28.3.18

De regresso...

Colocar os pés no passado, não.
Ninguém quer ser conversado...
Tento, mas, felizmente, o olvido barra esse ímpeto.
Se me arrisco, não sou o que fui, um estranho irreal... com pressa de regressar ao presente.
Lá no passado, só há lugares vazios
cómodos de se lidar
sob a luz que nunca foi minha.
Por ora, estou de regresso...
ao presente.

27.3.18

Sem nada por dizer

Agora, não tenho nada a dizer. A simples hipótese de 'ter' já é temerosa, pois por mais que se tenha, nunca se sabe por quanto tempo... Se a 'ter' se acrescentar 'dizer', então, a audácia torna-se prosápia...
Raros são os que chegam ao limiar do dizer.
O quê? O que ainda não foi dito ou que, em última instância, já foi esquecido. Não fosse o esquecimento e há muito que o mutismo imperaria...
Na maior parte das situações, o 'dizer' nutre-se do esquecimento - sob a forma de amnésia ou de qualquer outra obliteração...
Agora, de nada serve elogiar o 'ser', pois ao não se saber por quanto tempo, ficamos reduzidos a uma existência inquieta... enquanto não partimos, em silêncio, espero - sem nada por dizer.

26.3.18

Nota social

En Chine, les personnes avec une faible "note sociale" ne pourront plus prendre l'avion ou le train. Nota social

Com tanta gente excelente, não se compreende que nos possamos enganar nas contas. Este plural não é majestático, é apenas uma forma de dizer que não temos nada a ver com erros alheios, europeus seguramente...
A Caixa Geral de Depósitos emprestou uns milhares de milhões de euros. Por razões que só eles sabem, nunca mais lhes pôs a vista em cima, embora esses milhares de milhões circulem por aí e por além... Como consequência, para que o Banco, dito público, no sentido de prostituído, não fosse à falência,  os contribuintes veem-se obrigados a pagar o desfalque - o Estado injeta e nós amargamos...
Agora vem o Centeno dizer que os quatro mil milhões não contam...
Começo a pensar que o melhor é criar uma "nota social", tal como fazem os chineses. Se tal acontecesse, já não seria necessário desperdiçar dinheiro na construção de um novo aeroporto...

25.3.18

Lembra-me o típico regateio

Hoje, terá sido domingo! Ventoso... Não sei se com se sem ramos...
O dia não foi muito diferente de outros - classificação de trabalhos de 'ultima hora'. Tomada de consciência de que, para além do plágio - forma antiga de mobilidade social - se tornou mais fácil produzir uma qualquer apreciação, exposição... Esquematicamente, basta produzir ou copiar uma ideia cuja expressão não ultrapasse 30 palavras... e depois uma longa citação plasmada no centro do documento...
                                            e assim sucessivamente

Confesso que, neste domingo, em certo momento, dei comigo a pensar que a noção de 'critério de avaliação' mudou muito nestes últimos 50 anos... Ainda recordo que o 'critério' era um segredo bem guardado pelo professor. Nesse tempo, a ansiedade só se desfazia quando a pauta era afixada, e a decisão era acatada com um sorriso ou, muitas vezes, com uma lágrima que era preciso esconder...
Hoje o critério é público, mas prostituído. Lembra o típico regateio com os feirantes... 

24.3.18

Dil Leyla

No São Jorge, tive oportunidade de ver o documentário Dil Leyla, como expressão de solidariedade com o quase ignorado, por estas bandas, povo curdo.
Dil Leyla, presidente da Câmara da cidade de Cizre, na Turquia, em zona próxima da Síria e do Iraque, retoma, em 2013, a luta do pai, assassinado nos anos 90..., acabando ela própria por ser presa alguns meses após os kurdos terem conseguido eleger 80 deputados para o parlamento turco... (2015)
O que é claro é que, mais uma vez, a voz dos curdos foi silenciada... e continua a ser eliminada como está a acontecer em Afrin, na Síria, pela mão do Turco Erdogan...

Brinquemos à mão morta

MÃO MORTA, MÃO MORTA

(usando a mão de outra pessoa)
Mão morta, mão morta
Filhinhos à porta
Não tem que lhe dar
Dá-lhe com a tranca da porta
Mão morta, mão morta
Vai bater aquela porta 
(e bate na cara da pessoa com a sua própria mão)

Uma lengalenga aproveitada por José Saramago para desenhar a personagem Marcenda: «e olha fascinado a mão paralisada e cega que não sabe aonde ir se a não levarem (...) mãozinha duas vezes esquerda, por estar desse lado e ser canhota, inábil, inerte, mão morta mão morta que não irás bater àquela porta.» José Saramago, O Ano da Morte de Ricardo Reis, ed. Porto editora, pág. 26.

Marcenda, apesar da mão morta, não precisava de bater às portas..., já Lídia, apesar de ter chave, acaba a bater à porta de Ricardo Reis...

23.3.18

Eu compreendo a decisão do parlamento

O parlamento rejeitou hoje projetos de resolução do PCP, CDS-PP e PEV para a criação de um regime de aposentação específico para a carreira dos professores e educadores de infância, sublinhando o desgaste físico e psicológico da profissão. Aposentação de professores

Eu compreendo a decisão do parlamento. Se o desgaste físico e psíquico fosse real, há muito que os partidos teriam deixado de contar com os votos dos professores... 
Eu compreendo a decisão do parlamento. Deixar que os professores pudessem beneficiar de um regime de aposentação específico poderia abrir a porta a jovens professores mais habilitados a lidar com os problemas provocados pela acelerada mudança imposta pelas novas ferramentas colocadas ao serviço da investigação e da produção de conhecimento, e, sobretudo, de partilha global da informação...