17.4.13

Prece

«Eu queria ser simples naturalmente
sem o propósito de ser simples.
Saberia assim sofrer com mais calma
rir com mais graça.
E saberia amar sem precipitações.
Nas minhas ironias haveria generosidade.
Nas minhas amarguras
haveria conformação e paciência.
(...)
Eu queria ser simples naturalmente
sem saber que existia a simplicidade.
JORGE BARBOSA, Claridade, Janeiro 1947

Não peço nada de extraordinário! Não peço riqueza! Não peço «a perfeição das coisas»! Nem ir além da Taprobana! Nem quero desistir da cousa começada!
 
Peço apenas que me deixem sumir naturalmente...
 
Se estiverem de acordo, prometo não me intrometer em nada que não seja natural!

16.4.13

A Natureza em Manhã Submersa

A natureza, em si, simplesmente não existe neste romance ou, por outras palavras, ela mais não é do que a projeção do estado de espírito do protagonista ( e de certo modo do narrador/autor):
A - «Pelas portas das janelas sem vidros, eu via os campos enrodilhados de fúria, aguentando no dorso a praga de calor. Um olho ingente baixava do céu, fitava os campos, um silêncio rígido vibrava verticalmente como corda retesa.»
B - «Longo tempo uma ave negra pairou sobre nós, unindo-nos com as suas asas compridas
C - «Saí. Um rumor larvar alastrava pelos campos já um pouco desafrontados pelo calor. Um vento largo de céu e de montanha erguia-se do fundo do tempo, curvava com o azul e caía longe, para lá da noite que viria.»
D - « Um sol avermelhado rasava as árvores do jardim, coroava em silêncio a cabeça dos montes. No ar fresco de brisas, as pancadas do tanoeiro subiam para o céu, de grandes braços abertos. Num instante parei frente à janela a olhar tudo isso, banhado de súplica sem esperança.»
Quatro exemplos e em nenhum deles, a natureza tem autonomia ou contraria o EU. Ela, apenas, reflete a revolta, a condição, o desespero, o destino do sujeito, o desejo de que a morte o liberte da prisão materna, da prisão pequeno-burguesa, da prisão do seminário... 
A miséria, a fome, a ignorância, a submissão impõem a António Santos Lopes um caminho sem retorno!  

15.4.13

Manhã Submersa

Leio e releio Manhã Submersa, de Vergílio Ferreira, e só encontro silêncio, solidão, ocultação, noite, medo, pavor, pesadelo, inferno, demónios ( solitário e carnal), censura, crime (pecado), castigo (físico e psicológico), castração, amputação, MORTE.

As estações estão lá, mas anoitecidas, pavorosas, como se fossem pedregulhos prontos a esmagar os Gaudêncios, os Gamas e os Lopes. A natureza é um lugar horrendo (locus horrendus): «O vulto grande das árvores crescia na escuridão, como faces lôbregas que avançassem aos urros para mim. Mas eu corria sempre, tropeçando nos canteiros, tropeçando no meu horror, até que finalmente me atirei para um banco junto a um tanque de águas mortas.»

As árvores, as águas, o silêncio, a noite, as vozes são a expressão da morte lenta de jovens que, no íntimo, apesar de não terem projeto de vida, a única vocação que pressentiam era a do sangue, da seiva, da libertação…

A outra vocação era lhes imposta pela origem humilde, pelo «ódio infeliz de uma fome que não se cumpriu».

Por instantes deixo-me surpreender pela placidez da natureza de maio: «No pequeno jardim do Seminário rescendiam as violetas, os campos em redor estavam verdes de promessa, e no ar cálido, ao escurecer, ecoava brandamente a memória breve do dia. À noite fazia-se a devoção do mês de Maria com flores, luzes e cânticos. Era uma devoção bonita, literária como o Natal e cuja unção nós explorávamos frequentemente nos exercícios de Português.»

Afinal, maio era uma devoção literária!

/MCG

14.4.13

Mil Regos, ontem e hoje



No intervalo, a polémica sobre os direitos! Vamos ver qual será o resultado final…

Pelo menos, o estacionamento deixará de olhar o mar! E tudo, à volta, fica com um ar mais limpo!

Esperemos que a modernização dos equipamentos não esconda qualquer favorecimento e consequente enriquecimento ilícito…

13.4.13

Flores deste Abril







Estas flores foram colhidas hoje. Fruto genuíno deste Abril, elas rivalizam com muitas outras que aqui não registo, mas que guardo no meu álbum.

Deixo-as aqui para todos os que nos últimos anos vêm insistindo no cravo e na rosa, que não compreendem a sua caducidade, e que ignoram que, depois das chuvas, a natureza resplandece em novidade e cor.

E que sem esse esplendor não há futuro!

12.4.13

Património desvalorizado


Ninguém sabe quanto vale o património português na Balança da Europa.
De tempos a tempos, regresso ao Convento de Cristo, em Tomar, e saio de lá com a sensação de que nem tudo é feito para lhe devolver a dignidade que ele merece como monumento representativo da identidade portuguesa.
Portugueses e estrangeiros continuam a deparar-se com a fachada degradada, apesar do restauro que tem sido feito no interior.
Se o problema é de financiamento, parece-me que o melhor seria onerar um pouco mais o preço do bilhete de entrada, reservando essa receita para o restauro e conservação do edifício.
Portugal tem, em muitos casos, um património mais antigo e mais valioso do que outros povos europeus, que continuam  a ver-nos como se fossemos os cafres oriundos da África equatorial.
Para combater o estereótipo, há que apostar na limpeza!

11.4.13

Em Constância a lenda perdura

Depois de no Convento de Cristo terem sido armados novos cavaleiros da Ordem de Cristo, rumámos a Constância. Aos poucos, o sol instalou-se no Horto do Poeta… e eu fui esquecendo que deveria estar a participar num fórum sobre construção de itens de resposta restrita ou a responder às questões que me iam caindo no telemóvel sobre a avaliação externa.
Cheguei mesmo a esquecer a notícia de que a reforma só aos 67 anos de idade!