Um olhar despreconceituado… ou talvez não. A verdade é tudo o que nós ignoramos.
5.8.10
A pretexto…
A vila de Alvor
Saio da vila de Alvor, do camping da Dourada, com uma frase na cabeça. De manhã cedo, uma agente da autoridade comentava com um almeida: «Quando chego à zona ribeirinha, e olho à direita e à esquerda (registo no relatório de ocorrências de ontem), vejo duas realidades bem contrastivas.» No essencial, esta agente relatou tudo o que eu penso sobre a vila de Alvor.
Entretanto, percebi que a agente faz acompanhar o seu relatório das devidas fotos para que o seu chefe possa, de forma documentada, interpelar quem de direito. E, também, senti uma certa ironia naquela afirmação devidamente corroborada pelo almeida que continuava a varrer o lixo que os ébrios turistas tinham abandonado na via pública…
Finalmente, continuo sem saber quem é que lê os relatórios diários dos milhares de agentes de autoridade e quais os efeitos na melhoria da qualidade de vida das populações…
(Nem só de literatura se faz o discurso!)
4.8.10
O casulo…
Lá dentro, não mora ninguém! A cigarra, com a canícula, libertou-se para nos dar cabo dos ouvidos. Arreliado com o canto, apetece-me exclamar como o Teixeira de Pascoaes: o ruido estridente e monótono da cigarra é literatura. Com as devidas distâncias, pois Pascoaes, no momento em que redigiu o aforismo, pensava num cão: o ladrar é literatura.
3.8.10
Na praia de Alvor… com procurador
Hoje, desci à praia de Alvor. Um areal imenso prenhe de corpos. Lá arranjei um buraco para me esconder de mim mesmo, enquanto lia 4 ou 5 páginas do DN sobre a morte do antigo director, Mário Bettencourt Resendes. Claro está que quando um homem morre só tem qualidades (de facto, eu até gostava da serenidade do comentador!) Percebi que quando o Mário se zangava mudava o registo de língua para Os Açores, o que, a mim, me faz falta – talvez haja por aí um registo ribatejano falho de vogais que simplifica de tal modo a fala que nenhum interlocutor chega a saber o que queremos dizer, os ribatejanos.
Enquanto o calor me obrigava a pensar em atirar-me à água, ia percebendo que, mesmo ao lado, no jornal, morava o meu vizinho, da Portela, procurador da república, que se imagina rainha da Inglaterra. Nunca percebi esta falta de consideração pela (velha) rainha e, consequentemente, pelos seus súbditos que nos cultivam o Algarve! E já é tempo, de 100 anos depois de instaurada a república, deixar de estabelecer analogias com a monarquia, a não ser que o procurador queira ser um monarca…, o que, repentinamente, me faz pensar que o melhor é pôr-me a averiguar por que motivo veio D. João II falecer em Alvor.
De qualquer modo, não consigo compreender porque é que o procurador não bate com a porta, e põe cá fora tudo o que sabe. No meio de tudo isto, parece que a investigação só existe para afastar, de qualquer modo, as acusações feitas a alguém, ou, pelo contrário, para incriminar, custe o que custar, quem lhe sai ao caminho…
( E o maldito calor sufoca-me e atrofia-me a mente!)
/MCG
2.8.10
Lição de uma rola…
1.8.10
Os meus hypomnemata…
Quanto aos hypomnemata, estes são uma memória material das coisas, lidas, ouvidas ou pensadas, e podem servir a via da ascese. Sem qualquer tipo de pretensão, quero crer que estes meus “posts” são, afinal, os hypomnemata dos antigos, se eu persistir na askesis de mim mesmo.
Tudo isto pode parecer inútil se a desorientação se tiver apoderado de nós. Todavia, se fixarmos o olhar, o cavalo sabe qual é o caminho…