23.6.13

Uma rara e madura subtileza

Ontem, o Governo reuniu no Mosteiro de Alcobaça para fazer o balanço dos dois últimos anos. Ainda não percebi se houve balanço, mas penso que o objetivo real seria sublinhar o contributo da Ordem de Cister para o incremento da Agricultura. 
A propaganda da ministra Cristas tem, de facto, dado expressão à ideia de que a refundação de Portugal já se está a processar nas bases sólidas e líquidas que tanto agradavam aos cistercienses que se instalaram entre o Coa e o Baça.
Na minha modesta opinião, apesar do atraso do ministro Crato ( explicado pela inépcia da atual cavalaria - Ordem dos hospitalários), o objetivo oculto de ontem era promover a refundação de Portugal e da ginja de Alcobaça.
Infelizmente, os nossos comentadores políticos e facebookianos não entendem que a informalidade do porte governativo esconde uma rara e madura subtileza de pensamento estratégico.
 
Por outro lado, o Governo do Passos Coelho(s) também pode ter querido dar um sinal de inteligência um pouco mais tétrica. A exemplo de D. Pedro I, pode ter decidido simular a sua própria trasladação para Alcobaça.
Afinal, parece que há por lá o petróleo necessário à iluminação do grandioso traslado que não deixará de ocorrer logo que haja novo rei e já agora novos comentadores. 

22.6.13

Da falta de rigor...

«As consequências de uma escolha, de um modo geral, duram mais tempo do que a autoridade que aconselhou a fazê-la..»Zigmunt Bauman, A Vida Fragmentada - Ensaios sobre a Moral Pós-Moderna, 1995.
 
Não sei se é verdade, mas consta que a greve às avaliações irá continuar, pois os sindicatos terão consultado 10.000 professores que se terão pronunciado favoravelmente. Desses 10.000, não sei quantos têm classificações por atribuir e, sobretudo, não sei quantos dos que não foram consultados se apresentarão, 2ª feira, nas escolas, com vontade de concluir o processo avaliativo. Sei, no entanto, que muitos dos que ficaram por ouvir se irão sentir pressionados e defraudados.
Claro que, nestas matérias como noutras, há sempre o argumento de "quem cala consente". Mas será mesmo assim? Será que um dia destes o "feitiço não se irá voltar contra o feiticeiro"?
A cultura popular é, por natureza, ambígua e pouco rigorosa. À sua maneira, também aprecia a estatística!

21.6.13

E se deixássemos de pensar?

Se deixássemos de pensar seríamos inevitavelmente felizes. A teoria é de Pessoa "pensar incomoda..." Os heterónimos pessoanos foram inventados para nos dizer que 'há demasiados argumentos para cada facto' ou que, em Portugal, 'não há pobres', apenas 'alguns necessitados, mas com capacidade de poupança'...
Há mesmo um bispo (das forças armadas) que nos quer convencer que Salazar não diria melhor! Pobre bispo ou talvez não, pois o seu bispado ainda não foi extinto. Pensa o senhor bispo que os governantes se escandalizariam com a comparação, mas engana-se. Eles apreciam o pensamento integralista.
Se deixássemos de pensar, o mundo estaria mais harmonioso: não haveria guerra na Síria, conflitos na Palestina, fome em África, revolta nas avenidas das grandes cidades do Brasil e da Turquia, monções catastróficas na Índia...
...até o vento teria deixado de soprar!
  

20.6.13

Estranho o rigor ou a falta dele

Numa época em que o MEC privilegia a dimensão científica, não deixa de ser estranho que, no Grupo I da Prova de Literatura Portuguesa (1ª fase, 2013), o aluno não seja inquirido sobre o HIBRIDISMO da cantiga de amor de D. Dinis: «Senhor, eu vivo coitada / vida...».
Se eu, avaliador externo, observasse uma aula em que a referida cantiga de amor fosse objeto de trabalho, não deixaria de estar atento à ciência do professor quanto à descrição da poética de Dinis, designadamente à "contaminação" da cantiga de origem provençal pela cantiga de amigo...
Quem se der ao trabalho de ler o "cenário de resposta", verificará que nada é apontado sobre a presença do refrão, da finda, da organização, da métrica... e estou convencido, embora ainda não tenha lido qualquer resposta que os alunos acabarão por ser prejudicados pelo modo como este problema é descurado na abordagem desta composição.
 

19.6.13

«Como de costume»

«Enquanto nada ou ninguém nos impede de fazermos «como de costume», poderemos continuar assim indefinidamente.» Zygmunt Bauman, A Vida Fragmentada

Na Rua dos Actores, Portela LRS, parece haver quem queira contrariar a rotina. Resta saber porquê. E já, agora, conhecer o desenvolvimento que dificilmente trará a felicidade, como nos quiseram convencer todos aqueles que nos inundaram de fórmulas mágicas como a História e a Razão:« a Razão da História, ou a História como obra da Razão, da Razão que chegava a si própria através da História.» Op.cit.

As fórmulas mágicas da modernidade capitularam diante da lei inscrita no sistema competitivo da economia global: maximizar os benefícios económicos.

De acordo com esta lei, o que os filósofos, os historiadores, os professores e os pregadores dizem pouco conta, por mais que estejam convencidos do contrário.

Começo a ficar convencido que este meu vizinho também decidiu mandar às urtigas a ética, rompendo com o «costume», ao estacionar a viatura no meio da rua, dificultando a tarefa aos restantes automobilistas e, sobretudo, bloqueando a saída vá lá saber-se de quem! Mas ele sabe…   

18.6.13

As consequências de uma escolha

«As consequências de uma escolha, de um modo geral, duram mais tempo do que a autoridade que aconselhou a fazê-la..»Zigmunt Bauman, A Vida Fragmentada - Ensaios sobre a Moral Pós-Moderna, 1995.
 
Na vida pública, a autoridade faz, em nosso nome ou por capricho, escolhas que, no momento, parecem auspiciosas, mas que se revelam fatais. Entretanto, o decisor põe-se a milhas e nós ficamos irremediavelmente reféns do nosso deslumbramento inicial.
A assunção da responsabilidade deixa de se colocar, pois, afinal, a autoridade beneficiou da nossa cumplicidade. E como tememos o Caos, delegamos a resolução do problema  em nova autoridade que, não se fazendo rogada, nos cobra os desmandos da autoridade anterior...
E tudo como observava, em 1982, Cornelius Castoriadis: «Os seres humanos não são capazes de reconhecer o Caos, não são capazes de se confrontar de pé com o Abismo.» Isto é, o ser humano prefere a cartilha, a Ordem!
Nos últimos dias, em Portugal, o combate, em nome da designada 'escola pública', fez-se em nome da Ordem, ou melhor, a batalha colocou frente a frente duas ordens de interesses que pecam por não assumir a responsabilidade de escolhas que, com o tempo, se revelaram fatais para as gerações atuais e futuras.  

17.6.13

Prova de Português 12º Ano

Lê-se a Prova 639 / 1ª fase, e fica-se com a ideia de que ela só pode ter sido elaborada por uma mente urbana e caprichosa.
Fernando Pessoa vale 100 pontos! Como diria David Mourão-Ferreira: «Tanto Pessoa já enjoa!» Na verdade, quem melhor do que o heterónimo Ricardo Reis para nos ajudar a vencer a crise! E, sobretudo, parece não restar qualquer dúvida de que o grande tema de Alberto Caeiro seria a Natureza! Pessoa bem tinha avisado, no poema "Autopsicografia", que o leitor tende a cair no vazio e na idiotia.
Será certamente pelo mesmo motivo que António Lobo Antunes diz (Grupo II): «Quem tiver olhos que leia, quem não conseguir ler, desista.»
E de facto utilizar a "crónica" desta autor para elaborar um medíocre questionário de escolha múltipla só pode ser sinal de falta de olhos, de cegueira! Há por aí tantos textos informativos disponíveis para esse exercício!
Já no Estado Novo se aproveitava a epopeia "Os Lusíadas" para testar o conhecimento de Gramática, em particular da Sintaxe, porque isto de explorar o sentido do texto pode ser subversivo...
E quanto ao III Grupo, vai ser muito interessante avaliar o espírito crítico e transformador da sociedade na perspetiva dos jovens que, hoje, realizaram esta prova, quando muitos outros o não puderam fazer!
E como diz o ministro Crato, no dia 2 de Julho haverá mais. Vamos ver se Pessoa continuará a valer 100 pontos ou se os irá partilhar com Camões... A fórmula do GAVE manter-se-á, não tenho dúvida!
/MCG