7.8.06

Perplexidades de férias

Já, aqui, falei do GPS que, entretanto, resolveu ser bom conselheiro se exceptuarmos algum desconhecimento de certos terrenos em que a mão humana terá actuado recentemente. No entanto, estou algo perplexo sobre a utilização deste equipamento já que descobri que um francês e um alemão se encontram presos no Irão, acusados de terem entrado ilegalmente em águas iranianas (ou pelo menos proclamadas como tal!) na posse de um suspeitíssimo GPS. Por outro lado, as autoridades francesas também penalizam severamente os condutores que utilizem este aparelho como meio de “controlar” os seus radares. No meu caso, ainda não descobri como é que posso ludibriar as autoridades (!!?), embora tenho descoberto que o GPS me dá uma indicação sobre a velocidade do veículo mais rigorosa do que o conta-quilómetros – 7 quilómetros para baixo. O que eu ainda não referi é que fui traído pela restante tecnologia. O meu Vodafone mobile connect card, que me devia permitir aceder à Internet, revelou-se um fiasco. Apesar de ter comprado previamente 50 Mbytes de modo a embaratecer o roaming, só uma vez conseguir aceder à Internet em terras de Espanha e de França. Segundo o serviço de apoio ao cliente, a minha versão do software data de 2004 e por isso não suporta esta minha pretensão. O interessante é que vou ter que pagar por um serviço de que não usufrui! Por sua vez, o meu telemóvel (da TMN) deixou de poder ser recarregado, recorrendo, por exemplo, ao sítio online da CGD. E sem saldo, não se pode fazer nada, nem mesmo comunicar com a TMN, apesar dos sms da operadora a lembrar-nos as modalidades de recargamento, em roaming. E isto aqui tão perto! Imaginem-se as dificuldades em comunicar por telemóvel com uma filha que ora está na Hungria, na Roménia, na Áustria, ora na Eslováquia, na Croácia… E se tivermos a pretensão de mergulharmos, em plenas férias, nos vales pirenaicos espanhóis e franceses, então, mais vale, gastar uma semana das férias a certificarmo-nos que o nosso manual de bordo responde a todos estes escolhos. Entretanto, esta região dos Hautes –Pyrénées é extremamente agradável, apesar de, talvez à semelhança de certas estações de caminho de ferro portuguesas, nos presentear com paragens de autocarro por onde, desde o início de Julho até 12 de Dezembro, não passa qualquer destes veículos. Quem quiser deslocar-se, só no seu próprio veículo o poderá fazer, e isto quando a gasolina chega a custar 1, 48 euros. A União europeia parece, no serviço ao utente, estar bem afinada. Já em Sória, tive a felicidade de descobrir um centro comercial aberto ao público, tipo “Colombo”, onde o hipermercado só abrirá em Dezembro para desconforto e prejuízo dos restantes lojistas! No entanto, o que são estes problemas se comparados com os dos libaneses, dos palestinianos, dos afegãos, dos iraquianos ou dos milhares de africanos que desesperadamente procuram entrar na Europa?
Quanto ao que vale a pena visitar, registe-se que a cidade de Lannemezan parece de costas voltadas para o turismo. Basta pensar que, lá, é mais fácil comprar flores do que tomar o pequeno almoço. Nos cafés, não é visível qualquer tipo de pastelaria. Num deles, chegaram a dizer-me que só vendiam bebidas, que fosse à padaria… Encontra-se, no entanto, um espaço preparado para receber auto-caravanas… com electricidade, sanitários, lavagem de loiça… Tudo muda quando nos aproximamos de Arreau e de St-Lary-Soulan.

Arreau

Arreau, uma típica cidade pirenaica, entre St-Lary e Lannemezan.
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6.8.06

31 de Julho e 1 de Agosto La Puebla de Castro, Lago Barasona Calor, muito calor. Os acessos ao vale prometem, mas a água do lago, nesta época do ano, não parece muito cristalina. O extenso parque de campismo está cheio de holandeses que vão estorricando ao sol, depois de uma passagem pela piscina ou pelo lago. De pele branca e cabeleira loira, estas famílias holandesas, que parece que nunca viram o sol, cozinham metodicamente as refeições diárias nos alvéolos, profusamente ocupados pelas respectivas tendas, atrelados e roulotes, para depois se encharcarem em mil e uma bebidas, todas elas coloridas. Alguns franceses e belgas quase não se fazem notar. De portugueses nem vale a pena falar… Os espanhóis ocupam preferencialmente os bungalows (bangalós), não se misturando nestas avenidas neerlandesas. Em alternativa, o percurso pedestre para La Puebla de Castro, mostra, do lado esquerdo, pequenas hortas, onde predominam o tomate, a cebola, o feijão verde, o pimento e o melão, e do lado direito, podemos ver uma zona florestal mal tratada, mas que esconde belas e ricas vivendas. À medida que avançamos, o percurso pedregoso torna-se sinuoso e, sob o intenso calor das 17 horas, decidimos voltar para trás pois não encontrámos os vestígios românicos que o roteiro nos prometia… e La Puebla de Castro esfumou-se… 2 de Agosto Vindos de La Puebla de Castro, chegámos à Vallée du Moudang, tendo entrado em França pelo Tunnel d’Aragnouet-Bielsa. Este túnel de 3 Km, a 1860 metros de altitude, foi inaugurado em 1976. Há uma diferença significativa em termos de paisagem e de clima. Os verdadeiros Pirinéus parecem estar deste lado. Será? Estamos instalados junto a um sonoro rio, num camping municipal, onde as restrições são muito maiores do que em qualquer camping espanhol. A torrente é fraca, mas pode aumentar a qualquer momento em virtude da abertura das comportas das múltiplas centrais hidroeléctricas existentes na região.

30.7.06

O GPS e o caos...

«Les gens ne changent pas. Ce sont les choses qui changent.»Boris Vian, L'écume des Jours
(28 de Julho) Em Madrid, o GPS enlouqueceu ao chegar à Avenida de Portugal… O software não estava preparado para responder às alterações criadas pelas obras naquela avenida, na zona Puente del Rey e nas praças vizinhas. Advinham-se, por ali, obras faraónicas. A E90 (NV) morria numa misteriosa encruzilhada, sem que as autoridades dessem qualquer atenção ao trânsito verdadeiramente caótico. Despreocupadamente, ocupavam-se dos múltiplos acidentes que iam ocorrendo. O GPS, por seu lado, ordenava: faz inversão de marcha, vira à esquerda, encosta à esquerda, sai daqui a 200 metros, na próxima rotunda, sai na 5ª saída… Já na auto-estrada da Corunha, continuava a ordenar: encosta à esquerda, vira à esquerda, contrariando as regras elementares do código da estrada… Se fosse a obedecer ao GPS, a esta hora estaria, no mínimo, preso… Para sair daquele labirinto, já que a E90 desaparecera de vez, ainda, consegui a proeza de entrar num terminal rodoviário subterrâneo, sem que ninguém se sentisse incomodado. Acabei por obedecer ao GPS que, mal entrei no subterrâneo, ordenou: faz inversão de marcha. De facto, não havia outra alternativa… Farto da Avenida de Portugal e de Madrid, rumei a Segóvia, onde já tarde, parei, finalmente, no camping o “Acueducto”. Curiosamente, Segóvia fazia parte dos meus planos de Páscoa. E ainda há quem negue que Deus escreve direito por linhas tortas! Segóvia Património da Humanidade desde Dezembro de 1985. Acueducto-Catedral-Alcazár. E em Segóvia não faltam as igrejas: de San Martin, de Nuestra Señora de l’Asunción y de San Frutos (nome curioso para uma catedral, edificada no século XVI), de San Andrés, de San Esteban, de San Quirce, de La Santísima Trinidad, de San Nicolás, de San Miguel, de la Compaňia de Jesus, de San Sebastián, de San Juán de los Caballeros… e também não faltam os mosteiros e os conventos, para além do imponente e turístico Alcázar e da inevitável Plaza Mayor… E para atenuar um pouco este expressivo e fanático catolicismo, podemos visitar a JUDERÍA, confinada, a partir de 1480, a um bairro a sul da cidade, sobre o Vale del Clamores… Entretanto, na católica Espanha, só os conversos puderam permanecer na cidade após o édito de expulsão, em 1492…

24.7.06

Enquanto ardem as cidades libanesas...

«Quando a invasão ardia na Cidade / E as mulheres gritavam, / Dois jogadores de xadrez jogavam / O seu jogo de xadrezFP/RR (1/6/1916)
Lá longe, enquanto ardem as cidades libanesas, os grandes eleitores, cinicamente, adiam as tréguas na expectativa de que Israel conclua a desvastação que lhes permitirá celebrar a vitória sobre as forças do Mal.
A ignomínia judaico-cristã alastra, obrigando milhões de indefesos a abandonar as casas a que jamais poderão voltar e nós, por aqui, indiferentes, continuamos a armar as nossas pequenas ciladas...
Em 14 dias, nos bastidores, desenhou-se uma nova estratégia e o sentido do voto mudou radicalmente. Os eleitores não fizeram qualquer exigência aos eleitos. E estes também não apresentaram qualquer projecto nem fizeram qualquer promessa.
Terminada a nova eleição, sente-se um alívio generalizado. Como se cada um acabasse de se libertar de um terrível fardo.
O que é que, de verdade, nos move? Será que queremos responder a esta pergunta crucial?
A Escola ainda está a tempo de nos ajudar a responder a estas questões se quiser colocar os olhos na sua única razão de ser: o aluno. Ou, então, mais vale fechar a porta porque os jogadores de xadrez há muito que abdicaram da vida...
E por isso, para aqueles que se possam interrogar sobre o que me move, esclareço que não abdico...