Entretanto, o aproveitamento sectário já está em marcha. 
Para perceber a causa da morte gostava de saber se o homem que matou algum dia foi pessoa...

23.7.20

Pintar a cara de preto

Caramulo
Dou-me mal com o calor… E a prova disso é que, enquanto leio Pensar o Mundo de Manuel Maria Carrilho, vou relendo uma velha Gramática Latina…
Claro que vou espreitando a informação, mas esta é tão deprimente que já não sei o que pensar deste pequeno mundo lisboeta: parece que decidiram pintar as ruas de verde, azul, de laranja… 
Os decisores de Lisboa e Vale do Tejo deveriam era pintar a cara de preto. Afinal, na periferia e no interior da capital, as condições de alojamento são miseráveis e quem lá vive, se não é clandestino é precário… e trabalha para patrões habituados a pagar impostos nos países frugais…
Outros vão reconstruindo espigueiros, deixando o pavimento dos arruamentos ao abandono…

21.7.20

Da varanda...

Da varanda do hotel Golden Tulip (Caramulo)
Concluída a estadia, o caminho de regresso... a casa, a última, porque na vida há muitas casas, cada uma com a sua história…
Pena é que as casas vão ficando desertas; as memórias dos seus habitantes apagam-se sem deixar notícia…
Talvez tenha sido por isso que John Banville escreveu O Mar, numa derradeira tentativa de prender o presente do passado.
Concluída a leitura, fica a ideia de que Banville domina a técnica da composição, só que do passado o que se pressente é a inventiva do autor.

19.7.20

metamorfose

O homem, que foge da destruição, aposta na preservação e no restauro…
A natureza, que de nada foge, transforma…
Eu já não fujo nem transformo, apenas observo, embora não queira cair no alheamento. 
Só que as ações humanas são tão cretinas que  eu gostaria de ser vegetal numa encosta verdejante de uma serra…qualquer… Sem jesus, nem vieiras, nem venturas, nem cristinas e, sobretudo, sem espíritos santos, mexias, sócrates e outros cardeais…

16.7.20

Escadinhas de D. Jaime

A toponímia de certos lugares tem particularidades evocativas inesperadas.
Desta vez, a associação foi instantânea. Uma jornalista entrevistava o diretor de uma escola secundária de Lisboa: - D. Jaime, o que é que pensa do modo como…; e o diretor respondeu o melhor que soube, aproveitando para vincar a sua discordância… 
Nada de novo, a não ser que a jornalista se despediu de D. Jaime…
Ora a secular escola não fica assim tão longe da rua Tomás Ribeiro, o autor de D. Jaime ou a Dominação de Castela, nascido na Parada de Gonta, Tondela, a 1 de julho de 1831...
O poema foi elogiado por António Feliciano de Castilho, que chegou a compará-lo com Os Lusíadas, de Camões. 
Os caminhos por onde passamos são pródigos e, talvez, a jovem jornalista estivesse a falar /escrever direito por linhas tortas… Acontece a muita gente!

(Des)confinado

Não fosse o inimigo invisível, diria que esta foto seria expressão de um viajante despreocupado...
Não vou referir o lugar para não provocar nenhum indesejável ajuntamento.
Deixo apenas o registo de que daqui se avista  a serra da Estrela, o que, por instantes, me fez pensar na montanha de "Aparição" do Vergílio Ferreira, eu que escolhi ler por estes dias "O Mar" de John Banville.
No ano passado, curiosamente, lia a "Montanha Mágica"...
Interrompo o registo, porque, aqui, o canto das aves me desconfina... 

13.7.20

Por conveniência

Praça duque de Saldanha
O neto do marquês de Pombal nunca imaginou que um dia a retina do cidadão comum haveria de dar mais relevo ao guindaste que se eleva na praça do que à sua ação militar e política ao longo do século XIX, já não falando dos estudos filosóficos e homeopáticos a que se dedicou…
O olhar adapta-se às alterações do contexto, o que se aceita… o que não se compreende é o esquecimento em que mergulhamos, apesar de não ser difícil entender que o fazemos por conveniência…
E as conveniências alicerçam-se na manipulação diária da informação, havendo quem não se importe de inventar ou de viciar as fontes…