22.8.16

'Geringonça' , apontamento político-linguístico

Desde que Paulo Portas batizou o governo como 'geringonça' que procuro a origem do termo. Pela sua sonoridade, encontro-lhe um laivo onomatopaico que me faz pensar na sua antiguidade e, sobretudo, na sua expressividade de raiz popular... Afinal, o aristocrata 'Paulinho das feiras', era sensível à quinquilharia e ao palavrão... 
Por outro lado, pondo a questão de forma cerimoniosa, o termo 'geringonça" pode ser uma adulteração do castelhano 'jerigonza' que, certamente, refletirá o modo como os senhores de Castilha olhavam para as nossas proezas... Sem esquecer, o antepassado provençal 'gergon' que serviria para designar a impossibilidade de compreender o linguajar da época avesso a qualquer norma, senhorial ou conventual...
Andava eu nestas cogitações, quando o olhar me caiu sobre a exemplificação de palavras africanas (Caderno de Atividades / Novo Plural 10): lá estava a 'geringonça' no meio de outros termos mais ou menos suspeitos: «búzio, cachimbo, canga, Congo, cubata, dengoso, embalar, fulo, geringonça, lengalenga, macaco, manha, missanga, pipoca, tanga, tango»
Rogando pragas à erudição, estou pronto a aceitar a última explicação. Foi em África, provavelmente no Roque Santeiro, que o Paulinho descobriu a 'geringonça' e decidiu que era do seu interesse (e do PP e do Estado Português) apostar no governo do José Eduardo dos Santos, mesmo que isso o obrigue a afirmar que a geringonça portuguesa está para durar, ao contrário do 'amigo' Passos... 

21.8.16

Maria Rueff em entrevista ao Diário de Notícias

"As pessoas não são as políticas dos países." DN, 21 de agosto de 2016

Se puder, compre o DN deste domingo, e leia, pois irá ver que não se arrepende. Está lá tudo sobre algumas das pessoas mais genuínas deste país dos últimos 50 anos, a começar pela Maria Rueff...
A entrevista, conduzida por Ana Sousa Dias, deveria ser de leitura obrigatória nas escolas deste país, que persiste em valorizar valores efémeros e fátuos.
Este é um daqueles testemunhos que, até hoje, melhor me explicaram que a 'glória política' pouco tem a ver com o sentir e o viver das pessoas, que, de forma espontânea, choram e riem sempre que alguém lhes fala ao coração...

20.8.16

O IMI não pode ser um privilégio

O IMI deve ser um imposto universal.
Como tal, sou contra qualquer tipo de isenção a quem quer que seja - Fundações, Igrejas, Associações, Estado, Banca, Municípios, Embaixadas, Emigrantes, Estrangeiros...
A exceção abre sempre a porta ao privilégio...

19.8.16

Vão estudar, malandros!

Desta vez, tenho que estar de acordo com o BCE.
Um Governo socialista, apoiado por partidos à sua esquerda, esqueceu-se de colocar 30% de mulheres no topo da CGD. Lembra o atual executivo brasileiro...
Um Governo socialista quer que a CGD seja "governada" por 19 administradores, contrariando a norma europeia.
Um Governo socialista promove a acumulação de interesses privados no banco de que o Estado é o único acionista.
Um Governo socialista nomeia para cargos executivos "rapazes" sem formação adequada e ainda se prepara para lhes pagar as propinas numa instituição sediada em Fontainebleau. Por seu turno, os três rapazes (João Tudela Martins, Paulo Rodrigues da Silva e Pedro Leitão) não se queixam  por serem obrigados a frequentar, em regime post-laboral,  o curso de Gestão Bancária Estratégica do Insead.

Enfim, perante a argumentação de rejeição das decisões do BCE, ainda fico à espera que o senhor Mário Draghi imponha que o secretário de Estado do Tesouro, Ricardo Mourinho Félix, vá frequentar um curso de Administração da Fazenda Pública...

18.8.16

Uma história elementar

Caim, o primogénito, era senhor dos campos que a sua vista conseguia enxergar e neles não havia lugar para os rebanhos do seu irmão, Abel. Este, inicialmente, resignou-se e levou o seu gado para o outro lado do alcance de Caim.
Só que, certo dia, os montes começaram a secar, e Abel viu-se obrigado a procurar novo pasto no fecundo horto de Caim. Os rebanhos de Abel, famintos, devoravam as primícias que iam encontrando pelo caminho...
Um caminho sem regresso, pois Caim, irado, acabou por degolar o infeliz Abel.

Esta é uma história em que o Senhor não pôs nem dispôs. A causa tem que ser procurada nos pais, Adão e Eva, que não souberam educar os filhos. E assim continuamos. De nada serve pensar que Caim, mais tarde, se terá arrependido, e que isso bastaria para que o mundo se tornasse mais solidário. 

17.8.16

O direito à autodeterminação

A colonização é apresentada como "globalmente positiva". Nesse balanço, o destaque é dado às infraestruturas herdadas da colonização, sem esquecer o contributo para a fundação dos novos estados modernos - versão corrigida do que outrora era designado por "missão civilizadora". Por outro lado, a tendência é para desvalorizar a ação repressiva, voltando as costas à ação dos exércitos coloniais e à "selvajaria" dos insurretos.
Na obra Massacres Coloniaux - 1944-1950: la IVè Republique et la mise au pas des colonies françaises, ed. La Découverte, YVES BENOT explica que, entre 1944-1950, " ces répressions ont lieu dans un temps où s'achève une guerre mondiale dont deux des principaux protagonistes, l'Angleterre et les États-Unis, ont défini les termes de la Charte de l'Atlantique (août 1941) qui proclame notamment le principe du droit des peuples à disposé d'eux-mêmes, autrement dit, l'autodétermination". Principe repris dans la Charte des Nations unies dont la France est cofondatrice en 1945. 
Basta olhar para o historial dos massacres perpetrados pelos franceses para perceber que o princípio consagrado na Carta das Nações Unidas foi totalmente desrespeitado:
  • O massacre de Sétif teve início no dia 8 de maio de 1945, fazendo dezenas de milhares de vítimas argelinas ( e apenas 102 vítimas europeias).
  • Os massacres de Rabat-Salé e de Fez, em Marrocos, janeiro-fevereiro de 1944.
  • O massacre de Haiphong, no Vietname, em novembro de 1946.
  • O massacre de Madagascar, em 1947-1948.
  • O massacre de Casablanca, em abril de 1947.
  • O massacre da Costa do Marfim, em janeiro de 1950.

O direito à autodeterminação radica numa linha de pensamento inaugurada por Diderot e pelo abade Rayal, consagrada ainda durante a Segunda Grande Guerra, mas isso não impediu os vencedores de o ignorar. Basta ver como Salazar constrói uma doutrina colonialista que lhe permitiu avançar para a guerra, à margem dos processos de descolonização em curso desde os anos 40...
E hoje, países como a Turquia ou a Rússia continuam a fazer tábua rasa desse princípio, eliminando e anexando...
( Referência inicial: Augusta Conchiglia, Massacres Coloniaux, Nouvel Afrique-Asie, nº 63, Déc. 1994)

16.8.16

Teta Lando, taxeiro

Desvario linguístico:

Identificado como simpatizante da FNLA, Teta Lando foi forçado a procurar refúgio na vizinha República do Zaire. " Logo que cheguei fui convidado para cantar com aquele que é, quanto a mim, o maior artista que África já produziu, Franco Luambo Makiadi*. Só não o fiz porque o salário que me ofereciam era muito pequeno. E como a única coisa que tinha levado comigo era o carro, tornei-me tacheiro." Motorista de táxi na desvairada cidade de Kinshasa. A sua situação espantava e incomodava os angolanos. "Às vezes apareciam clientes angolanos. Teta Lando? Você por aqui, e ainda por cima taxeiro?!" Público Magazine, 8 de janeiro de 1995.