15.12.23

Agora, o ruido de uma mota

A gata ressona. A mulher procura dormir, insiste na necessidade de dormir. Os olhos frustram-me o gesto de escrever.... os chinelos lá se acomodam nos pés...

(pensava no esquecimento que se instala, na morte da caruma, no absurdo da valorização da memória ... se tudo se torna cinza...)

A porta volta a abrir-se, os passos dirigem-se para a casa de banho, o interruptor foi desligado, a porta volta a fechar-se - são 20h40.

Aproxima-se, no falar madeirense, o parto. 

De acordo com o que fica dito, não vejo motivo para a celebração natalício... e nem é preciso pensar no que se passa na Faixa de Gaza, no Sudão ou na Ucrânia...

Triste parto! 

Por um momento, a noite será de reunião e de memória, triste.

11.12.23

Reencontro


Nunca o esqueci. Sobretudo, o rigor e a modéstia do Joaquim Amílcar Carvalho da Cruz (29/7/1941). Foi em Sintra (Escola Secundária de Santa Maria) que o conheci, quando fez a profissionalização em exercício...
Depois, cada um seguiu o respectivo caminho... E hoje descobri um artigo que dá conta da sua entrega à comunidade Torreense.

10.12.23

Fraqueza


Quando o silêncio só é interrompido pelo interesse, apetece-me voltar costas.... e deixá-lo a falar sozinho. No entanto, acabo por encontrar sempre uma desculpa para esse abuso, como se uma educação diferente pudesse ter moldado um ser mais solidário...
O prejuízo gerado por este comportamento é irreversível e a minha fraqueza indesculpável.
Nem o regresso a Jean-Jacques Rousseau me serve de consolo.
Entretanto, pela manhã, surge o nevoeiro, criando um vale efémero, fruto de uma velha doença dos olhos...  

6.12.23

Os eleitos


Os eleitos deixaram de ter qualquer poder. Sob suspeita permanente, ninguém os leva a sério... Parece que basta ser eleito para, de imediato, cair em suspeita...
Tudo aquilo em que tocam fica manchado e, mesmo, na sua vizinhança, cheira mal...

Deste modo, o melhor é não ser eleito e assegurar o lugar pela força. A única lei que respeitamos é a do mais forte. Ou será que nem essa?

De mal a pior!

Cá por casa, felizmente, nunca houve eleitos...

30.11.23

A vida

Devo anotar que hoje choveu, por vezes, impiedosamente. Saímos de casa por volta do meio dia com objetivo de celebrar 49 anos de casamento. Em 1974, o Sol não faltou, talvez para abrilhantar a restrita e frugal cerimónia... porque, afinal, a minha família não compareceu - de nada serve acusar quem quer que seja...
Hoje, acabámos por almoçar no Corte Inglês para nos abrigarmos da chuva. A refeição foi simples, só que já não temos idade para circular em espaços fechados e tão movimentados...
Quando o cansaço e a ansiedade crescem, nem a psicoterapia (entre as 14:45 e as 15:30) consegue evitar a vontade de regressar a casa e de correr para vale de lençóis...
O que o futuro nos promete não parece ser muito auspicioso... De qualquer modo, não é possível escolher a vida, embora se possa desvalorizá-la...

29.11.23

Exercício de paciência...

Levantar às 7. Tomar banho. Despejar uma máquina de loiça. Eutirox 25. Preparar um pequeno almoço.
Eutirox 75. Comprar no centro comercial três bolas de centeio. Voltar a casa.
Medicamento para a tensão. Voltar a sair, acompanhar o filho, hoje, até ao autocarro.
Regressar a casa. Apanhar e estender roupa. Atenção ao relógio: a acupuntura está marcada para as 11 horas.
Voltar ao centro comercial: avaliação de relógios no relojoeiro que, de facto, ninguém quer; loja de animais, comida seca para a gata...

(Registos e mais registos.)

Às 11:54, sentei-me, a pensar em ler umas páginas de Canetti, Las Voces de Marrakech.  Em 26 minutos, mergulhei  na estória La MUJER DE LA REJA. Afinal, a mulher, sem véu e faladora, dá provas de insanidade naquele contexto.

Faltava apressar a saída - ajudar a vestir, pentear, dar de comer à gata... Era preciso chegar a horas à cantina dos Serviços sociais da administração pública - pataniscas com arroz de feijão... Hesitação: o horário do cinema Nimas era incompatível com o tempo disponível... Assim regresso a casa, aproveitando para visitar a irmã Teresa no Lar Mil Primaveras...
(...)
Noutro qualquer dia, darei conta do exercício.... 
sobretudo porque a chuva intermitente faz-me saltar de estendal, ora exterior ora interior.
O drama avoluma-se: a memória falha no que é essencial e cresce no que parece distante e acidental. Por exemplo, para que serve o morfex e o psidep? A resposta já foi dada mil vezes, mas é como se tal nunca tivesse acontecido...
Agora, 19h35, o sono forçado é interrompido para comer umas bolachinhas...,como se nada tivesse acontecido.

26.11.23

Promessas


Prometer é fácil, o problema está em cumprir...
Chegada a hora, a culpa será de quem terá deixado os cofres vazios...
Ou, então, a culpa será da memória efémera...

Eu, que sou experimentado em promessas falhadas, já deveria ter desligado... mas, todavia, uma pequena esperança tremelica...