19.3.23

O gato e o pavão

 

É difícil de imaginar o que lhes está a passar pela cabeça.
Indiferentes à cerca, com vista para o campo de futebol, talvez pensem como seria interessante trocar de papéis... nem que fosse por umas horas.
Jogar à bola ser-lhes-ia difícil, deixam isso a cargo dos seminaristas e dos padres que por ali, ocasionalmente, vão trocando o esférico, mas sem capacidade para se colocarem no lugar das vítimas ou, sendo-o, preferem não o confessar.
Fingir continua a ser uma arte, mesmo que não seja a de Pessoa...
(Falta o contexto? Talvez, mas, se quiserem, podem procurar a quinta do Seminário dos Olivais...)

14.3.23

o feio está a ficar coisa

 

Por mais que me esforce, não consigo libertar-me de Sua Excelência e de outros comentadores do mesmo calibre. Segundo ele, 'a coisa está a ficar feia'.
Como diria o João Guimarães Rosa, ' o feio está a ficar coisa'. E quanto mais penso no assunto, mais me convenço que a aposta é na fealdade.
De regresso ao grotesco, impingem-nos toneladas de suspeições de modo a que vivamos em permanente instabilidade . Não se trata, apenas, de nos desassossegar, de nos fazer sair do comodismo. O objetivo é instalar a ansiedade, o medo de tudo perder.
Em nome do quê? Dos que, fingidamente, nada têm. Dos que aproveitam para viver da panóplia de subsídios que conseguem capturar.

10.3.23

Sua Excelência

 

Extraídas as cataratas, fiquei impedido, felizmente, de ver a entrevista dada ontem por Marcelo.
No entanto, pelo que ouvi, não perdi nada. O homem deve pensar que a governação é fácil - basta ceder às várias corporações, e já está!
Subliminarmente, estriba-se nos milhares de milhões que a União Europeia vai enviando para o país, até porque o importante é esgotá-los. 
Como? Fazendo de conta de que os estamos a aplicar no desenvolvimento do território português... Embora sua Excelência saiba muito bem que, desde que a peçonha nos entrou pela porta dentro (e já lá vão uns séculos!), nos habituámos à pedincha, deixando de reconhecer o mérito a quem é devido...
Sua Excelência, agora, nem a 'sua igreja´' poupa. Imagina-a rica, esquecendo-se de que quem a sustenta são os fiéis ou o próprio Estado.

8.3.23

O imprevisto facilmente previsível

Nem tudo acontece como estava previsto. A Susana chegou, mas num voo com cerca de duas horas de atraso.
O jantar foi substituido pelo almoço de amanhã, só que eu entro em jejum às nove horas da manhã... A extração de uma catarata assim o impõe.
Casos há em que as palavras andam desfasadas da realidade. A pontualidade já teve melhores dias!

6.3.23

Pedra na árvore do jardim

 

O jardim é publico, bem cuidado.
Atravessado por crianças a caminho do parque infantil e do parque escolar. Frequentado por adolescentes em fase de rebeldia. Aproveitado por quem quer alongar a passada ou simplesmente caminhar ... Espaço de convívio canino, por vezes, excessivo...

No entanto, há tempos que vislumbro, entre os ramos nus da estação, uma pedra, como se de um ninho se tratasse, alapada. Sempre que passo, pergunto-me se algum zelador do jardim a terá removido... Não: ela continua, segura e indiferente...

Já pensei que a pedra, afinal, só existirá na minha imaginação...  Será que só eu é que a consigo ver?

5.3.23

É triste

É triste que um país pobre, incapaz de proporcionar condições de vida razoáveis aos seus naturais, queira fazer figura de rico.
A partir de agora, ao que parece, entrar em Portugal é ainda mais fácil do que já era. Nem vale a pena olhar para a paisagem humana que se vai espalhando por um território, onde não se aplicam as leis de um verdadeiro estado de direito.
Importamos miséria e multiplicamo-la, irresponsavelmente, e ainda nos vangloriamos. É uma tristeza!

27.2.23

Uma sensação de desnorte

 

(Foto da Praça da Figueira. É pena que assim a tenham baptizado, pois anteriormente era conhecida como Praça da Erva, topónimo bem mais adequado aos dias de hoje...)

De vez em quando, atravesso a Baixa lisboeta e fico, sempre, com a mesma sensação: quase deserta, frequentada por turistas com pouco dinheiro e por vendedores de boteco ou de rua que esperam que os ajudem a salvar o dia, sem esquecer os que por ali preguiçam à espera nem eles sabem do quê.
E claro, há sempre obras erráticas. Não se vislumbra nenhum plano de intervenção global no espaço pombalino. Cada empreendedor intervém a seu belo prazer, indiferente ao passado e ao futuro daquele território. 
Fico, sempre, com a sensação de que o 'coração' da cidade está doente e que, aos poucos, vai definhando.
Apetece-me apontar o dedo ao  jurisconsulto João das Regras, dizendo-lhe que ele é o culpado desta pasmaceira, pois, ao legitimar a fundação da dinastia de Avis, alterou, de forma irremediável, o curso da História. No entanto, quem o conheceu diz que o homem era muito inteligente. Pelo menos, Fernão Lopes soube tomar partido da sua argumentação...  D. João I  soube recompensá-lo principescamente, tal como fez com Nuno Álvares. 
Não podia ser de outro modo! Ontem como hoje! 
Os professores, esses, podem esperar...