24.1.21

O Padre Campos


O padre Fernando Campos da Silva, que foi reitor do Seminário de Santarém e vários anos vigário-geral da Diocese de Santarém, morreu este domingo, 24 de Janeiro, no seu quarto da casa sacerdotal.

Morreu aos 93 anos, vítima de covid-19.

O padre Fernando Campos nasceu na freguesia da Pena, Lisboa, no dia 20 de Março de 1929. Foi ordenado sacerdote em 29 de Junho de 1952, para o serviço do Patriarcado de Lisboa, pelo Cardeal Patriarca D. Manuel Gonçalves Cerejeira, após ter frequentado os Seminários do Patriarcado: Seminário de Santarém, onde entrou com 10 anos, São Paulo de Almada e Cristo Rei dos Olivais.

Se aqui registo o óbito é porque, apesar da distância temporal, foi uma daquelas pessoas que nunca deixou de estar presente na minha memória. 

Dele guardo o modo como soube lidar com a minha dúvida, que, na verdade, nunca me abandonou. Segui o caminho que me preparou, mesmo que, à data, anos 70, eu não tivesse consciência de que a porta que atravessava seria definitiva… 

22.1.21

Piripiri

 

Não podendo estar parado no jardim, fui caminhando sem convicção. Fechados, o parque infantil e a escola adjacente; nem os melros baixavam à cata de gramíneas…
Apenas dois ou três velhos aceleravam o passo, em círculos mal desenhados; as árvores despidas suportavam a hostilidade da ventania - ideia, evidentemente, fantasiosa. 
O que seria das árvores sem os ventos? E de mim?

De súbito, pensei na inutilidade do piripiri que colhera num jindungo. Juntara-o no bolso à chave do carro… 
E ali, no jardim, sobre a luminária, associei o inútil piripiri à inútil chave do que poderia ser a vida…

21.1.21

A literatura é o país dos pobres

Cruzeiro Seixas
A literatura é o país dos pobres. Enquanto a realidade for insuportável, deve competir ao imaginário dos livros conceber essa porta de saída para o ideal social. João de Melo, DN 26 de março de 1989
Agora que a realidade voltou a ser insuportável, qual é o papel da literatura (e da cultura) para escaparmos à crise sanitária, social e económica? 
No entanto, neste país cada vez mais pobre, a atividade cultural é a primeira a ser encerrada e varrida para os bastidores. 
Pensar-se-á que talvez a fruição literária possa suprir essa maldição. Mas como se a educação literária vive há muito acantonada?

19.1.21

A culpa não é do Bicho!

 

Dizem que a culpa é do Bicho, mas não me parece…

Entre as 8 e as 9 horas da manhã, estive a observá-lo de longe, e ele não se mexeu. Creio mesmo que ele não me viu! Ainda pensei que o Bicho fosse uma coruja esquecida naquela varanda, no entanto duvido.

Só não digo que o Bicho está exausto, porque ele não perdeu a altivez que o carateriza, embora esteja certo que ele agradece que não o incomodem…

Pois é! Não incomodar, não criar problemas, não ser irresponsável - a dificuldade maior!

Tenho para mim que todos somos responsáveis, mas só até um certo ponto.

Quando o mau exemplo vem do topo, desatamos todos a imitá-lo. O próprio Bicho já não sabe o que fazer e, então, de cabeça perdida, ataca a torto e a direito, sem olhar a quem..

17.1.21

Máscara para que te quero!

 


Se levo o cão à rua, não preciso de máscara!

Se saio acompanhado, não preciso de máscara!

Se me apetece fumar, não preciso de máscara!

Se decido ir correr, não preciso de máscara!

Se encontro um conhecido, não preciso de máscara!

De bicicleta e cabelo ao vento, não preciso de máscara!

(Sou um ator que deitou fora a máscara, porque no meu palco sou o protagonista!)



16.1.21

Os intocáveis!

As portas vão sendo encerradas, mas nem todas. 
À porta das que ficam abertas, formam-se pequenos grupos mascarados, mas sorridentes. Não se compreende porque estão ali, contentes de si, talvez, e lastimando a desgraça alheia, sempre com o mesmo argumento: não cumpriram e agora pagam.

Naquele sol, gozam a liberdade de desafiar a regra que, com tantas exceções, lhes permite circular permanentemente, pois há sempre uma necessidade premente de ir aqui e ali… e ficar na montra…

Sim, porque o mais importante é a montra que ajuda a fazer prova de vida e de intocabilidade.

Até que o diabo bata à porta… E aí é um ai jesus de que a culpa é dos que nunca cumprem.
 

14.1.21

No tempo morto


Estava a pensar que, quando fosse ao supermercado, poderia comprar um livro para ocupar o tempo morto, mas não é possível. Em alternativa, posso-me empanturrar de carnes e de bebidas mais ou menos espirituosas... que me adormecerão os sentidos e me atrofiarão a mente...

Parece-me uma estratégia acertada, pois, lá pelo meio do confinamento, terei de passar pela mesa de voto, e, nesse dia, comprenderei certamente que a leitura só me teria emperrado o discernimento…

E a propósito de palavras soltas, quero testemunhar, aqui, que, nos últimos meses, entrei por duas vezes numa igreja e não senti que o vento frio tivesse afetado qualquer um dos participantes na cerimónia - respetivamento, um funeral e um casamento…

Fiquei até com a sensação que, se desligarmos o ar condicionado e abrirmos as portas, tudo correrá de feição. 

No entanto, sempre que entro numa igreja, lembro-me dos comediantes que durante séculos se viram impedidos de deixar os ossos em solo sagrado. 

Talvez seja em nome dessa memória que respeitamos o Templo e deixamos que a Cultura definhe...