9.8.21

A mão de Deus

«A riqueza só é condenável enquanto tentação do ócio e do gozo pecaminoso da vida.»
« Com efeito, se o puritano vê em todos os aspetos da vida a mão de Deus, quando se lhe depara uma oportunidade de lucro é porque Deus lá terá as suas razões para isso. O dever do cristão crente é corresponder a essa vontade e tirar proveito da situação.»
Max Weber, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, ed. Presença, pág. 128.

Já é tarde para voltar atrás! Quando nasci, mergulharam-me na pia batismal dos católicos... e todas as portas que fui atravessando desaguavam num Céu casto e repleto de benfeitorias... Ninguém me segredou que noutras regiões, em nome de Deus, se poderia beneficiar de um outro tipo de vocação (Beruf) bem mais terrena e por mais estranho que possa parecer o papel da vontade humana era nulo. Tudo dependia da Graça de Deus.

Deste modo, nem me posso considerar desgraçado. A não ser que se considere a hora e o lugar do nascimento errados. Como esse argumento era insuficiente, mergulhei na dúvida, sem ter percebido que, talvez, tivesse vocação...
Poderia ter seguido, por exemplo, o caminho dos salgados, dos vieiras, dos berardos, dos silvas, dos costas, dos mexias, dos rendeiros, dos sousas e outros que tais que souberam aproveitar as oportunidades, porque Deus lá teria as suas razões...
Em síntese,  Max Weber, apesar de já ser tarde, acaba de me explicar o ar desempoeirado dos capitalistas portugueses...
... não fosse a tentação do ócio e do gozo pecaminoso da vida...

7.8.21

Fim de tarde!

 

Fim de tarde!

Se me aproximo, esconde-se na valeta. Se me afasto, volta à rua, talvez, para observar o pôr-do-sol daquele dia...

Qualquer ruído o assusta. Felizmente, o gato conhece todos os esconderijos do lugar.

E eu, por momentos, invejo-o, tal como ao Sol, para quem nada significo.

Ali parado, esqueço que algo me move, embora finja não saber... ou, se calhar não sei mesmo.

4.8.21

A decrepitude

Vila do Luso
                                                                              

                                                                                                             

                                                                                                                                                                    







A 'villa' existe, a necessitar de restauro...  Associo-a a tempos em que as Termas do Luso acolheriam os novos ricos da época.

Posso estar enganado, mas isso pouco me preocupa. O que me ocupa o espírito é um certo cavalheiro, novo cidadão da periferia, perseguido há mais de 70 anos pela absurda ideia de que deveria ter sido o primogénito e que insiste em comportar-se como morgado, indiferente à sorte do seu sangue...

Nem sequer posso atribuir o comportamento à inevitável decrepitude...  Há ruínas, ao contrário da 'villa,' que não têm recuperação possível.

1.8.21

Flesh and Blood

 

Bussaco
















Na tradução portuguesa (Gradiva), Sangue do Meu Sangue, de Michael Cunningham, um escritor americano da minha geração.

Devorei as 423 páginas em 6 dias! Como leitor, comportei-me um pouco como as personagens... li com o fervor de quem está pronto a subir a escada do impulso sem medir os efeitos...

E neste romance, os desafios e as transgressões espreitam na superfície de cada página...
No entanto, o resultado final não é muito diferente do habitual: o sofrimento acaba por devorar o prazer da carne, embora se entenda a necessidade de adiar a morte que, todavia, está sempre à espreita.
Como leitor, acabei frustrado. Afinal, tanta rebeldia não escancarou as portas do paraíso de que, aliás, raramente se fala, talvez porque o autor pense que, eliinados os preconceitos, tudo será AZUL.

30.7.21

Por quanto tempo?


Bussaco, Cruz Alta
















Por quanto tempo?
O melhor é que não sejamos nós a dar a resposta.
Deixemos a Natureza seguir o seu caminho...
A verdade é que sempre que o homem se instala, a floresta decresce ou, pior, é substituída por espécies vorazes....

28.7.21

Os pés demoram

 

O cimo promete...

como se o caminho

fosse só escada

o degrau inocente 

de cada hora...

no vale

os pés demoram

a acertar o passo...

talvez amanhã


26.7.21

O rabo de fora

"É ainda cedo para a História o apreciar com a devida distância", mas a "importância capital" no 25 de Abril é "inquestionável", considerou Marcelo Rebelo de Sousa sobre a ação política de Otelo Saraiva de Carvalho.

Desta vez, o Governo não decreta luta nacional e o Presidente concorda! O rabo de fora tinha ficado à vista no comentário de Marcelo...
Tanta parcimónia é preocupante!

Como Nietzche escreveu ( Assim falava Zaratustra): «O que me faz pena no passado, é vê-lo entregue sem defesa, ao espírito e à loucura de todas as gerações a vir, que interpretarão tudo o que foi como uma ponte levando até elas. (...)
Mas conheço outro perigo e outra razão de pena: a memória do homem comum ascende até ao seu avô, mas para além desse avô o tempo acaba.»