9.3.22

Argumento safado

 

(A flor e o insecto completam-se!) Infelizmente, a perspetiva humana é bem distinta. 

Numa guerra, como a que a Rússia move contra a Ucrânia, o mais forte procura esmagar o mais fraco com o argumento safado de que o inimigo é a NATO. 

Ora, se tal é verdade, porque é que a Rússia não desafia abertamente a NATO?

Simplesmente, porque a guerra passaria desenrolar-se no território da Federação Russa... alastrando a toda a Europa.

Mesmo assim, andam por aí uns tantos idiotas, desejosos de um extermínio global, convencidos de que escapariam de uma guerra nuclear... 

A este propósito, decidi-me a reler O IDIOTA, de Dostoievski, mas sem grande proveito até ao momento, a não ser que a 'alma russa' vive mergulhada numa artificiosa idolatria.

7.3.22

Reflexo do momento

 

O registo fotográfico não obedece a nenhuma imposição. Foi um reflexo do momento...
No entanto, há sempre alguém que gosta de comentar. Foi o caso de um indivíduo mais ou menos da minha idade que decidiu interpelar-me jocosamente sobre o objetivo do meu ato.
Ouvi e voltei a ouvir a interpelação, só que hoje não me apeteceu responder.
Tenho como princípio não responder a provocações e estou cada vez mais convencido de que essa é a melhor forma de evitar conflitos.

Na guerra, nem a natureza escapa à fúria dos tiranos. E estes nascem facilmente das pedras...

3.3.22

Não se dialoga com o tirano

 

A invasão da Ucrânia pela Rússia é, antes de mais nada, um ato que não pode ser atribuído apenas à loucura de um indivíduo.

Na sua retaguarda movem-se muitos interesses e acorbardam-se muitas populações.

Centrar a atenção no tirano é a forma típica de desresponsabilização a que História já nos habituou, e que acaba em catástrofe.

Por outro lado, dizer, privada ou publicamente, ao tirano que, enquanto o exército invasor se mantiver no território da Ucránia, nenhuma ação militar será levada a cabo para o depor, é uma enorme insensatez.

Não se dialoga com o tirano porque este não tem qualquer respeito pela humanidade. Não se aperta a mão ao tirano. Não se pronuncia o nome do tirano...

24.2.22

O que fazer com 100.000 homens?


Deixá-los à míngua não seria boa ideia.

Só a vertigem os ajuda a compreender o que fazem na fronteira. Não a ultrapassar seria um suicídio. Por isso avançam confiantes da sua razão aniquilidadora - vieram ao mundo para destruir e nada os irá impedir, pensam os 100.000 homens conduzidos à linha da frente, sem perceber que, nas suas costas, já foram descontados...

Do lado de cá, o esplendor das noites mal dormidas, fazendo de conta que os 100.000 homens, um destes dias, regressarão a casa como se nada tivesse sido destruído.
2.
Avisam-me que são 200.000 homens, o número pouco importa... Bom seria saber se são, de facto, homens... prontos a matar outros homens...
3.
Não sei bem se os tais 100.000 homens já se aperceberam que também eles podem ser mortos ou se a vodka lhes destruiu os neurónios, a não ser que as sinapses já sejam descartáveis...
4.
Para além dos 100.000 homens, há outros homens que atravessam a fronteira com o objetivo de reportar a guerra. No entanto, falam sobretudo de si... Porque será?
5.
100.000 homens atravessaram a fronteira, sem saberem para onde se dirigem, mas avançam. Cumprem ordens, pouco lhes interessa o resultado da travessia... Muito os homens gostam de cumprir ordens! Desculpa antiga.
6.
100.000 homens continuam a avançar para Kiev e nós a assistir... A quê? Preferimos contemplar a destruição a agir.

19.2.22

Nestas terras inóspitas

 

Não sei se devo continuar, aqui, nestas terras inóspitas. Esforço-me por não ver nem ouvir, mas sinto que algo vai mal...

Prometeram-me que não invadiriam o meu território, mas vejo-me cercado, numa teia cada vez mais asfixiante...

Se ainda respiro, prevejo que seja por pouco tempo. O meu consolo é que, agora, tudo acontece em ritmo acelerado, ao contrário do que sempre procurei cumprir.

No entanto, quis tudo abarcar, e a pressa de chegar traiu-me. Deveria ter atrasado o passo, ficado suspenso do trinado, ter mandado o mundo às urtigas.

Nada disto faz sentido, é tudo banal, e não me digam que é possível transmutá-lo em qualquer coisa de original.

17.2.22

Miragens

«Não são as coisas que nos fazem mal, mas as tétricas imaginações que nós formamos sobre as coisas.» António Sérgio

«O intelecto é uno. Quem vê com 'miragens' o seu passado, constrói com 'miragens' o seu futuro. Com 'miragens' retóricas navegamos nós - na história, na literatura, na econoia e na política - e não os portugueses do século XV.» António Sérgio

Mesmo que os soldados possam recolher aos quartéis, nada impede os tiranos de iniciar a guerra... Os conflitos do passado nada nos dizem sobre o amanhã da humanidade.
Há sempre quem nos queira anestesiar com as grandezas e as misérias individuais e coletivas, fazendo-nos crer que a História nos terá mostrado o caminho da paz, mas tal, no presente, não passa de miragem / imaginação, nos termos de António Sérgio.

13.2.22

Assobiamos para o lado

 

Na iminência da guerra, surpreende-me que não haja manifestações dos povos contra essa possibilidade. Revoltamo-nos tão facilmente mas, nesta matéria, assobiamos para o lado.
Porquê?
Pensamos, talvez, que tudo não passa de encenação. O problema é que qualquer encenação convém às principais nações beligerantes, e provalvelmente não estamos a ver quais elas são, supondo que tudo se resume ao território ucraniano.
O conflito é entre a Federação Russa, com o apoio da China, e a NATO, totalmente subordinada aos Estados Unidos.
É bom não descurar que se esta vontade de redesenhar os espaços vitais avançar, a União Europeia acabará desfeita e ocupada.