3.10.18

De raciocínio murcho

É isso! Falta imaginação, criativa… apesar da outra,  fantástica, grotesca…
De raciocínio murcho, preferimos a imitação. 
Do quê, pouco interessa desde que queimemos o tempo…
Em todo lado, mesmo na variação, se repete o amuo, o arrufo, o boato, o êxito…
Golpeados pela imagem, sobre a falésia, esperamos que a onda suba…

2.10.18

O corpo da CARUMA

Informa a estatística que, desde abril de 2006, já aqui postei 3316 "posts", que são o corpo da CARUMA… Depois desta Caruma, muitas outras surgiram mais briosas e com maior proveito… 
De certo modo, esta CARUMA feneceu quando a mobilidade cedeu o passo ao sedentarismo. Por preguiça ou por saudosismo o blogue continua, permitindo apontamentos despretensiosos, pessoais ou alheios…
Hoje, aproveito para homenagear as Antigas e Novas Andanças do Demónio,  de Jorge de Sena: 

« à beira de água, as praias, de estreitas são apenas uma ligeira caruma do oceano - que as transporta misteriosamente escondidas na limpidez das ondas.»

Na mesma 'andança', assinala uma ideia que me permito trazer aqui, assegurada a devida distância:

«Talvez porque não eram meus, raras vezes, em pequeno, me demorei perante os grandes mapas murais da escola ou do liceu. Poucos desses mapas não falavam. Havia na minha escola, uma caixa vertical, de onde eles emergiam, ficando suspensos depois como de uma forca, e onde podiam mergulhar de novo, para que outros subissem, era um eterno retorno arbitrado pelo desenvolver-se do programa escolar.»

Na minha escola de outrora, não me lembro de nenhuma caixa vertical, mas a ideia da forca e do cadafalso não me é estranha, só que o enforcado era eu se me esquecesse dos afluentes dos rios e das serras, sem esquecer as linhas férreas com estações e apeadeiros… 
No caso do Jorge de Sena, talvez ainda esteja a tempo de verificar se no Liceu Camões há vestígios das caixas verticais… antes que as obras comecem. 
Que Belzebu não atrapalhe! 

1.10.18

Alegremo-nos, irmãos!

Eis aqui a Igreja neopentecostal "Bola de Neve Church" fundada em S. Paulo, em 1999, pelo apóstolo Rina, pastor, surfista, formado em marketing…

Objetivo pastoral: plantar o maior número de igrejas no menor tempo possível.
Para que conste, descobri um desses templos no bairro do Cristo-Rei, bem pertinho do Seminário dos Olivais e da Igreja católica do Cristo-Rei...

A verdade é que me sinto espiritualmente confortado, até porque já falta pouco tempo para a inauguração da "Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias" (Igreja Mórmon), no Parque das Nações, em frente do Mercado de Moscavide...

30.9.18

Não sou traidor

Amanhã, vou trabalhar, como sempre fiz, porque no lugar onde nasci a maioria era analfabeta… Embora, oficialmente, o analfabetismo seja residual, ponderadas as atuais circunstâncias, não vejo qualquer motivo para alterar o meu comportamento.
Não sou traidor, porque nunca aspirei a fazer parte de uma classe… Até porque, no caso presente, não se trata de luta de classes, mas, sim, de radicalização de posições prejudicial a muitos que a abraçam…
No meu caso, o silêncio seria mais cómodo. Prefiro, no entanto, explicar que o meu compromisso sempre foi com os alunos e sempre será.

29.9.18

Da voz, o silvo

Quando se enfurecia, a voz tonitruava, ouvia-se bem longe. Todos o conheciam pela voz assustadora, cheia de promessas de vergastadas… 
Era baixote, atarracado, trabalhava de sol a sol, mas a terra árida não lhe multiplicava o grão nem lhe devolvia as palavras - seguia um plano de que ele não era parte.
Só a vergasta o acalmava. Quando ela desabava sobre a vítima, ninguém mais o ouvia. Só um silvo repercutia…
Porquê? Não sei. Temo, no entanto, que da voz já só me sobre o silvo, mesmo quando ela se enfurecia porque a terra árida seguia um plano de que ela, por culpa própria ou alheia, não fazia parte.
Há dias em que a terra é toda árida!

28.9.18

A lucidez de Laborinho Lúcio


Quando me falou de olhar o ensino a partir das crianças fiquei com a ideia de que ia falar-me de competências e de vocações...

Sim, há para mim um aspecto fundamental que é este: vivemos perturbados e preocupados com a necessidade de gerar competências, competências, competências. E não nos damos conta de que encharcamos as crianças de tal maneira com competências que nunca chegamos a saber quais são as suas capacidades. Ora a escola tem um período inicial, que pode ser de anos, deve ser de anos, em que fundamentalmente o importante deve ser soltar as capacidades máximas de cada criança. E agora que eu conheço a capacidade máxima de cada criança, então sim, introduzo as competências. Como é que vou saber as suas capacidades? Distinguindo competência do conhecimento. Conhecimento, até há pouco tempo, estava ligado a uma certa universalidade do saber. Hoje, o conhecimento está muito ligado à sociedade de inovação, à criação de valor, portanto, muito comprometido com uma sociedade tecnológica. Mas o conhecimento mais global, mais universal, é fundamental para desenvolver as capacidades, e quando confundimos conhecimento com competência ou o entalamos dentro desta ideia de sociedade de inovação, entulhamos as crianças com coisas que não lhes dizem nada e deixamos de ser capazes de compreender as suas capacidades. Desenvolver as capacidades de uma criança é um dever que qualquer pessoa ligada à escola e à educação. A seguir vamos trabalhar o conhecimento, que já permite desenvolver pensamento crítico, escolher. Competências e capacidades
Se Laborinho Lúcio tem razão, isso significa que, ao entrar no ensino secundário, cada aluno já deverá ter consciência das suas capacidades… isto é, cada aluno levará consigo um registo das suas capacidades, competindo ao professor colocá-lo em situação de… Fazer o quê?

25.9.18

Mediador

Hoje, 25 set., iniciei o dia com uma ideia que fez o favor de se evaporar. 
Atravessei a cidade segundo um plano subterrâneo inexplicável para quem a percorre quotidianamente à superfície, mas perfeitamente aceitável para quem se habituou a viajar de metro…
Hesitei em saudar Mário de Carvalho por ter chegado aos 74 anos. Afinal, há certos gestos que o Facebook insiste que realizemos, independentemente da distância a que vivemos.
Descobri que Fernando Pessoa escolheu o dia de 1 de abril para anunciar que «o poeta é um fingidor.» Admirável sentido de humor!
Conclui que 'ao espalhar por toda a parte' a memória 'daqueles que por obras valerosas / Se vão  da lei da Morte libertando', Camões assumiu definitivamente o papel de mediador, sem o qual o mérito teria o mesmo destino que a ideia matinal
E depois, há aquelas Autoridades que ninguém reconhece como tal - Harold Bloom, Eduardo Lourenço…