27.5.11

A máquina do mundo!

O Grupo de Teatro da Escola Secundária de Camões continua a surpreender. A 3º produção da companhia oferece-nos uma bela adaptação (a 14ª? ) da obra dramática Além as estrelas são a nossa casa, de Abel Neves, (ed. Edições Cotovia, Lisboa, 2000). Em palco, registei a presença de 22 intervenientes na construção do espectáculo… Admiro-lhes a memória, por vezes a dicção, e, sobretudo, a versatilidade de alguns destes novíssimos actores, sejam eles alunos ou professores. Ali, no palco, a diferença esbate-se por inteiro, a não ser quando programa de superação de estereótipos. Por isso lhes ofereço uma borboleta de Pitões das Júnias, símbolo das metamorfoses que têm gerado novas estrelas na nossa casa, nestes dois últimos anos.

Nota: Abel Neves, Montalegre, 1956. O adolescente Abel Neves que começou a escrever aos 14 anos foi estudar para o Liceu Camões. Desde sempre apaixonado pelos livros, tinha lido A Aparição, de Vergílio Ferreira e comprara nesse ano o romance Nítido Nulo. O autor era então professor no liceu, mas Abel não era seu aluno. Um dia, munido de toda a coragem que conseguiu reunir e com o livro na mão, entrou na sala de aulas onde estava o escritor.
Queria pedir-lhe um autógrafo. "Nunca mais me esqueci do que me disse, olhando alternadamente para mim e para o livro: Quem é que te mandou cá, rapaz?". "Ninguém". Gostava muito do autor e só queria uma dedicatória. Fiquei algo desiludido quando este apenas assinou o seu nome.
http://aeiou.visao.pt/abel-neves-o-dramaturgo-poeta=f557043

26.5.11

Calamitosus…

Calamitosus est animus futuri ansius… Séneca amaldiçoava os espíritos ansiosos que se preocupavam com o futuro, e nós parece que queremos seguir-lhe a lição.

Ao futuro, dizemos não, obrigado. Preferimos, puxar cada um para seu lado, ajustar contas, procurar garimpeiros, agricultores, piratas e mercadores nos pais fundadores. E por isso subimos às árvores, despimos os casacos e choramos de encomenda. A ânsia deixou de ser do futuro para se tornar num espectáculo de harpias!

24.5.11

MENSAGEM suicida

Em 1935, Fernando Pessoa publicou MENSAGEM, obra de natureza elegíaca e profética, e distante dos sinais de que o lugar de Portugal no mundo deixara de depender da moribunda alma lusa, tal como se provou no decurso da Segunda Guerra Mundial.

Empurrado para um beco sem saída, o país do «orgulhosamente sós» tornou-se ludíbrio das potências vencedoras, num contexto de guerra fria, procurando na memória e na profecia a seiva que, durante catorze anos, criou uma nova diáspora e lançou nos braços da morte populações anestesiadas por tiranetes autistas e/ou servidores de outras ideologias imperialistas…

A cegueira que nos impediu e impede de enxergar as nossas limitações, que nos permitiu trocar as actividades produtivas por dinheiro fácil, que continua a alimentar o imaginário dos nossos adolescentes – pela enésima vez, estão a ser preparados para, num exame nacional de Português, interpretar de forma acrítica um poema de MENSAGEM ou de OS LUSÍADAS, ou para, em oitenta palavras (?) comentar, de forma jesuítica, uma qualquer exaltação da “nova pátria”…

Tudo muda, mas as nossas velhas âncoras continuam as mesmas. E isso é suicídio!

/MCG

22.5.11

Desertos interiores…

A aplicação da regra mínima dos 10 mil habitantes por município faria ‘desaparecer’ um em cada três concelhos em Portugal. No Alentejo só manteriam a sua identidade quatro municípios.
Do que é que estamos à espera? Se o objectivo é reduzir os custos do poder central e local, a reorganização autárquica é um bom caminho para acabar com o caciquismo político que se instalou nas últimas décadas. Sobre o assunto, os partidos não dizem nada e preferem distrair-nos com a redução dos feriados e dias santos…
O que se compreende, pois se reduzíssemos significativamente o número de autarcas e, consequentemente, a administração local, tornar-se-ia obrigatório reduzir a administração central…
Apesar dos avisos da TROIKA, continuamos a fazer de conta! O melhor é preparar-mo-nos para o debate sobre a identidade dos desertos interiores.

21.5.11

Um país injusto…



Número de pensões douradas do Estado aumenta 400% na década. (DN, 21 Maio 2011)

Será verdade que, em contrapartida, o número de reformados que recebe a pensão mínima, entre 250 e 500 €, diminuiu 26%? Ou que o número de reformados que recebe uma pensão entre 500 e 750€ só cresceu 8%?

Porque será, então, que muitos portugueses vivem da caridade ou se vêem obrigados a continuar a trabalhar?

Por outro lado, para explicar quem são os portugueses que beneficiam dessas pensões douradas, Jorge Nobre dos Santos, líder da FESAP (Há quantos anos?) declara: «são grupos profissionais que costumam ter salários mais elevados e que mais descontaram.» Mas será mesmo verdade? Não haverá muitos portugueses a receber reformas douradas sem terem feito descontos significativos? Quantos?

O DN bem podia contribuir para esclarecer estes equívocos em vez de dar voz a quem bem sabe que, se as pensões correspondessem aos descontos efectivamente realizados, a Caixa Geral de Aposentações não teria problemas de tesouraria.

O que hoje se está a passar na CGA é que os maiores contribuintes passaram a ser os mais penalizados.

20.5.11

Nulidade…

Espero que os alunos deste país não tenham assistido ao debate Coelho-Sócrates, pois o resultado da argumentação foi nulo. Estes dois candidatos desrespeitaram as regras e, sobretudo, anulando o moderador, evitaram as perguntas que poderiam ajudar a traçar o perfil de cada um.

Do debate, fiquei, todavia, com uma certeza: nenhum destes candidatos está preparado para tirar o país do beco em que se encontra, pois revelaram-se incapazes de dialogar.

No fundo, está aberto o caminho para soluções musculadas, caso não queiramos soçobrar definitivamente… A ditadura é historicamente uma consequência da falta de entendimento entre os homens.

19.5.11

Falsos profetas!

Harold Camping insiste no fim do mundo a 21 de Maio de 2011, às 18 h, deixando perceber que só os cristãos (mesmo que pecadores) gozarão das delícias do fim.

Nos corredores da Comissão Europeia, há, entretanto, quem veja o senhor José Barroso à frente do Fundo Monetário Internacional.

Nas redacções dos jornais, das televisões, das agências de propaganda e  de apostas antecipa-se o regresso de José Sócrates ao poder.

Céptico como sou, decidi tomar algumas precauções: a primeira é que vou ignorar as profecias, sobretudo quando elas colocam no “santo dos santos” – o povo eleito, o povo português.

Apesar da iconografia não ser expressiva, basta, contudo, pensar no sucesso político, artístico e literário do Quinto Império, citando o profeta mais convincente que alguma vez pisou solo luso – o Padre António Vieira, História do Futuro:

Livro Quinto (Tempo, duração e ordem do dito Império)

Questão 1ª – Se o estado consumado do Quinto Império há-de ser antes ou depois do Anticristo? Resp. que antes.

Questão 2ª – Qual dos dois povos se há-de converter primeiro universalmente, para a consumação do dito Império, se o gentílico, se o judaico? Resp. que o gentílico.

Questão 3ª – Quanta seja a duração do dito Império, depois de consumado? Resp. que até o fim do mundo.

(…) Livro VI (Terra em que se há-de fundar o dito Império em quanto temporal, e qual há-de ser a cabeça dele)

Resp. que há-de ser na Europa, em Espanha, em LISBOA.

Como o fim do mundo não chegou no séc. XVII, designadamente em 1666, os portugueses devem estar atentos aos falsos profetas, pois o referido V Império «espiritual e temporal juntamente» É NOSSO por decisão divina… se a fé cristã não nos falecer!

E para quem ande desatento, o melhor é ler MENSAGEM, onde Fernando Pessoa consagra António Vieira como o verdadeiro profeta – o «imperador da língua portuguesa».

( Discurso bolorento para crentes de oportunidade, preguiçosos incuráveis e palhaços de circunstância que não querem ser; apenas querem ter. )