21.5.14

Notas de um individualista

I - A análise dos resultados globais dos últimos três anos mostra que a taxa de sucesso nos Cursos Científico-Humanísticos, no ano letivo 2012/2013, é ligeiramente inferior à do ano anterior.

Porquê? a) degradação do estatuto social e profissional do professor; b) aumento das desigualdades sociais; c) aposentação abrupta e precoce do corpo docente; d) precariedade do exercício da atividade docente; e) clivagem cultural entre alunos. 

II - Quanto à cultura profissional dos professores, a maioria afirma a sua disponibilidade para trabalhar em grupo, partilhar materiais didáticos, refletir sobre práticas de ensino. Neste domínio, as manifestações esporádicas de individualismo tendem a ser ultrapassadas.

Mostrar disponibilidade não é o mesmo que fazê-lo. Há, no entanto, parcerias ativas. Quanto ao individualismo seria conveniente apurar se ele é efetivamente nocivo como parece decorrer do enunciado...

III - Os professores pensam que há uma cultura de organização centrada no valor da aprendizagem, que a oferta cultural é diversificada, que os pais são estimulados a participar na escola e que os atores educativos se envolvem ativamente nas tomadas de decisão.

Os professores pensam que há uma cultura de organização centrada no valor da aprendizagem! Neste caso, conviria especificar o tipo de aprendizagem e, também, se a prática está à altura da convição. 

IV - As lideranças das estruturas de coordenação educativa e supervisão pedagógica são valorizadas em termos de coordenação, supervisão, articulação, gestão, cooperação e acompanhamento das atividades.

Estas lideranças são valorizadas por quêm? E em que termos? 

V - A nível intradepartamental, o planeamento e a articulação concretizam-se na definição de objetivos de aprendizagem e de critérios de avaliação para a sua monitorização.

A monitorização nas condições atuais é inexequível, tal é quantidade de tarefas atribuídas aos coordenadores de departamento e de grupo disciplinar.

VI - A interdisciplinaridade, entendida como instrumento que permite a captação de uma mundividência particularmente enriquecedora para os jovens, é privilegiada no desenvolvimento de projetos que favoreçam a criação de sinergias duradoiras.

A interdisciplinaridade, strictu sensu, é impossível porque ao Conselho de Turma não são asseguradas condições (horas, ferramentas, espaços) para que possa desenhar qualquer projeto verdadeiramente interdisciplinar.

VII - O investimento feito nas novas tecnologias de informação e comunicação, apesar de certas dificuldades de acesso aos equipamentos que ainda ocorrem, mostra não só a justeza desses investimentos como a necessidade de continuar essa aposta.

O apetrechamento da maioria das salas é folclórico. Um espaço de aprendizagem moderno  exige que todos os alunos tenham acesso a computadores em rede. 


VIII - A cultura existente na aferição dos critérios e dos instrumentos de avaliação, bem como os critérios emanados das estruturas de coordenação e supervisão, aprovados em Conselho Pedagógico, são evidências do trabalho desenvolvido nesta área.

Nos últimos anos, o Conselho Pedagógico perdeu importância, estando reduzido a um órgão de consulta, totalmente subordinado ao Diretor e ao Conselho Geral.  A própria noção de "pedagogia" encontra-se desvirtuada, cedendo o lugar a modelos sociológicos assentes na análise estatística de expetativas e de resultados alcançados em exames nacionais elaborados de forma reducionista.


20.5.14

Uma escola amiga e consensual...

Uma escola consensual é aquela em que ouvidos os diversos corpos, há acordo explícito.
Sintomaticamente, há pleno acordo quanto à falta de conforto das salas, quanto à abertura da instituição ao exterior e quanto ao ensinar (97,2%), estudar (89,1%), trabalhar (100%) e ter filhos a frequentar a Escola Secundária de Camões (94,1%). 
A partir daqui, as diferenças de perspetiva tornam-se significativas... Os alunos revelam uma visão mais assertiva e crítica em relação ao conjunto dos itens em análise. 
No entanto, no que respeita à exigência do ensino, os alunos não divergem significativamente: 75,2% manifestam-se de acordo, acompanhando os trabalhadores não docentes - 81,8%, os pais - 89,6%, e os professores - 86,6%.
Um item cujos resultados dão que pensar: 79,1% dos professores declaram utilizar o computador na sala de aula, no que são confirmados por 75,8 % dos trabalhadores não docentes. Porém, só 27,2% dos alunos declaram utilizá-lo na sala de aula...

Este último dado é aquele que é mais preocupante, pois é um indicador do que distingue a escola portuguesa da escola, por exemplo, nórdica ou da escola alemã. 

19.5.14

O inquiridor

Ao longo do tempo fui guardando informação, de tanta que ela é, já não sei o que lhe fazer. São resmas de notas, páginas amarelecidas pelo tempo, disquetes, pens, discos internos e externos... 
Tudo à mão, mas longe do cérebro!

O inquiridor é manhoso. Nunca diz ao que vem! Sabe-se que recolhe informação, que tem um guião, que aponta o dedo e espera apanhar o réu em falso.
O inquiridor traz o tempo contado, espera clareza, concisão e, sobretudo, aprecia o normativo. Regista, regista tudo e depois filtra, filtra, mas esconde o filtro...
O inquiridor não tem ideias, toma como suas as do chefe do Momento... 
O inquiridor abomina a dúvida!

Não gosto de inquiridores! Falta-me o tempo para lhes responder. 

(Hoje, mergulhei num palheiro e só agora consegui erguer a cabeça, mas por pouco tempo...)

18.5.14

O GTESC apresenta Galileo Galilei

«Os movimentos dos corpos celestes tornaram-se mais nítidos; mas para o povo o movimento dos senhores continua ainda a ser imprevisível. A luta para que o céu se tornasse mensurável foi ganha através da dúvida. Mas a luta da dona de casa pelo leite, todos os dias é perdida através da credulidade.» Bertolt Brecht, A Vida de Galileu, pág.195, Portugália editora, 1970. 

Encenar e representar em contexto escolar A Vida de Galileu, de Bertolt Bretcht, só pode ser um projeto plurianual. A solução encontrada este ano merece ser elogiada, pois foi necessário formar novos atores, mesclando-os com outros que já têm um ritmo de representação mais avançado.
Seria injusto distinguir o desempenho dos atores. Cada um deles conhece o esforço que a representação desta adaptação da peça lhe exigiu. 
Creio, todavia, que este trabalho lhes terá dado a conhecer uma diferente forma de construir e de representar o texto, de tipo não aristotélico (épico)... 
Esta tarde, em palco, vi  no cenário, na projeção de imagens e nas músicas escolhidas, sinais de uma forma de fazer teatro, só autorizada, em Portugal, com o 25 de abril de 1974... 
Obrigado ao GTESC!

Considerando o contexto escolar e os programas, ainda, em vigor, penso que se justificaria uma maior aposta na leitura das obras de Bertolt Bretcht. Essa leitura suportaria facilmente um projeto interdisciplinar, envolvendo disciplinas como a História, a Filosofia, o Português, a Física, as Artes...

17.5.14

A verdade é filha do tempo e não da autoridade.


Biografia de Bertolt Brecht
«A verdade é filha do tempo, e não da autoridade. A nossa ignorância é infinita, tentemos pois reduzi-la de um milímetro cúbico! Para quê fingirmo-nos superiores, se podemos vir a ser um pouco menos burros!»  Galileu, in Vida de Galileu (1938/39...), pág. 72, trad. de Yvette Centeno, Portugália editora, 1970.

Numa época em que tudo é feito para esconder a verdade, em que a palavra é capacho de quem persiste em manter o poder, seja ele qual for, em que já não sobra tempo para ler nem para escrever, creio ser oportuno recomendar "A Vida de Galileu" que, amanhã, subirá ao palco, pelas 16 horas, no Auditório Camões /Esc. Sec. de Camões.
Mesmo que aos poderosos falte o tempo, os alunos do 12º ano terão ali a oportunidade de entender a relação dramatológica entre Sttau Monteiro e Bertolt Brecht.
E se isso acontecer, ficaremos um pouco menos burros!  

16.5.14

A minha escola está bué!

A minha escola está bué... os plátanos e as tílias cresceram bué!
Nos pátios, ouve-se música bué, doira-se ao sol bué...
O bar tem micro-ondas bué e até as pombas são bué...

No auditório, há teatro bué, cinema bué, convidados bué!
Por toda a parte florescem cartazes bué...
Os trinados são bué, lê-se bué, dança-se bué...

Na Biblioteca, as velhas estantes dormem bué...
As salas têm bué de luz, os transparentes quebraram há bué...
as fendas estremecem bué...

(Até as caves suspiram bué!)

Em maio, os professores são menos que bué!
De manhã, os alunos são mais que bué...
De tarde, há silêncio bué
... à noite, as promessas são bué!

Na minha escola, todos ganham menos que bué!

E a culpa é do Anselmo, bué!

15.5.14

Idade, tempo de serviço e descontos para efeito de aposentação


Idade, tempo de serviço e descontos para efeito de aposentação. Por esta ordem!
Seria justo que os três factores fossem, de forma ponderada, tidos em consideração no cálculo. Mas não! Através de sucessivas alterações no âmbito do OGE, o Governo tem vindo a transformar a “ idade” no fator determinante, menorizando o tempo de serviço e a totalidade dos descontos feitos pelo funcionário e pela entidade patronal.
Esta situação vê-se, este ano agravada, com a aplicação da convergência entre a “caixa geral de aposentações” e a “caixa nacional de pensões”. Em rigor, esta convergência deveria considerar a totalidade do tempo de serviço no público e no privado e os inerentes descontos. Mas não é isso que está a acontecer! A convergência só está a servir para penalizar o funcionário público e a agravar as desigualdades entre aposentados  e entre aposentados e reformados.
Tal como a lei está a ser aplicada, o funcionário público, ao aposentar-se, apesar de, eventualmente, ter trabalhado mais anos e ter feito mais descontos, acaba, à data da aposentação, por ser seriamente penalizado, pois outros funcionários que se reformaram,  em anos anteriores – ver os últimos 10 anos – trabalharam menos tempo, descontaram menos e recebem muito mais, apesar dos cortes…
Isto sem falar das reformas de privilégio, isto é, obtidas em tempo record e sem descontos! Ou das aposentações por doença que continuam imunes no seu cálculo à fórmula que tem sido aplicada aos restantes funcionários…
Haja justiça!