18.8.21

A debandada

 Desta vez, Boris Johnson foi claro. A política de ocupação ocidental chegou ao fim, não só no Afeganistão como em qualquer outra parte do mundo. Por outro lado, a Europa tornou-se insignificante no tabuleiro dos interesses globais.

 Dans son allocution, M. Johnson a répondu qu’il fallait regarder « la dure réalité » en face : « depuis 2009, 98 % des armes fournies par l’OTAN sont venues des Etats-Unis. Au pic [de l’intervention], sur 132 000 soldats, 90 000 étaient Américains. L’Occident ne pouvait pas continuer sans la logistique des Etats-Unis, sa capacité aérienne et sa puissance. » Il ajoute que ni les alliés occidentaux (hors Etats-Unis) ni la population britannique ne sont prêts à envoyer des dizaines de milliers de soldats supplémentaires en Afghanistan. Le Monde, le 18 août 2021

17.8.21

No Afeganistão

No Afeganistão, chegado o dia D, já só restavam 16 portugueses. Ainda bem! Em dias bem mais remotos demos um contributo inextimável para o enfraquecimento da Rota da Seda.

Doravante, a palavra é dos sunitas, em nome de Maomé (571-632): proibir e educar! Quem não quiser obedecer pouco poderá fazer! Há séculos que não se desviam deste roteiro...
Os ciclos de proselitismo vão alternando com os de ocupação num jogo de interresses  interminável - os mais fracos dificilmente escapam à solidão e à morte... 

Por cá, também, andamos confusos quanto ao modo de educar. Preferimos proibir. Despacho n.º 8127/2021.

13.8.21

Os candidtos

São tantos os candidatos a mudar as nossas vidas que já não sei o que fazer ou, melhor, o que dizer. Estranho, no entanto, que nenhum se apresente com o objetivo de transformar a sua própria vida.

Na realidade, os candidatos nem nos perguntam se há alguma coisa que queiramos abolir ou modificar.

Eles conhecem-nos de ginjeira, o que lhes permite recorrer às habituais artimanhas, sem que nos apercebamos que um «parasita é uma bicharia rastejante, insinuante, que quer engordar à custa dos vossos membros doentes e torturadosNietzsche, Assim Falava Zaratustra

9.8.21

A mão de Deus

«A riqueza só é condenável enquanto tentação do ócio e do gozo pecaminoso da vida.»
« Com efeito, se o puritano vê em todos os aspetos da vida a mão de Deus, quando se lhe depara uma oportunidade de lucro é porque Deus lá terá as suas razões para isso. O dever do cristão crente é corresponder a essa vontade e tirar proveito da situação.»
Max Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, ed. Presença, pág. 128.

Já é tarde para voltar atrás! Quando nasci, mergulharam-me na pia batismal dos católicos... e todas as portas que fui atravessando desaguavam num Céu casto e repleto de benfeitorias... Ninguém me segredou que noutras regiões, em nome de Deus, se poderia beneficiar de um outro tipo de vocação (Beruf) bem mais terrena e por mais estranho que possa parecer o papel da vontade humana era nulo. Tudo dependia da Graça de Deus.

Deste modo, nem me posso considerar desgraçado. A não ser que se considere a hora e o lugar do nascimento errados. Como esse argumento era insuficiente, mergulhei na dúvida, sem ter percebido que, talvez, tivesse vocação...
Poderia ter seguido, por exemplo, o caminho dos salgados, dos vieiras, dos berardos, dos silvas, dos costas, dos mexias, dos rendeiros, dos sousas e outros que tais que souberam aproveitar as oportunidades, porque Deus lá teria as suas razões...
Em síntese,  Max Weber, apesar de já ser tarde, acaba de me explicar o ar desempoeirado dos capitalistas portugueses...
... não fosse a tentação do ócio e do gozo pecaminoso da vida...

7.8.21

Fim de tarde!

 

Fim de tarde!

Se me aproximo, esconde-se na valeta. Se me afasto, volta à rua, talvez, para observar o pôr-do-sol daquele dia...

Qualquer ruído o assusta. Felizmente, o gato conhece todos os esconderijos do lugar.

E eu, por momentos, invejo-o, tal como ao Sol, para quem nada significo.

Ali parado, esqueço que algo me move, embora finja não saber... ou, se calhar não sei mesmo.

4.8.21

A decrepitude

Vila do Luso
                                                                              

                                                                                                             

                                                                                                                                                                    







A 'villa' existe, a necessitar de restauro...  Associo-a a tempos em que as Termas do Luso acolheriam os novos ricos da época.

Posso estar enganado, mas isso pouco me preocupa. O que me ocupa o espírito é um certo cavalheiro, novo cidadão da periferia, perseguido há mais de 70 anos pela absurda ideia de que deveria ter sido o primogénito e que insiste em comportar-se como morgado, indiferente à sorte do seu sangue...

Nem sequer posso atribuir o comportamento à inevitável decrepitude...  Há ruínas, ao contrário da 'villa,' que não têm recuperação possível.

1.8.21

Flesh and Blood

 

Bussaco
















Na tradução portuguesa (Gradiva), Sangue do Meu Sangue, de Michael Cunningham, um escritor americano da minha geração.

Devorei as 423 páginas em 6 dias! Como leitor, comportei-me um pouco como as personagens... li com o fervor de quem está pronto a subir a escada do impulso sem medir os efeitos...

E neste romance, os desafios e as transgressões espreitam na superfície de cada página...
No entanto, o resultado final não é muito diferente do habitual: o sofrimento acaba por devorar o prazer da carne, embora se entenda a necessidade de adiar a morte que, todavia, está sempre à espreita.
Como leitor, acabei frustrado. Afinal, tanta rebeldia não escancarou as portas do paraíso de que, aliás, raramente se fala, talvez porque o autor pense que, eliinados os preconceitos, tudo será AZUL.