14.1.13

Assim não vamos lá!

O Partido Socialista está convencido que estão criadas as condições para voltar ao poder. Para o efeito, terá criado grupos de trabalho cujo objetivo será apresentar ideias que, simultaneamente, possam ser alternativa ao desconchavo governativo e, sobretudo, ajudar o país a sair do protectorado em que se afundou.
Ora, quando um desses chefes de missão decide dar uma entrevista a explicar que o serviço nacional de saúde (?) só poderá sobreviver se, de uma vez por todas, se puser termo aos sistemas corporativos de saúde, logo o porta-voz de serviço veio desautorizar o grupo de trabalho que terá proposto a extinção da ADSE.
Este é apenas um mau exemplo do modo como os partidos silenciam aqueles que arriscam   fazer propostas que questionam o conservadorismo vigente.
Se o Partido Socialista quer ser uma verdadeira alternativa de poder, terá que mudar de rumo. Deste modo, mais não será do que o reverso da atual coligação, e sem maioria parlamentar!
Para bem do país, o atual secretário-geral (ou o próximo, se for caso disso) vai necessitar de se rodear de mulheres e de homens que conheçam o país e os seus problemas e que apresentem soluções capazes de nos libertar da canga externa e interna.
Assim não vamos lá! 
 
 

13.1.13

A Casa Secreta

A Casa Secreta de José Eduardo Agualusa é uma narrativa gnoseológica ou, talvez, arqueológica, pois reinventa a Casa Lusófona, numa viagem do Brasil ao Quénia, na companhia de Richard Francis Burton.
O explorador, involuntariamente, surge como guia do Autor pelo simples facto de se ter interessado pela epopeia - OS LUSÍADAS.
A Casa Lusófona enraíza-se, assim, na « E da casa marítima secreta / lhe estava o Deus nocturno a porta abrindo / Quando as infidas gentes se chegaram / Às naus, que pouco havia que ancoraram.» Canto II, est. 1
A leitura atenta da narrativa dá conta do modo como a viagem do autor ao Quénia se organiza a partir de Vila da Barra do Rio Grande pelo simples facto de, um dia,  Domingos da Paixão Neto lhe ter devolvido a epopeia que deixara cair ao chão...
Uma narrativa secreta, onde o interdito se torna divisa, a carta se torna mediadora, a espada se torna identidade, e um diário se perde na magia do sagrado... e as referências se vão perdendo... 
 

A lei e a inveja

Um autarca termina o mandato no final de 2013 e já não se pode recandidatar. Como o legislador pressupõe que o eleitor é estúpido, proíbe o autarca de de se candidatar a um 4º mandato no mesmo munícipio.
O autarca, candidato ao desemprego, perante o interdito e não querendo impor-se na casa vizinha, olha para a Lei e descobre que esta o autoriza a pedir a reforma. E é o que faz!
(No caso publicitado,  a autarca reformada, a partir de 1 de fevereiro, deveria cessar funções e evitar expedientes que lhe maculam o carácter...)
Até aqui quase tudo bem! Mas. de imediato, surgem os argumentos "ad hominem" surportados pela atávica inveja.
Se a situação, num momento de empobrecimento colectivo, parece abusiva não é certamente porque o cidadão recorre à Lei, mas porque o Legislador a não revê, impedindo que, no futuro, se mantenham situações de privilégio e de desigualdade.
E vale a pena acrescentar que a maioria dos pedidos de antecipação de reformas resulta do Estado não ser pessoa de bem ou, melhor, de  os governantes não respeitarem a palavra dada, pois persistem no princípio da retroactividade, cortando a torto e a direito, gerando assim um mal-estar colectívo propício ao desenvolvimento do sentimento de inveja e, mais cedo ou mais tarde, a desmandos de todo o tipo.

11.1.13

A mão esquerda de Deus

Há uns dias, referi-me ao "tom seráfico" do secretário moedas, mas reconheço, agora que lhe investiguei o CV, que a escolha do adjetivo foi preconceituosa e precipitada. A não ser que se trate de um daqueles serafins que vive a coberto da mão esquerda de Deus!
Foi a proximidade do secretário moedas com o ministro gaspar que me fez pensar que ele também teria sido doutrinado pelo cardeal policarpo. Nada mais errado!
Na verdade, o homem nasceu na planície alentejana e, à falta de ar condicionado, arranjou forma de ir   trabalhar para o Banco de Investimento Goldman Sachs, na área de fusões e aquisições.
Proponho, em abono da verdade, a seguinte redação: «Num tom mesquinho, veio o secretário moedas explicar o seu apreço pelo relatório FMI - um relatório extenso e, sobretudo, quantificado.» (...)



10.1.13

Inutilia truncat

Corta tudo o que for inútil! - divisa dos árcades do século XVIII.
O Governo está pronto para aplicar o conselho arcádico! Deverá, no entanto, começar por explicar o que considera ser "inútil"...
Desconfio que, para a TROIKA, "inútil" significa tudo o que não dá "lucro", à boa maneira reformista e liberal. E o Governo, como aluno sabujo, está pronto para aplicar a receita. Por isso mais do que refundar o Estado, é necessário começar por cortar no Governo, o mesmo que vai procedendo à nomeação de boys e girls para a Secretaria de Estado da Cultura, e que finge extinguir organismos para, na verdade, criar novas estruturas intermédias para acoitar os serviçais, a peso de euros...


9.1.13

O secretário moedas

Num tom seráfico, veio o secretário moedas explicar o seu apreço pelo relatório FMI - um relatório extenso e, sobretudo, quantificado.
Custa-me a acreditar que o FMI não tenha redigido uma extensa monografia sobre a situação das finanças públicas, sector a sector, propondo simultaneamente intervenções cirúrgicas para cada um deles. Creio mesmo que o FMI, ao olhar para o resultado da avaliação, terá pensado que o melhor seria eliminar uns tantos sectores, de modo a que, finalmente, pudessem ser levadas a cabo as famigeradas reformas estruturais...
E tenho quase a certeza que a monografia do FMI também contém um capítulo confidencial sobre a capacidade dos governantes, primeiro, compreenderem o que são reformas estruturais, e, depois, implementá-las sem cederem aos interesses instalados.
Chegados aqui, os técnicos do FMI terão concluído que o melhor seria elaborar um relatório com umas tantas medidas quantificadas, que, de antemão, sabem que os políticos mandarão aplicar aos sabujos que os acolitam.
O problema do  secretário moedas é que não sabendo ler monografias, encomenda relatórios, de preferência, quantificados e curtos. 
Hoje, o seráfico moedas surgiu melancólico porque o relatório que recebeu às 12 horas era extenso, embora visivelmente satisfeito com a precisão dos números... 
Daqui até fevereiro, o governo já tem pouco para fazer! Basta aplicar a receita, mesmo que isso signifique ler apenas a conclusão do relatório.
O secretário moedas lembra-me aqueles "catedráticos" que nada conhecendo das matérias se sentam diariamente nas cátedras, à espera que os alunos façam de conta que leram a bibliografia e que apresentem uns "papéis" que eles possam aproveitar para publicar em revistas científicas dirigidas por correlegionários da mesma estirpe!

7.1.13

Ubi sunt?


Ubi sunt qui ante nos fuerunt?

O sol parece desiludido. As sombras povoam os dias. O ouro perdeu o fulgor e os ventres começam a inchar de míngua. As palavras magoadas arrastam-se sem eco. O sagrado invadiu as ruas e perdeu-se em beijos promíscuos... Os mendigos e os vagabundos montam, agora, sentinela aos despojos.

(Este Janeiro convida à meditação.)
Por este caminhar, mesmo os mais distraídos acabarão por, infelizmente, compreender os versos elegíacos de Antero de Quental:  Daquela primavera venturosa / Não resta uma flor só, uma só rosa... / Tudo o vento varreu, queimou o gelo!
Só que a responsabilidade não é do "vento" nem  do "gelo" de Janeiro! E também já não o era no tempo de Antero: Outros me causam mais cruel tormento / Que a saudade dos mortos... que eu invejo.../