9.4.21

O regresso do marquês

O marquês dá pulos de contentamento, mesmo sem ter chegado a doutor. 
Na Barataria, a corja lá sabe o que faz,  e nós parece que ainda não percebemos que continuamos a ser aldrabados.
Um deste dias, o marquês é eleito presidente desta triste república com o voto destes trouxas.

8.4.21

A bandeja de água

Num estacionamento nasceu uma esplanada, constituída por vários alvéolos de mesas e cadeiras. Os portelenses não perdem tempo e ocupam a maioria dos lugares… E o que é que vão pedir?  O cafezinho, o pastelinho e até um cariocazinho morno em chávena fria…

Os serviçais sorriem e correm, correm para agradar à exigente clientela. E de súbito, avisto uma empregada que desce a escada ( do 1º andar para o rés-de-chão) segurando uma bandeja com uma garrafinha, mais três copos bem cheios de água… Admirei-lhe o equilíbrio e fiquei a pensar na humanidade destes dias.

5.4.21

Na esplanada



Durante 10 minutos, estive sentado numa esplanada. Uma mesa esperava por mim, mas Cristo não desceu à Terra.


As restantes mesas estavam ocupadas. Gente nova e gente mais idosa, para quem a ressurreição ganha novo sentido, mesmo que nunca tivessem descido à cova…


Contentamo-nos com o momento…



3.4.21

Nesta Páscoa

(Tempos houve em que Páscoa significava rancho melhorado.) 2018

Nesta Páscoa,
para muitos, o rancho diminuiu, a distância aumentou, a morte chegou.
Tempos houve em que na Páscoa se celebrava a ressurreição, só que, em 2021, o próprio Cristo se deixou amordaçar…
Amordaçados, saímos à rua, repetimos os gestos de outras páscoas, mas é quase tudo encenação, exceto a pobreza por muitos escondida.

1.4.21

Só o castigo não é absurdo!

Faz hoje um ano que deixei a atividade profissional… poderia ter seguido em frente, mas, de facto, continuo a andar às voltas, preso a uma sorte inesperada… Sinto que, desta vez, não estou só, mas é como se estivesse…

Também as serralhas florescem todos os anos com um objetivo há muito regulado. No meu caso, porém, elas atravessam-se na minha mente para me recordar aquele dia em que ficaram escondidas debaixo de uma pedra, sem ter cumprido o seu destino: servir de repasto a uma ninhada de coelhos…
Claro que o gesto, absurdo, não ficou sem castigo. Afinal, o destino dos coelhos dependia daquelas serralhas. Não creio que seja necessário explicar qual seria a sorte dos coelhos… e qual a minha.
Apesar das aparências, a diferença é mínima. E no fim, tudo regressa ao ponto anterior à partida. Ou será de outro modo?
 

30.3.21

O Sol das 18h45


Como não me apetece escrever sobre o estado das coisas públicas e privadas, nem sobre a leitura em curso - Os últimos dias da Humanidade, de Karl Kraus - convido-vos a olhar o Sol que, de súbito, avistei da minha janela.
Enlameado, o Sol?




27.3.21

O marquês

 


Do marquês ninguém fala… talvez à espera das próximas eleições.

Não gosto de o ver tão silencioso. Parece que perdeu a garra, que  vive, agora, na penumbra, a contemplar as águas que, outrora, facilmente, desviava dos povos, deixando-os à sede, apesar das intermináveis vias que ia sulcando.

De costas, o marquês não passa de um espantalho que, perdido o pombal, vai esperando por novo terramoto…